Identidade Étnica – Comunidade Nacional – V José Carlos Englert

Há sessenta e cinco anos o jornal “Deutsches Volksblatt” empenha-se na preservação da identidade étnica alemã. Com sua postura aberta e independente colocou-se sempre em favor dos pleitos dos brasileiros de origem alemã. Mais uma vez se fez merecedor do reconhecimento pela louvável iniciativa do dia vinte e cinco de julho, propondo um concurso de ensaios para esclarecer de vez a nossa situação de brasileiros de origem alemã.

Partindo desta proposta quero, como brasileiro de origem alemã, tentar responder  às perguntas formuladas pelo concurso.

Costuma-se empregar a expressão “brasileiro de origem alemã” ou “brasileiro de raça alemã”. O fato de não poucos acentuarem a primeira parte da palavra teuto-brasileiro, deve-se talvez a uma compreensão errônea da língua. Isso poderia induzir que damos mais importância ao “teuto” do que ao “brasileiro”. Outros ainda poderiam interpretar o acento no “teuto” como declaração de pertencimento à comunidade nacional alemã no sentido nacional  socialista.

As opiniões sobre as questões propostas pelo concurso envolvendo identidade étnica e comunidade nacional, divergem muito. Pode-se falar até em caos. É preciso iluminar esse caos que resultou das opiniões individuais que proliferam sem controle. Na definição do que seja identidade étnica e comunidade nacional encontra-se a chave para a sobrevivência da germanidade no estrangeiro em seu sentido mais amplo.

Os conflitos experimentados  pelos brasileiros de raça e costumes alemães em relação ao sentido desses problemas, não passam de ficção. Desmoronam no momento em que os conceitos forem claramente definidos. Basta um pouco mais de lógica, um pouco mais de amor à pátria  e não se deixar de desnortear com teorias que levam ao fanatismo, para que se esclareça tudo que aparece tão confuso e tão complicado.


Identidade étnica e comunidade nacional
São a mesma coisa?

Obviamente identidade étnica e comunidade nacional não são a mesma coisa. Identidade étnica é um atributo enquanto comunidade nacional é um forma de vida.

Pretendemos tornar a questão mais clara aprofundando a compreensão dos conceitos propostos.

O que se entende por identidade étnica?

Perguntemos, antes de mais nada, se nós brasileiros de raça e costumes  alemães  nos inserimos na identidade étnica alemã. Em caso de reposta afirmativa permitimo-nos mostrar como vivemos a identidade étnica alemã. Nós brasileiros de descendência alemã pertencemos, indubitavelmente, à identidade étnica alemã pois,

1. Somos filhos de pais alemães

Herdamos dos nossos pais a maneira de ser. Neste momento é preciso chamar a atenção que nossos pais ou avós vieram para o Brasil e aqui se fixaram, com o propósito de encontrar uma nova pátria. Só conseguiram sob a condição de uma permanência definitiva. Havia nesta decisão um certo risco para a manutenção da identidade étnica. Aqui está a explicação do fato de que nem todo aquele descende de pais alemães, ainda pode  ser classificado como pertencente à identidade etnia alemã. O sangue é uma herança não perceptível, a identidade étnica não. Por esta razão o sangue não pode ser a característica única e determinante na definição da identidade étnica. O sangue a favorece e se constitui num dos elementos em que ela medra. Podem pertencer à identidade étnica alemã pessoas que, no que se relaciona com o sangue, nao são alemães. Quanto sangue francês não se diluiu na identidade étnica alemã, quando os huguenotes abandonaram a  e se fixaram na Alemanha, depois da revogação do edito de Nantes por Luis XV em 1685. Quem ousaria negar a identidade étnica alemã, aos seus descendentes que adotaram  a língua e os costumes alemães? Quanto sangue eslavo, inteiramente germanizado, não circula hoje na Alemanha? Também  não é legítimo excluir da identidade alemã as antigas famílias judias, há muito inseridas na população alemã. Nós brasileiros de origem alemã estamos inseridos na identidade étnica alemã, porque em nossas veias circula o sangue alemão. Mas não é o suficiente. O que nos falta então para nos podermos incluir na identidade étnca alemã? Falta-nos:

2 A comunidade cultural alemã.

A comunidade cultural lema não é o suficiente. No sentido lato define-se a cultura como sendo as conquistas do homem que complementam as suas aptidões e potencialidades. A cultura pode  ser material e espiritual.

A cultura material consiste na totalidade das conquista do homem, referentes à melhoria e ao bem estar da sua vida animal, como por ex., as conquistas no campo da indústria, da técnica, da agricultura, da mecânica, etc.

A cultura espiritual consiste na totalidade das conquistas do homem relacionadas com a sua vida espiritual como, por ex., a moral, a literatura, a ciência, etc.

A cultura alemã engloba a totalidade das conquistas no plano material e espiritual.

Ao lado do sangue a comunidade cultural alemã constitui-se num pressuposto para a identidade étnica alemã. Não é, porém, propriamente a identidade étnica em si, caso contrario seria necessário ampliar muito mais a compreensão do conceito de identidade étnica.

Todo luso-brasileiro que assimilou o espírito alemão e aprendeu a entende-lo pela literatura alemã, conquistou uma relativa posição  em meio à comunidade cultural alemã. Nem de longe, porém, pode-se afirmar que por isso mesmo faz parte a identidade étnica alemã.

Como veremos exigem-se muito mais pré-requisitos, além dos já citados, requerem-se ainda

3. O uso regular da língua alemã.

Isoladamente também este pressuposto não é suficiente. O uso da língua alemã sinaliza, sem dúvida para a identidade étnica, mas nem todo aquele que domina e se serve regularmente da língua alemã, faz parte da identidade étnica alemã. Parece que o elemento  mais importante  que determina o pertencimento à identidade étnica alemã, são:

4. Os hábitos alemães.

Por meio deles expressa-se o estilo de vida dos alemães. Não há como falar em identidade étnica sem a presença do estilo de vida peculiar, sem o organismo dos costumes e usos, que compõem um estilo de vida integrado.

A cultura assim como a língua isoladamente não define a identidade étnica. Identidade étnica não se confunde  com a comunidade cultural ou a língua, mas com o uso regular desses elementos enraizados na carne de no sangue, oferece a chave para a compreensão do que seja identidade étnica. Identidade étnica vem a ser um estilo de vida, um atributo, que varia de povo para povo, porque cada povo possui a sua cultura, a sua língua e a sua forma de viver próprios.

Identidade étnica alemã significa estilo alemão. Nela participa aquele que  percebe este estilo como sendo o seu.

O que se entende por comunidade nacional?

Mais acima já observamos que o conceito de comunidade nacional é pouco claro, por causa das muitas opiniões individuais e conflitantes.

O nacional socialismo coloca o sangue como fundamento da comunidade nacional. Partindo deste princípio, de um lado muitos alemães foram excluídos da comunidade nacional alemã e de outro lado muitos vivendo em outra comunidade nacional foram incluídos.

Nós brasileiros e origem alemã fazemos parte da segunda categoria, pelo fato de em nossas veias circular sangue alemão. Qual a nossa posição frente a essa proposta? Para nós comunidade nacional, como diz a palavra, nada mais significa do que a comunidade do povo que declara como tendo a mesma pátria. O fundamento da comunidade nacional não é o sangue mas a terra natal e num sentido mais amplo a pátria.

O conceito de pátria engloba
Uma escala de valores composta de
Muitos elementos

O território comum. A grande pátria na qual vivemos formada por diversas regiões, onde vigoram os mesmos direitos e deveres sociais mútuos, que nos vinculam com os demais cidadãos, um governo acima de nós que tem como objetivo zelar pelo bem comum, sobretudo o espírito de comunidade com aspirações e finalidades comuns em seus empreendimentos.

A pátria não é uma ficção mas uma personalidade moral que nos une como uma mãe reúne os filhos. Como cidadãos devemos à pátria o mesmo amor filial que dedicamos à mãe de sangue.

A comunidade nacional significa  para nós o entorno em que vivemos, a pátria, o chão da nossa terra natal. Não se requer nenhuma violência para amá-la com toda a força e dedicação. O nosso amor à pátria é a nossa comunidade nacional . Não reconhecemos nenhuma comunidade nacional que possa ferir o nosso amor sem restrições para com a pátria.

Existe uma contrapartida brasileira
para identidade étnica e comunidade nacional?

Como já foi dito a resposta para esta pergunta depende novamente do conceito que temos de identidade étnica e d comunidade nacional. Na suposição de partirmos do fator sangue não temos como encontrar o correspondente brasileiro para o conceito de identidade étnica e comunidade nacional.

No momento, entretanto, em que tomarmos como base a nossa concepção em relação à questão, excluindo o princípio da raça por não lhe caber o significado determinante, é permitido afirmar: “Sim existe a contrapartida  brasileira para identidade Étnica e comunidade nacional.

Existe uma identidade étnica brasileira, porque existe uma tradição brasileira peculiar, uma maneira de ser brasileira com dinâmica própria.

Mesmo que na língua brasileira não  e encontre termo para designar “Volkstum”, temos contudo a palavra “brasilidade” para significar a identidade étnica brasileira. A “brasilidade” não tomou conta de todo o povo, no mesmo nível e no mesmo nível em todas as camadas da população. Apesar disto está presente. Constitui-se num fenômeno que se faz visível com tal evidência, que a língua cunhou o termo correspondente.

Obviamente a brasilidade é passível de uma evolução futura e de ulteriores desdobramentos pois, o povo brasileiro é muito jovem. Seria um equívoco não respeitar a identidade étnica brasileira porque sob muitos aspectos lhe falta o acabamento. Este fato deve entusiasmar também a nós  brasileiros de origem alemã a colaborar, na medida do possível, na sua concretização. Carregamos na bagagem de nossa identidade étnica alemã um tesouro que de  muitas formas poderá ser proveitoso para a identidade étnica brasileira em formação.

Repetem constantemente e de forma ostensiva, exatamente aqueles que, por causa da nossa identidade étnica, exigem de nós que, como cidadãos brasileiros, contribuamos com o que temos de melhor, para a edificação da nossa pátria. Contribuamos, portanto, para a construção da sua identidade. A instigação qeu cada bom brasileiro aceita com gosto não inclui a renúncia à identidade étnica alemã. Os nossos melhores brasileiros de origem alemã como, por ex., o prefeito da cidade major Alberto Bins, repetem constantemente  em ocasiões adequadas: Não abrimos mão da nossa identidade étnica alemã, porque assim estamos em condições de servir melhor a nossa pátria, o Brasil.


a) Cultura brasileira

Existe evidentemente uma cultura brasileira. Constatam-se inegáveis conquistas no terreno material e espiritual. Existe uma comunidade cultural brasileira, que nos últimos cinqüenta nos se distanciou em muito da influência estrangeira. Por ex., só para mencionar a literatura brasileira.  No gênero romântico formou-se um caráter inteiramente brasileiro. O romantismo voltado para a glorificação do passado histórico da pátria, canta os feitos de seus heróis e das suas grandezas. Como o Brasil não tem um passado de Idade Media,  nossos escritores, entre eles Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Taunay, Graça Aranha, Alencar, cantaram e glorificaram o passado histórico do Brasil, nos primeiros anos apos o descobrimento. Existe também um direito brasileiro explícito. Leia-se a respeito o que Pontes de Miranda escreveu em Comentários à Constituição.

Seria muito oportuno ocuparmo-nos mais com a cultura brasileira afim de penetrar mais profundamente no espírito brasileiro, para, desta maneira, participarmos mais no seu desenvolvimento peculiar.

b) A língua comum.

No Brasil há uma língua comum. Toda e qualquer pessoa aqui nascida tem a obrigação de aprofundar-se  nas suas belezas e particularidades. É lamentável que os estrangeiros, apos uma permanência de três ou mais anos entre nós, não sejam capazes de se fazer entender e afirmam, quem sabe, até com convicção e por lhes faltarem elementos, que não existe identidade étnica brasileira alguma.

c) A maneira brasileira de ser

Existe também uma maneira brasileira de sr. Na verdade apresenta-se muito regionalizada e não desenvolveu  ainda uma unidade. Mas esta se faz cada vez mais visível e forma generalizada. Certamente assumirá, com o tempo, uma configuração mais acabada.

Basta considerar neste momento os quatro elementos no seu todo. A conclusão é óbvia: existe uma identidade étnica brasileira batalhando pela moldagem defintiva do seu perfil.

Evidentemente existe também uma comunidade nacional brasileira pois, como cidadãos brasileiros temos um território comum no qual vivemos, uma pátria comum que nos cabe amar e respeitar. Como brasileiros temos deveres sociais inegáveis para com os nossos concidadãos, embora pertençam a uma outra raça. Ostentamos esses laços com muito mais vigor do que podem imaginar os teóricos da teoria do sangue, que conhecem apenas laços de sangue.

Com certeza existe a comunidade nacional brasileira. Não é a comunidade de sangue mas a comunidade de cidadãos e os filhos da pátria. Essa comunidade nacional é também a nossa, dos brasileiros de origem alemã. Não permitimos que seja falseada. Não a queremos perder deixando-nos ludibriar com teorias novas que não são aplicáveis ao nosso povo e nossa terra.

É possível que alguém pertença d mesma forma e, o mesmo tempo, à identidade étnica alemã e à comunidade nacional alemã e às correspondentes brasileiras?

Esta terceira questão colocada pelo concurso contem a s conclusões das outras. A sua resposta obriga-nos a nós brasileiros de origem alemã, a definir clara e inequivocamente a posição que nos cabe assumir.

Vamos desdobrar as perguntas em duas. A resposta será também válida para a terceira pergunta formulada pelo concurso.

a) É possível que alguém pertença ao mesmo tempo à identidade étnica alemã, à identidade étnica brasileira e à comunidade nacional brasileira, sem prejuízo de nenhuma das duas?

b) É viável que, alguém nascido aqui, pode aceitar os princípios do nacional socialismo sem prejuízo do pertencimento ao Estado Brasileiro? Ou declarar-se adepto da comunidade nacional, nacional socialista?

Para o ºitem a). É, sem dúvida permitido a nós brasileiros de origem alemã, declararmo-nos pertencentes  à identidade étnica alemã, no caso de estarmos em condições de demonstrar que os nossos usos, costumes e a língua alemã, a tal ponto que pratiquemos o estilo alemão e a participação nos valores culturais alemães. É possível pertencermos à identidade étnica alemã, sem prejuízo da nossa identidade étnica brasileira porque, conforme o nosso entendimento, a identidade étnica é uma qualidade que as duas identidades étnicas, a alemã e a brasileira, não se excluem mutuamente.

A nossa tarefa, o nosso objetivo maior como brasileiros de origem alemã, faz com que nos posicionemos a meio caminho entre as duas identidades e num clima de harmonia  equilíbrio, fazer frutificar o que é bom e vantajoso da parte de um e de um e do outro lado.

Esse equilíbrio entre as duas identidades, a alemã e a brasileira, que no decorrer do tempo conquistamos com tanta competência, é muitas vezes interpretado e estigmatizado por aqueles que não nos entendem, como um pendular hesitante entre duas identidades.

A essas pessoas resta-nos dizer: Vocês são os estrangeiros. Cabe a vocês como hóspedes educados aprender a entender o que lhes parece estranho. Permaneçam do jeito que são. Nós não iremos impedi-los. O Brasil é um país hospitaleiro. O Brasil não fará tal coisa. De outro lado vocês não têm o direito de exigir de nós que mudemos de atitude. Ouçam. Isto não lhes é permitido porque não  lhes é permitido, porque implicaria no abuso do direito de hóspedes de que vocês desfrutam entre nós. Anotem ainda: os filhos de vocês que viam a luz no Brasil, país do sol, que crescem aqui na terra  da liberdade, caminharão a mesma estrada que nós trilhamos, vocês querendo ou não querendo. Vocês cometeriam uma injustiça caso não o permitissem. Cometeriam uma injustiça para com os seus filhos, impedindo-os de serem brasileiros no sentido pleno da palavra. De que maneira vocês justificariam perante os seus filhos, no caso de os privarem do sonho de uma terra natal e da âncora segura de uma pátria.

Ao nos julgarem raciocinem: estamos inseridos na comunidade nacional brasileira, nosso entorno existencial. Nesse meio irão situar-se seus filhos a não que queiram que degenerem como apátridas sem cor sem identidade como cidadãos. Mas não se preocupem. A juventude  quer viver  e uma juventude sadia encontra a sua maneira de viver. A juventude brasileira cujos genitores são vocês, encontra a sua maneira de viver na comunidade nacional, à revelia de todas as teorias sobre a comunidade nacional fudamentada no sangue.

Pode alguém nascido aqui aceitar os princípios nacional socialistas sem prejuízo do pertencimento à comunidade nacional socialista? Ou ainda declarar-se como integrante da comunidade nacional alemã nacional socialista?

Não, não pode, porque o nacional socialismo e as teorias nas quais se apóia, colidem com as nossas leis e são frontalmente contrárias a elas.

Há no direito internacional dois princípios de acordo com os quais é regulamentado o pertencimento ao Estado: o princípio do “ius sanguinis” e princípio do “ius soli”, o princípio do sangue o princípio do território. O pertencimento ao estado alemão é regido pelo primeiro e o pertencimento ao estado brasileiro pelo segundo. Aquele, o ius sanguinis, escreveu Josef Kohler na sua introdução à Ciência do Direito, origina-se  imediatamente pelos laços da família da descende alguém que pertence  ao Estado, ou ainda por casamento ou por adoção. Pelo fato de na Alemanha o pertencimento ao Estado independer do local do nascimento (não interessa onde mas de quem é nascido), não há perda dela por parte de quem se encontra no estrangeiro.

Este, o “ius sol”, orienta-se pelo princípio de que adquiriu o pertencimento ao Estado, aquele que nasceu no território ou aquele que se demora nele por mais tempo.

A Constituição Brasileira de 16 de julho de 1934 manteve o mesmo ponto de vista sobre o pertencimento ao Estado, daquela que  antecedeu em 1891. No artigo 106, item a, lê-se: São brasileiros os nascidos no Brasil mesmo que sejam de pais estrangeiros contanto que não estejam a serviço dos seus países.

Neste artigo o “ius soli” está, portanto, claramente expresso e, consequentemente são brasileiros todos que nasceram neste País.

Estes dois princípios, o “ius soli” e o “ius sanguinis” que regulamentam o pertencimento ao Estado, constam desde sempre no direito internacional. Os conflitos que resultaram com a dupla nacionalidade, como por ex., do filho nascido de pais alemães em território brasileiro e, como tal, reconhecido como pertencendo ao Estado Alemão pelo direito alemão e pelo direito brasileiro são brasileiros, foram sempre equacionados pacificamente.

Desde que na Alemanha do Terceiro “Reich”, além dos cidadãos de direito, inclui na comunidade nacional o “povo de cem milhões”, tomou com base única o sangue ou a semelhança do sangue. Nós brasileiros de identidade e costumes alemães, independentemente se nos encontramos na segunda, terceira ou quarta geração, não obstante nossos direitos aqui, no momento em que somos reclamados pelo nacional socialismo, entramos  em franca contradição com os desejos que a Alemanha por acaso alimenta em relação a nós. Façamos a pergunta aos juristas:

Como ficam os princípios nacional socialistas
Em relação às determinações legais do Brasil?

O nacional socialismo fundamenta-se  no sangue e dele deduz a sua concepção de comunidade nacional, coisa que para nós brasileiros de origem alemã não faz sentido. Sendo o nacional socialismo uma questão política, que encontrou a sua expressão mais acabada  na formação do partido operário nacional socialista (NSDAP), Exige a adesão à comunidade nacional, nacional socialista. Esta adesão fundamenta-se no argumento do sangue exige de nós brasileiros de origem alemã mais do que estamos em condições  de oferecer. Pela lógica  exige, sem mais nem menos, o pertencimento ao Estado Alemão.

Mesmo que essas exigências não constem explicitamente nos estatutos do partido, aparecem implícitas na sua formação. O nacional socialismo sustentado pelo partido dominante do Terceiro “Reich”, obriga-se logicamente a exigir dos seus filiados, que pertencem somente à comunidade de sangue e a comunidade étnica, mas também à comunidade nacional. Pergunta-se então se não é correta a afirmação: o nacional socialismo é o partido e o partido é o Estado.

É ou não é verdade que os membros alemães do partido em nosso meio, registram, sem exceção, seus filhos nos consulados alemães, para assim assegurarem o pertencimento ao Estado alemão ao lado do pertencimento ao Estado brasileiro, direito que não podem negar ao recém-nascido? Ninguém põe em dúvida o sagrado direito dos pais, que provavelmente retornarão  à Alemanha com os filhos nascidos aqui. Foi por esse tipo de considerações que em tempos passados, pais previdentes registravam os filhos nos consulados. Constitui-se, porém, uma violação da legislação brasileira (ius soli), quando um partido  nacional político pretende instituir como norma aqui no País, a perpetuação  pelas gerações futuras do pertencimento a um Estado estrangeiro.

Não convence quando se tenta negá-lo como, por ex., com o argumento que o partido não se refere a cidadãos de outros Estados. No momento em que tiver condições de por em prática a sua lógica, o fará. Conhecemos muito bem certos membros do partido que são cidadãos brasileiros. Estes, por sua vez, como cidadãos do Estado Alemão que são, seja pelo fato de sempre o terem sido, ou por terem adquirido esta cidadania, irão assegurar a cidadania alemã para os filhos nascidos  aqui no Brasil, pelo princípio do “ius soli”. Assim manda a lógica.

O nacionalismo alemão fundamenta-se no sangue e o “Reich” alemão é formado por cidadãos de sangue alemão. Por isso, no caso de eu, um indivíduo, de sangue alemão, me declarar adepto da comunidade nacional alemã, como apregoa o nacional socialismo alemão, sou obrigado como homem conseqüente , declarar-me adepto do terceiro “Reich”, como manda coerência com os princípios do nacional socialismo. Isto só é possível na condição de cidadão alemão e não de cidadão brasileiro.

No momento em que como homem de caráter, aceito a cosmovisão nacional socialista, obrigo-me a orientar de acordo com ela a minha vida política e social e colocar-me em sintonia com o princípio da aça e do sangue. Já que tenho sangue alemão, estaria obrigado, caso me decida a orientar   minha vida e minhas ações em harmonia com essa cosmovisão, a aceitar o nacional socialismo alemão e com ele a cidadania alemã. Seria falta de lógica e de hombridade pensar de maneira socialista (ius sanguinis) e na vida civil não agir de acordo, atendo-me ao “ius soli”, permanecendo brasileiro como mandam as nossas leis.

Ou “ius ssanguinis” igual a nacional socialismo alemão e consequentemente pertencimento ao Estado Alemão, ou “ius soli” igual a  cidadania brasileira. Essa formulação em ou, ou decorre necessariamente da supervalorização do princípio do sangue pelo nacional socialismo (ius sanguinis).

Essa postura dos brasileiros de sangue alemão que são e continua fieis à sua pátria, em relação à cidadania, não poucas vezes é interpretado, de um lado, como ausência de uma noção clara e de outro como má vontade para com o Terceiro “Reich”. Como brasileiro  estou impedido de aderir ao nacional socialismo alemão, mesmo que eventualmente possa ser um grande admirador das suas realizações na Alemanha. O nacional socialismo não passa de um assunto político interno da Alemanha e não pode ser transportado para cá sem prejudicar a identidade étnica daqui. Nós brasileiros de origem  e costumes alemães preservamos há mais de cento e dez anos a identidade étnica alemã. Como cidadãos brasileiros permanecemos sempre fieis à honorabilidade alemã. Não estamos dispostos a sermos flagrados como traidores da terras que nos acolheu, por causa da ação e da propaganda político-partidária, no caso em que exemplos como o que segue se tornem comuns.

Um brasileiro de sangue alemão de terceira geração, grande amigo e entusiasta   do movimento nacional socialista na Alemanha, foi convidado a ingressar num grupo local da NDASP, organizado no Brasil. Não se mostrou de todo contrario à proposta. No momento, porém, em que lhe foi posta a exigência de aceitar também a cidadania alemã, rejeitou a proposta como inteiramente despropositada.

Essa conduta irracional de induzir brasileiros a sacrificar a sua cidadania ou ainda assumir mais uma, constitui-se num ato de alta traição para com a terra de hospedagem ou ainda ignorância infantil.

Esse tipo de comportamento, entretanto, está em perfeita sintonia  com a doutrina nacional socialista, que tem como objetivo maior, reunir todos os portadores de sangue alemão numa única nação de “cem milhões”, aliás objetivo de acordo com a lógica.

Nós brasileiros de origem e costumes alemães nos declaramos aberta e livremente adeptos da germanidade, à qual continuamos a construir e a preservar. Na mesma medida declaramo-nos membros da comunidade nacional brasileira. É nosso propósito aprofundarmo-nos cada vez mais no seu espírito e na sua maneira de proceder, para desta forma contribuirmos para o seu progresso.

Estamos imersos na gemanidade. Trata-se da herança dos nossos pais. Não fazemos parte da comunidade nacional no sentido nacional socialista. Nela só forçados entraríamos. Rejeitamos diante mão essas pretensões de incorporação pois, quem diz A dirá B, quem dá o dedo minguinho, oferece a mão.

O nosso sangue não é propriedade da comunidade de uma raça e sim da terra natal, da pátria. E a nossa pátria é e será exclusivamente o Brasil. Nele vivemos, é o  torrão sobre o qual nascemos. A ele pertencem as nossas aspirações, o nosso trabalho, as nossas conquistas, nossos propósitos e as nossas alegrias.

Caso adotarmos essa linha de conduta e seguirmos essas normas estaremos em condições  de sermos bons brasileiros, cidadãos fiéis da nossa terra natal e ao mesmo tempo cultivaremos a nossa germanidade, prestigiaremos, valorizaremos e promoveremos  herança dos nossos pais, no sentido tão bem e tão claramente expresso no verso:

Em memória dos nossos antepassados
Para o nosso ensinamento

Pelo bem da nossa pátria!

Identidade Étnica – Comunidade Naional – IV Paul Stahl

Desde que a história alemã conhece a emigração de elementos  do seu povo, que se estabeleceram em países  estrangeiros como grupos mais ou menos fechados que, com o tempo evoluíram  par formar parcelas  permanentes desses povos, originaram-se problemas profundos e de difícil solução. São problemas que envolvem, de um lado, as “minorias” que vivem entre etnias estranhas e travam uma luta pesada pela preservação da sua identidade étnica e, de outra, a terra-mãe com preocupações pela perda de parcelas preciosos do seu povo. A questão nem sempre se manifesta com a mesma intensidade. São decisivos nesta questão os acontecimentos políticos e os respectivos reflexos sobre a forma como os povos se posicionam  em relação à concepção do mundo. A atualidade alemã passa por uma renovação de idéias e ideais que resultam, de um lado, na preservação da identidade étnica da germanidade no exterior e, do outro lado, no esforço sempre maior de estimular os vínculos mútuos, em meio a uma crescente atividade econômica e cultural.

Este problema não é só alemão mas europeu e já era atual antes da guerra mundial. Hoje tornou-se muito maior ainda devido ao novo traçado de fronteiras entre os estados, determinado pelas potências vencedoras. A reviravolta que sacudiu toda a Europa, resultou, como ponto de partida, num problema étnico que por muitos anos ainda irá por à prova, a habilidade e a experiência dos homens de governo, assim como o bom senso dos homens comuns e a tolerância nacional. É natural que ao desânimo e à fadiga geral como conseqüência da guerra mundial, seguisse um período de passividade política entre os povos. Este fato tornou-se  especialmente notório na Alemanha. Suas forças e energias foram em primeira linha engajados ao máximo, na tarefa de consolidar a sua existência e reconstruir o “Reich”. Nestas circunstâncias colocaram-se como óbvias questões como: germanidade no estrangeiro, identidade étnica alemã no estrangeiro, que tiveram que ceder lugar a questões mais importantes embora aparecessem aqui e acolá com redobrada insistência. Ainda não se faziam presentes os pressupostos necessários para merecerem a conveniente atenção.

A tomada do poder pelo nacional socialismo e a expansão da cosmovisão por ele propagada, fez com que o problema étnico entrasse em novo estágio. A relação da germanidade da terra-mãe (Alemanha) e a germanidade no estrangeiro, tornou-se o ponto focal  de um princípio  político desenvolvido no estrangeiro. O problema assume proporções especialmente marcantes em países com uma importante população de origem alemã, como é o caso do Brasil, de modo especial em seus estados meridionais, escolhidos como foco e cenário de uma redobrada propaganda de política étnica. Quanto mais complicado e quanto mais polêmico se apresenta um problema , com tanto mais veemência são conduzidas as discussões. Reduzem-se em última análise a duas questões em torno das quais giram as considerações: o que é identidade étnica e o que é comunidade nacional?

É inteiramente compreensível que o movimento étnico que na recente história alemã foi levado da terra-mãe pra o estrangeiro, merecesse uma resposta entusiasmada da parte dos alemães do “Reich”, de modo especial daqueles que se encontram no Brasil há pouco tempo. Faz-se notar em toa a parte o despertar do novo espírito envolvendo as relações  étnicas. Teve como conseqüência o desejo de entrar na mais íntima colaboração com a velha terra natal no terreno político, econômico e cultural. Também a germanidade que aqui deitou raízes duradouras e que para nós representa o ponto de referencia decisivo para um movimento étnico entre nós, enfrenta novos desafios. Anima-o o desejo de contribuir, o mais que pode, valendo-se da sua experiência e sua tradição, para a solução do complicado problema étnico.

A diversidade de posições da parte dos alemães do “Reich” e os radicados aqui há mais tempo e que aqui construíram a sua pátria e continuam inseridos na identidade étnica alemã, não é nada surpreendente. Pelo contrario. É muito natural que as posições em relação a este assunto se dividiram e ainda se dividem. Aqueles que se fixaram há mais tempo aqui no País e que participaram da evolução étnico-política, sabem muito bem que um problema étnico, conduzido com excesso de entusiasmo, é de difícil solução, quando imbricado nos objetivos nacionais. Para tanto requer-se, em primeiro lugar, ampla tolerância, em segundo lugar um irrestrito reconhecimento da obra de construção econômica, social e cultural, que a “germanidade nativa”, o teuto-brasileirismo, realizou no decurso de um século. Insensato é aquele julgo poder questionar essa convicção que tem a tradição como fundamento. Sábio é aquele  que é capaz de aproveitar esses dados como base para promover o novo movimento entre os povos, com o objetivo de edificar as identidades étnicas do futuro. Uma comunidade étnica fechada só é possível sobe uma base cultural e somente quando acontece um colaboração que tem como base a compreensão mutua e estrita naquilo que já se realizou no terreno das relações étnicas alemãs.

O que afinal significam os dois conceitos: identidade étnica e comunidade nacional? De qualquer forma devem servir de objeto reflexão para os teuto-brasileiros que declaram adesão à sua identidade étnica. À primeira vista os conceitos parecem homólogos. Numa análise  mais profunda, porém, são contudo diferentes.

O conceito de “identidade étnica” compreende tudo que expressa as características de um povo. Inclui, em primeiro lugar, os caracteres raciais relacionados com a carne e o sangue. Acrescem ainda a língua, os costumes, o espírito e a cultura. Sobre esta base apóia-se a consciência do pertencimento íntimo e mútuo. A identidade étnica herda-se e com ela se nasce. Trata-se, portanto, de um conceito que independe de influências externas. Não tem nada a ver com as fronteiras ou formas jurídicas dos Estados. É possível trocar a nacionalidade, o país em que se vive, sem perder o vinculo com a identidade étnica. Nem as leis de um país, nem as fronteiras geografias são capazes de modificá-la. A Europa com sua população vista como um todo e seus problemas com as minorias, oferece-nos o melhor exemplo.

Velhos estados desaparecem e novos se formam e as fronteiras são remanejadas. Parcelas inteiras de populações  com suas nacionalidades são, espontânea ou compulsoriamente  submetidas a esse processo. A identidade etnia não é afetada pois, não pode ser tirada nem imposta. O parentesco dos povos vinculado existencialmente ao sangue, à tradição  e ao espírito, são mais fortes do que as fronteiras dos países.

Esta verdade vale também para nós teuto-brasileiros com a diferença que nós (e nossos antepassados), nos fixamos aqui em definitivo, por livre e espontânea vontade. Tornamo-nos assim membros da comunidade nacional brasileira, com direitos nacionais e civis iguais. Essa mudança a nível de cidadania não tem propriamente nada a ver com a continuidade da nossa identidade étnica. Nem qualquer outro tipo de influência vinda de fora, pacífica ou ostensivamente hostil, irá modificar alguma coisa. A nossa identidade étnica alicerçada na herança do sangue e da tradição, perdurará o tempo em que nós lhe ficarmos fiéis e não a abandonarmos com a miscigenação do nosso sangue e não relegarmos os nossos costumes e o nosso caráter étnico como tal. Projetando a questão para os séculos vindouros, não dependerá de nós evitar a predominância do luso-brasileirismo e determinar a influência dos demais componentes étnicos em nosso derredor, no fazer-se e configurar-se da nossa identidade étnica. Mas na natureza impõe-se  lei do mais forte. Os povos não são exceção. Também a identidade étnica alemã não será poupada do pagamento do preço em termos étnicos, com a gênese de uma identidade étnica dentro do Estado brasileiro.

Observamos e aprendemos o sentido peculiar e profundo contido no conceito de identidade étnica no grande mosaico étnico brasileiro, composto pelas mais diversas  raças e etnias. Diariamente nos é dado observar quão profundamente o conceito de identidade étnica está ancorado no sangue e nas características étnicas. Esta realidade tornas-e ainda mais evidente em regiões do nosso País onde pequenos grupos de alemães vanguardeiros, por assim dizer, da identidade étnica, vivem em meio a luso-brasileiros e representantes de outras etnias. Sob a influência de um meio com predominância de língua portuguesa, a situação leva a língua alemã a passar para a retaguarda e, lamentavelmente, à sua total erradicação. A entrada de usos e costumes estranhos não passa de uma conseqüência natural. Mas, apesar de tudo é possível identificar entre nossos patrícios alemães  sendo absorvidos gradativamente pelo luso-brasileirismo, certas características étnicas próprias de sua descendência. É a prova de quão duradouras são as características ligadas ao sangue.

E agora  pergunta: O que se entende por comunidade nacional e, em que medida, se relaciona com a identidade étnica? À primeira vista, como já se afirmou, os dois conceitos são idênticos e querem significar a mesma coisa. Uma análise mais tranqüila, porém, ensina-nos outra coisa. Identidade étnica é um conceito que emerge da. Própria natureza do objeto. Não permite uma explicação aleatória e individual. É a expressão de um comportamento étnico, condicionado pela comunidade de sangue, a herança de características de natureza étnica e peculiaridades de caráter. Identidade étnica é, portanto, um assunto de natureza íntima, não externo, que foge até certo ponto, da decisão e da vontade individual. A comunidade étnica, ao contrario, é um conceito que permite a movimentação livre e independente.

O teuto-brasileiro enquadra-se sob o aspecto jurídico-estatal e político-nacional na comunidade brasileira. Apesar disto lhe é facultado assumir uma ou outra comunidade nacional, pro ex., a alemã. Significa, até certo ponto, um estado dentro do estado, possível como expressão livre da sua vontade. Em meio a essas assim chamadas “comunidades nacionais”, permite-se  formação daquelas que visam objetivos e peculiaridades diversas, pro ex., culturais, econômicas ou políticas, como escoadouros das suas concepções e princípios.

Uma prova flagrante do que acabamos de afirmar, encontramos, por ex., em tempos recentes nas atividades do partido nacional socialista do “Reich” no estrangeiro. Embora faça parte da grande comunidade nacional alemão, forma contudo uma comunidade própria, mais estreita, por causa da sua visão do mundo e de seus objetivos e aspirações. É natural e é óbvio que a visão político nacional e a ideologia dos partidários membros filiados  esse partido, não se harmonizam com os objetivos e as idéias da grande comunidade nacional teuto-brasileira. Os dois se encontram no terreno das relações étnicas. Os representantes  da política alemã do “Reich”, empenhados na expansão de uma atividade étnica e cultural, terão a possibilidade de realizá-la, adaptando-se e inserindo-se na grande comunidade nacional brasileira. Podemos observar também comunidades nacionais distintas por razões religiosas e confessionais. Destaquemos as mais importantes: a Igreja Católica e  a Evangélica. Embora se distingam a nível dogmático anima-os o mesmo ideal e as mesmas aspirações éticas e étnico políticas. Apesar do longo desencontro dos pontos de vista, dos conflitos e das polêmicas, a identidade étnica serve de ponto de convergência. Nela encontram-se as suas raízes e somente ela lhes confere a constante força que lhes permite resguardar a sua maneira de ser, na convivência com segmentos étnicos de outra origem.

Não é fácil de formular uma explicação que mereça a aprovação universal entre nós teuto-brasileiros. Dependerá do ponto de vista em que essas questões serão tratadas. Um teuto-brasileiro que não conhece a terra de sua origem e que não teve ocasião de conhecê-la, ao qual a Alemanha se apresenta como um país mais ou menos estranho, terá outra concepção em relação à questão étnica, do que os alemães diretamente imigrados. Esses tiveram a sua educação na Alemanha e pouco a pouco se enraizaram aqui. Como conseqüência  experimentaram uma inserção e uma adaptação relativa às circunstâncias  lingüísticas, econômicas, políticas e sociais do País. Uma divergência de opinião maior ainda se nota evidentemente entre os primeiros alemães e os recentemente imigrados. Os últimos encontram-se inteiramente sob a influência da cosmovisão  nacional socialista. Não vêm motivo porque tomar em consideração o que a germanidade  realizou até hoje no País, em termos econômicos e sociais.

A fim de formar um juízo que valorize plenamente todas as vertentes étnicas que entraram na composição da nação brasileira e para avaliar corretamente a posição que cabe ao teuto-brasileiro neste contexto, requer-se, em primeiro lugar, uma longa permanência no País. Pressupõe-se, em segundo lugar, uma disposição à isenção de julgamento, despida de uma sobrevalorização do étnico. Que não é uma tarefa fácil sabe-o por experiência qualquer imigrante. Quem for incapaz de reaprender sentir-se-á sempre um estranho entre nós. Nem uma nova cosmovisão será capaz de mudar alguma coisa.

Pela nossa avaliação não se pode falar ainda em identidade étnica brasileira que corresponda em pé de igualdade à identidade étnica alemã, igual a ela pelo conceito e pelo conteúdo e que possa se vista como uma unidade étnica coesa, determinada pelo sangue, pela tradição e pelas peculiaridades próprias. O País é jovem demais para tanto e étnica e racialmente muito heterogêneo. Quem sabe consideraríamos como protótipo da identidade étnica o segmento de origem luso-brasileira com suas diferentes mestiçagens. Constitui-se  no componente mais forte que, no processo da evolução, irá exercer a sua influência mais ou menos inexorável, sobre as outras minorias, numa dinâmica de gradativa absorção. É natural que essa incorporação se processará num ritmo muito mais lento em se tratando das minorias, nas quais, nós, os de origem alemã nos incluímos, do que com os parentes de sangue. Não há como falar, portanto, de uma identidade étnica coesa e una ligada ao sangue e à tradição,  como a definimos. Estamos a caminho da sua realização. O processo da gênese de um “melting pot”, de uma miscigenação étnica generalizada, avança lenta e inexoravelmente. Não cabe alimentar ilusões neste particular.

Não faltam ocasiões no quotidiano para observar essa dinâmica. Uma coisa é certa. No momento em que se iniciar o processos da miscigenação racial entre os teuto-brasileiros e os luso-brasileiros, foi dado o primeiro passo para o abandono da identidade étnica alemã. Supor o contrario significaria nadar contra a corrente, atitude que no andar do tempo resultaria numa catástrofe inevitável e insuportável. Quanto mais frear o acréscimo de sangue novo alimentado pelas energias vindas da velha terra natal e do seio da terra-mãe, tanto maior serão as dificuldades para manter e preservar a identidade étnica alemã. Essa  realidade se faz sentir cada dia mais na medida em que a juventude teuto-brasileira se prepara para enfrentar a batalha pela sobrevivência e futuramente representar um papel na vida econômica. Procura para tanto uma educação visível e crescente sintonizada com o espírito brasileiro. Os grupos étnicos teuto-brasileiros, por assim dizer fechados, serão expostos gradativamente a uma evolução econômica, técnica e política comum. Dificilmente poderá haver uma objeção a esse nosso ponto de vista baseado na experiência de anos. Com certeza, há tempo, essa mesma constatação já foi feita por outros grupos interessados na nossa evolução étnico política.

A situação é bem diferente em relação ao conceito brasileiro de comunidade nacional, comparado com o de identidade étnica. O primeiro não está vinculado ao sangue e às características étnicas. Constitui-se numa comunidade que não apresenta como um dado objetivo a sua fundamentação na diversidade dos grupos étnicos do nosso País. Nenhum grupo étnico, nem o teuto-brasileiro, tem o direito de viver à margem desta comunidade nacional, visto que todos sem distinção, encontraram seu espaço para viver, inseridos no todo em virtude do sem comprometimento econômico, político e social, vinculado a um destino comum. As ponderações de natureza étnica lema não mudam nada para aqueles que são naturais aqui ou pretendem sê-lo. Não lhes resta outra saída além de se adaptar e comprometer com os interesses e os da comunidade nacional brasileira. Do contrario permanecerão como  estranhos no País e jamais se sentirão em casa. É verdade que alguém pode assumir como indivíduo essa postura sem prejuízo da sua situação em relação à vinculação com o sangue e a tradição étnico cultural.

Pelo fato de no plano da identidade étnica se excluir  o dualismo, o teto-brasileirismo vincula-se, pela própria natureza,  à identidade étnica alemã que lhe serviu de berço.Como retribuição à fidelidade ela lhe oferece a força vital étnica indispensável como respaldo contra a influência do meio etnicamente diferente. Uma vez iniciado o processo de mestiçagem com elementos de sangue de outras procedências étnicas, de modo especial luso-brasileiras, no decorrer do tempo a identidade étnica será inexoravelmente defrontada com uma decisão de grande significado. Querendo ou não querendo essa decisão resultará sempre em favor do segmento mais numeroso, já que este, em qualquer situação, é e será o mais forte. O caráter étnico como um todo, a economia, a política e o desenvolvimento cultural exibirão a maracá da sua maneira peculiar de ser. Por mais que um ou outro descendente de alemães alimente o desejo de permanecer fiel à sua identidade étnica, será incapaz de, a longo prazo, resistir à influência do segmento luso-brasileiro mais forte. Também a germanidade será obrigada a pagar o seu ributo à evolução e à consolidação da nação brasileira. Nisto consiste a grandeza e ao mesmo tempo o trágico da sua tarefa histórica. A origem deste problema e, ao mesmo tempo, a sua solução encontra-se no fato de tratar-se de uma etnia sem território. Uma única vez na história do mundo o destino entregou à germanidade o grande, o sublime e ao mesmo tempo infeliz papel de, como colonizadora, colaborar  na gênese e na construção do arcabouço de um Estado, com o inevitável  sacrifício da unidade étnica e de suas características.

Da mesma forma como é possível em relação à comunidade nacional, pertencer a uma identidade étnica expressa no sangue e nas características próprias, é possível adotar também uma postura mais independente. Às vezes as circunstâncias forçam a isso. O teuto-brasileiro aqui radicado pertence, por isso mesmo, à comunidade nacional brasileira, via de regra,a  entretanto, insere-se na comunidade étnica alemã. Trata-se, até certo ponto, de uma compensação recíproca entre as condições comuns do País de um lado e a consciência étnica do outro. Este dualismo não tem absolutamente nada a ver com uma consciência  étnica individual. Para tanto temos exatamente hoje as provas mais flagrantes  nas relações  sociais, de modo especial naqueles teuto-brasileiros que ocupam uma posição proeminente  na economia, na política e na cultura. Não há dúvida que sob este aspecto inserem-se, em primeiro lugar, na comunidade nacional brasileira. Não faltam contudo evidências que simultaneamente se consideram membros da comunidade étnica alemã.


Não se poderia esperar outra coisa de pessoas de caráter e conscientes do seu valor. Dignos de pena são aqueles que julgam que, renegando a sua origem e a sua identidade étnica, em troca de vantagens pessoais, preendem ganhar o favor  e o respeito dos seus semelhantes de outras procedências. Não é possível nem conveniente assumir uma postura de parcialidade para com os outros grupos étnicos, motivado pelo pertencimento a uma comunidade de objetivos comuns (comunidade nacional – nota do tradutor). Em nosso caso trata-se de saber até que ponto a questão pode ser  resolvida por meio da colaboração e do comprometimento numa comunidade nacional, sem entrar em conflito com as convicções étnicas. Não existe uma fórmula, nem regras, nem normas para tanto. Requer-se uma grande experiência  em assuntos estrangeiros, uma longa permanência aqui no País, para encontrar o melhor caminho, que faculte a convivência com outros grupos étnicos. Somente por meio deste aprendizado estaremos em condições de adquirir a sensibilidade e a compreensão necessárias com as demais raças e etnias e de nos apropriarmos  de um entendimento correto e sadio dos dois conceitos: identidade étnica e comunidade nacional.