Identidade
étnica – Comunidade nacional
O que se entende por identidade
étnica? O que se entende por comunidade nacional? Significam a mesma coisa?
A comunidade nacional é formada
por todos aqueles que vivem como cidadãos no mesmo Estado. A comunidade nacional
pode ser formada por mais grupos, cada qual fazendo parte de uma outra
identidade étnica. Comunidade nacional implica
num conceito jurídico-político. Identidade étnica implica num conceito
étnico-racial. Os membros de uma comunidade nacional estão ligados entre si
pelas leis do estado e pelos direitos dos cidadãos. Os integrantes de uma
identidade étnica estão comprometidos entre si pelas leis do sangue, peãs
peculiaridades da língua e da raça. Delas emerge a comunidade cultural da raça.
Convém chamar a atenção que o uso
pouco freqüente no dia a dia do termo “comunidade nacional”, escolhido no
presente texto com a finalidade de uma maior clareza, coincide, no linguajar
dos alemães, com o conceito de povo. Assim por ex., um livro ou um jornal alemão
escreve: “Com alegria o povo alemão toma conhecimento”, ou “a maioria do povo
alemão o aprova”, entende-se comunidade nacional de acordo com a nossa maneira
de falar, isto é, a totalidade das pessoas que vivem dentro das fronteiras do
Estado Alemão (da Alemanha), ligadas entre si pelas leis do Estado Alemão.
(outros povos da Europa em vez de povo, empregam o termo nação).
Um exemplo para ilustrar a
diferença entre identidade étnica e comunidade nacional: na Suíça vivem
representantes da identidade étnica alemã, italiana e francesa. Neste plano
eles se distinguem entre si pela língua, pelos costumes e em muitos aspectos
pela sua maneira de ser e de acordo com a qual moldaram a sua cultura.
Paralelamente e em conjunto formara a
comunidade nacional suíça (o povo suíço).
Existe uma identidade étnica
alemã? – Existe uma comunidade nacional alemã? – Existem as correspondentes
brasileiras?
Existe uma comunidade nacional
alemã que reúne o povo alemão política e territorialmente no Estado de direito
do grande “Reich” alemão. Em volta da Alemanha localiza-se, como fonte de
irradiação, um círculo mais amplo de grupos com identidade étnica alemã. Este
círculo estende-se para muito alem dos paises
limítrofes até o mundo distante. Uma grande parcela do povo alemão, movida
pela vontade de migrar, ou coagida a fezê-lo durante séculos, partiu à procura
de novas oportunidades de vida e de novas pátrias.
Este sangue alemão separado do
chão da Alemanha encontra-se, na sua maior parte, espalhado ao redor do mundo.
Para o seu próprio bem e de seus descendentes, integrou-se em outras
comunidades nacionais e em outras federações de estados. Colocou suas energias
e potencialidades a serviço das novas pátrias. Na sua imensa maioria
esforçou-se por conservar as formas de vida e as energias próprias da raça de
origem. Em qualquer parte do mundo onde se trabalha e se festeja no estilo
alemão, onde se fala e se canta, onde se pratica a ginástica e se dança, onde
reina a ordem e a seriedade alemãs, aí mora e vive a identidade étnica alemã.
Em relação à correspondente
brasileira de comunidade nacional a resposta é: a comunidade nacional
brasileira é formada pela totalidade dos cidadãos brasileiros residentes dentro
das fronteiras do Brasil, exatamente como na Alemanha. Aqui como lá significa a
comunidade jurídica dos cidadãos. Conclui-se que no sentido jurídico as duas se
equivalem.
Desta forma é fácil perceber que
as duas comunidades nacionais, que encontram seu paralelismo no plano político,
exibem diferenças como realidades históricas. A comunidade nacional alemã
apresenta um grau acentuado de unidade de sangue, apesar das diferenças de
troncos humanos que a compõem. Especificamente nas regiões em que ocorreram
miscigenações dignas de nota, um espaço relativamente longo de tempo, preparou
o caminho para a homogeneização. A comunidade nacional brasileira, ao
contrario, muito mais jovem, engloba componentes étnicos muito mais
diversificados. A Alemanha foi um pais de emigração e, durante séculos, grandes
massas do seu povo para o vasto mundo.. O Brasil foi um pais de imigração e
traiu, como outros países de imigração, elementos migratórios diversos, vindos
do mundo todo, na condição de força de trabalho, para ocupar seus imensos
espaços e promover o progresso. Sua comunidade nacional cresceu desta forma sob
o aspecto numérico e também em diversidade racial.
Apesa dessa diversidade em
duração, gênese e uniformização do sangue, como já mencionamos acima, a
comunidade nacional brasileira como uma realidade política dada, corresponde
evidentemente em todo à comunidade nacional alemã.
A pergunta pelo correspondente
brasileiro a identidade étnica, por sua vez, não é tão fácil. O pertencimento a
uma comunidade nacional, não passa, em última análise, de uma questão externa e
formal. É passível de criação e de
ampliação por meio de leis. O pertencimento à identidade étnica, porém,
radica na própria natureza do homem. Sua ascendência, seu sangue, insere-o, ou
mais ainda, força a sua inserção na identidade étnica. As ramificações das
raízes que o vincula com sua identidade racial, alastram-se para alem do sangue
que circula em suas veias. Recuam até os sentimentos, a inteligência, a vida e
os sofrimentos, as vitórias e as derrotas, as virtudes e fraquezas dos
antepassados. Seria impossível mata-las de um golpe ou rejeita-las.
Já que a comunidade nacional
alemã moldada a partir de uma relativa unidade de sangue, a unidade étnica
alemã, a comunidade cultural alemã, apresenta também uma unidade e um definição
relativamente grandes. Esta constatação vale para a identidade étnica dentro e
fora do Pais. Cada um dos imigrantes carregou consigo uma parcela da vida
cultural já consolidada e acabada. Cultivaram-na conscientemente e a
preservaram no seu essencial assim como a trouxeram do pais de origem.
Pergunta-se: é possível verificar
também neste particular um paralelo, um correspondente brasileiro?
A essência da identidade étnica
brota de grandes profundezas: do lento fazer-se da sua composição, da paisagem,
do clima, da querência natal, do decurso de sua história, do seu destino.
Feitas essas constatações quero,
antes de mais nada, contrapor um outra pergunta: Existe uma identidade étnica
brasileira que corresponda à alemã com seus traços e sua fisionomia definida? A
resposta é não. Não existe identidade étnica nesses termos. Os obstáculos à
formação de uma identidade étnica nesses termos são: 1. A juventude do povo
brasileiro como tal: 2 A grande diversidade
das paisagens e dos climas encontráveis nos gigantescos territórios
nacionais; 3 As grandes diferenças entre a população que habita esparsamente
esses territórios. Conclui-se sem mais
que essas circunstâncias obstaculizam em
alto grau a gênese um todo cultural, tanto no plano do espírito quanto da vida
em geral. Outros paises grandes de imigração em fase de povoamento, ostentam as
mesmas evidências na sua evolução.
Com o andar do tempo contudo,
esses obstáculos perdem mais e mais a sua eficácia. De outra parte fazem-se presentes fatores e forças que há muito tempo atuam na moldagem da identidade
étnica brasileira. Entre outros povos mais antigos a identidade étnica acha-se
configurada e definida em alto grau. A identidade étnica brasileira encontra-se num estágio jovem de
formação, exibindo traços jovens característicos da dinâmica da sua gênese. A
identidade étnica pode ser comparada ao
grande oceano cujas águas tornaram-se
tranqüilas e transparentes. A
brasileira assemelha-se a uma vigorosa torrente de águas turbulentas,
tumultuadas, faltando uma boa distância a percorrer até o ponto em que começam
a fluir com mais tranqüilidade, tornar-se mais cristalinas e transparentes. Mas
a identidade étnica brasileira está acontecendo. Há vida a atividade, há
crescimento e as coisas estão acontecendo. Também nós que vivemos hoje nos
encontramos envolvidos por essa torrente de acontecimentos.
Até agora foram muitas etnias que
construíram o progresso cultural aqui, cada uma à sua maneira. Coube, porém, a
uma etnia em especial e que por séculos, em meio a pesadas lutas, realizou,
frente a outras correntes, a obra da conquista, da organização e da consolidação. Os homens que
realizaram essa tarefa e combateram nessas batalhas, trouxeram obviamente para
a nova terra a sua língua, as suas concepções de vida, seus costumes, suas
canções, sua cultura econômica e social e todos os demais traços existenciais
peculiares da sua etnia.O rebento do estilo de vida lusitano, da cultura
lusitana, plantado sob os céus dos trópicos, no solo de um país distante, sem
demora deitou raízes e adaptou-se às
novas terras, novos climas, novos horizontes, novas vivencias e assim
desencadeou o começo da história da identidade étnica brasileira.
N decorrer do tempo somaram-se
muitos imigrantes de outras etnias, levando em sua bagagem outras formas de
ser, não poucas vezes assentados em regiões muito distantes. Representaram como
representam ainda hoje um obstáculo na concretização de uma identidade étnica
integrada. Além das fronteiras comuns, uma outra unidade de interesse se fez
presente: a língua como pressuposto principal para o pertencimento a uma
comunidade étnica. Em termos práticos este elo de união é, no Brasil de hoje,
um fato relativo. Contudo já está presente na língua oficial do Estado e das
relações jurídicas e, gradativamente, vai unindo sempre mais as pessoas sob sua
influência, como geradora de uma comunidade cultural.
E não é apenas por sua
importância oficial mas também por seu significado pratico que a língua
tornou-se há muito elemento essencial da
identidade étnica brasileira em formação. Hoje muitos brasileiros costumam
acentuar com ênfase que a língua do Pais é a “brasileira” e
não “portuguesa”. Ela se desenvolveu na
Lusitânia irradiando-se para o Brasil revestida das peculiaridades da terra. A
língua é algo de maravilhoso! Ela brota do coração dos homens e cresce em meio
à luz e às sombras da querência natal. Ela nasce em meio do farfalhar da floresta e das rochas das montanhas, sobre
as quais o homem ergue a sua choupana. No seu peregrinar, porém, lança novos rebentos.
A língua materna acompanha o migrante para alem do oceano, narra com sons
familiares as histórias carregadas de amor. Da mesma forma acompanha-o no dia a
dia de suas labutas, alarga horizontes, estende braços e o enriquece tanto com
os tesouros, quanto com os perigos, que oferecem as plantas, os animais, as
intempéries e a paisagem da nova pátria. Inovadora hábil que é, encontra novas palavras e novas formas na medida em
que os novos espaços, as novas vivencias e percepções a estimulam e a condicionam.
Descobre novas imagens, novas histórias, novas brincadeiras, as quais se vê
obrigada a revestir com a roupagem que o novo ambiente lhe oferece na
singularidade de seus elementos e as cores, de uma forma tão espontânea quanto
natural.
Foi desta forma que pouco a pouco
se fez a língua brasileira. Os imigrantes de outras etnias foram influenciados
de alguma maneira e de forma gradativa, no decorrer do tempo, por esse laço que é o mais vigoroso
da identidade étnica. Quanto mais tempo tanto mais profunda foi a influência e
de uma maneira especial onde a vida quotidiana os colocou em contato com a
comunidade luso-brasileira. Encontraram as formas lingüísticas adequadas para s muitas novidades que a
natureza , o Estado, a economia e a sociedade lhes oferecia. Eles próprios ou a
geração seguinte assimilou essas formas e consequentemente estabeleceu a primeira e a mais importante ponte com a
comunidade cultural brasileira, com a identidade étnica brasileira.
A língua é uma realidade
maravilhosa. Significa infinitamente mais do que um simples código de
comunicação por sons. Aquele que na sua vida quotidiana passa aos poucos a
servir-se exclusivamente de uma outra língua, transforma-se também ele próprio
num outro. Quanto mais alguém se apropria
da língua de outro povo e faz dela o veículo da manifestação da sua vida
interna, tanto mais assimila a natureza daquele povo e se insere na sua
comunidade cultural. A inexorabilidade de tal influência é tão grande que
permite afirmar: o principal critério para avaliar até que ponto avançou o
fazer-se da comunidade cultural brasileira, é a medida em que os cidadãos brasileiros dão preferência ao uso da língua
brasileira como língua de comunicação diária. Hoje essa realidade alcançou um
patamar relativamente elevado. Essa força que esculpi e molda a comunidade cultural, age dia por
dia e o seu efeito é o do esmeril que lapida lentamente as arestas de um
cristal, até adquirir as formas que
permitem que os raios de luz produzam efeitos
harmoniosos.
Vigora a compreensão que os
imigrantes de diversas procedências são,
em última análise, todos imigrantes. Uns chegaram mais cedo outros mais tarde,
todos com a convicção que, no contexto da nova terra, o valor de cada um
particular, depende da sua capacidade de trabalho. E para responder a questão
aqui posta, é de significativa importância a constatação que aqui não se
verificaram certos preconceitos que criaram obstáculos aos paises de imigração,
durante o processo de formação da sua comunidade cultural. As diferentes etnias
deste grande pais movimentaram-se e movimentam-se ainda, mais rapidamente aqui
e menos rapidamente acolá, mas todas de acordo com a sua natureza, na direção
em que fluem as águas do grande caudal, comparação de que me servi mais acima
para simbolizar a dinâmica
etno-histórica, em busca da comunidade cultural brasileira, em busca da
identidade étnica brasileira.
Pergunta-se: é possível que
alguém faça parte da identidade étnica alemã e respectivamente da comunidade
nacional alemã e ao mesmo tempo e da mesma forma às correspondentes brasileiras?
A possibilidade de um
pertencimento simultâneo à comunidade nacional alemã e brasileira é comprovada
por muitos exemplos concretos. A questão é por sua natureza um assunto
jurídico-constitucional e por isso mesmo passível de regulamentação, de acordo
com as circunstâncias do tempo. Em tempos normais o significado prático dessa situação dupla costuma ficar
mais ou menos latente. É possível, porém, que, em situações e em tempos
determinados, essa duplicidade se faça notar com muita força. O duplo pertencimento
pode até resultar vantajoso e cômodo sob este ou aquele ponto de vista, tanto
para a pessoas quanto para as sociedades. Em última análise é anti-natural e
sua regulamentação completa precisa entre os estados é impossível. Em todo o
caso ficará na dependência dos ventos e dos humores políticos. Uma guerra entre
os respectivos paises, por ex., anula de
fato e imediatamente essa situação dupla. N
Na mesma medida em que comunidade
nacional e identidade étnica se
distinguem entre si, assim também a pergunta pela inserção simultânea em duas
identidades étnicas diferentes assume feições diferentes. Os alemães imigrados
no Brasil preservaram e preservam ainda a maneira de ser da sua terra de
origem, pela simples razão de que o abandono de uma hora para a outra desse
patrimônio existencial e profundamente enraizado é impossível, em se tratando
de pessoas normais. Essa situação perdura até hoje em regiões colonizadas por
grupos fechados de alemães. Acontece que os alemães se aperceberam, sem demora
que, em meio a outras, formavam apenas mais uma das vertentes. O grande e agitado caudal envolveu-os e os mantém sob
sua influência. Tomara a tomar consciência das diversidades e avaliá-las , ao
mesmo tempo em que valorizavam e cultivavam a própria maneira de ser. Faz parte
do direito natural que assiste a todos os seres. As plantas o praticam a nível
bio-mecânico e os animais a nível instintivo. O alemão, como qualquer outro
perde, junto com a sua identidade étnica específica, muito da sua
personalidade, de seu estilo de vida e de sua energia realizadora. É este
particular que se encontra a causa da
tragédia que acompanha silenciosamente a todos os imigrantes e a todas as
correntes migratórias. O que foi feito dos visigodos e ostrogodos, dos vândalos
e dos longobardos? Desmantelaram um império mundial e contudo soçobraram nas
profundezas da identidade étnica estranha e nos turbilhões em que se gestaram novas identidades étnicas.
Ainda hoje, todo e qualquer emigrante carrega consigo na bagagem esta sina trágica, também o emigrante que vem
para o Brasil. Todos são forçados para dentro desta trágica contradição. Nem de
longe todos se apercebem do fato, mas todos o vivenciam, o sofrem como se fosse
um destino. Carregam consigo o sangue da querência natal mas deixam para trás o
seu chão. Esforçam-se para, consciente ou instintivamente permanecer fieis ao
sangue, mas não o conseguem com as sucessivas gerações nascidas em outra terra.
A longo prazo num outro chão, plantas e animais
modificam a sua natureza. Também esta é uma lei da natureza frente à
qual a vontade mais autêntica é importante. A história da humanidade nos ensina
que, via de regra, as relações ativas com a aterra de origem, ou
imigrações significativas e contínuas,
são capazes de postergar o processo (colônias gregas na Ásia e no sul da
Itália), mas jamais sustar o se constante avanço.
Basta um olhar para a realidade
da colônia, o segmento mais significativo dos teuto-brasileiros do nosso meio.
Aí a identidade étnica vive e atua. Mas as outras identidades étnicas deixaram,
aqui e acolá, marcas de diversas formas, favorecidas por tais ou quais
circunstâncias. As outras identidades étnicas misturam-se em toda a parte na
vida dos colonos de sangue alemão e deitam raízes em seu meio. A comunidade cultural dos colonos encontra a sua maneira
de expressar-se, ora na forma ou conforme os costumes alemães, ora dos brasileiros. Serve-se ou da língua alemã,
ou da brasileira, ou faz das duas uma mistura. A linha mestra da convivência
das identidades étnicas é a mesma nas vilas e nas cidades.
É desta forma que nós
teuto-brasileiros vivemos em meio a uma mescla de culturas, sem que a grande
maioria de nós se dê conta do fato. Essa mistura apresenta-se de forma muito diversa conforme
as circunstâncias em que ela ocorre nas diferentes regiões e na diversidade das
personalidades. Influenciam o lugar de moradia, a vizinhança, as relações
familiares, as características pessoais, a profissão e os objetivos. O certo é
que todo o teuto-brasileiro a que se pode aplicar essa denominação, carrega de
alguma forma em si, ao mesmo tempo, nas diversas situações, a identidade étnica
alemã e brasileira.
Ao luso-brasileiro instruído e ao
alemão recém imigrado, que olham de fora, esse dualismo pode facilmente parecer
negativo, comparando-o com sua própria cultura e seu estilo de vida pessoa.
Entende-se obviamente. Mas dinâmica
inexorável da história não se preocupa com questões de estética ou de estilo.
Uma vez consumado o core entre o “sangue e o chão”, sempre será uma ruptura com
pesadas conseqüências. Rompe com muitas coisas
e resulta, no julgamento dos representantes de uma etnicidade una, harmoniosa, coesa, em torno de uma
identidade étnica e de uma pátria, numa clivagem para com aqueles perante os
quais o teuto-brasileiro é forçado a aceitar o outro, no momento em que suas
manifestações culturais não e tem mais vez,
no contexto de uma etnicidade
una, harmoniosamente coesa em torno de identidade étnica e de uma pátria. Ele
pode conceber a duplicidade de uma situação como tarefa exeqüível sob certas
condições. Uma tarefa que brotou da história da sua vida ou da história dos
seus antepassados, como conseqüência ou como herança. Ele é de todo
compreensível e inteligível no contexto de uma vida honrada e rica. Mesmo que a
sua posição, não raro, ofereça, de um lado maior vulnerabilidade, do outro,
põem, maior percepção e o julgamento livre para duas dimensões e amplia a
perspectiva em relação ao homem e as coisas.
A pergunta é se o homem é capaz
de pertencer na mesma medida a uma outra
identidade étnica? A logo prazo não. Com o tempo uma das forças
terminará sobrepondo-se. Uma situação em que esta pergunta poderá ficar sem
resposta, é a mesma em que também a dinâmica da evolução de uma história de
vida permanece se resposta. Acontece quando alguém se transfere de uma cultura
para a outra, no momento em que cruza a fronteira e transpõe o divisor da sua
vida. Um período de passagem dessa natureza em casos isolados, vistos por
observador superficial, as relações para cada um dos dois lados aparecem as
mesmas. Quem está em condições de avaliá-lo? Quem o fizer provavelmente nunca
as perceberá como iguais.
Na verdade o que acontece nos
casos de inserção equilibrada em duas identidades étnicas, uma será mais
superficial e a outra mais profundamente enraizada na personalidade dos
indivíduos. Em quase todas as situações o que decide pela vida em fora são as
impressões, as influências e as vivencias da juventude, mais do que as
percepções étnicas. A grande maioria dos teuto-brasileiros procede de famílias
que inseriram os filhos num mundo onde predominavam ainda a língua e os hábitos
alemães, sem tomar em conta a sua herança de sangue. O teuto-brasileiro de que
falamos, ostenta por isso o perfil predominante da vida cultural alemã. Essa
realidade torna-se visível ainda hoje em muitos casos em que muitos casos em
que a língua e a maneira externa de ser, apontam para uma completa absorção por
um outra identidade étnica. Nesses casos, porém, as tendências profundamente
enraizadas no sangue não miscigenado, fazem constantemente valer seus direitos.
Os caminhos da comunidade
nacional brasileira em busca de uma comunidade cultural, em busca da identidade
étnica brasileira integrada, perde-se no horizonte para o observador de hoje. O
espaço de tempo alonga-se para uma época em que o Pais estiver plenamente
ocupado e já não aceitar mais imigrantes. Depois disso será necessário ainda um
longo espaço de tempo durante o qual as
águas do lago em repouso clareiam. E, por quanto tempo a identidade étnica
alemã tem condições de viver aqui, de fazer-se
valer, até miscigenar-se ?. Dependerá do tempo em que continuarem a
existir lares alemães e a desembarcar
imigrantes em nossos portos. A partir do momento em que esses pressupostos não
estiverem mais presentes, provavelmente algumas gerações ainda se passarão, até
que o último teuto-brasileiro baixar à sepultura. Seu papel estará então
cumprido segundo as leis eternas que o Criador colocou na base das suas obras.
Conclusões
O teuto-brasileiro representa um
fenômeno de transição histórica. A humanidade resume-se numa história de
transições. Nós teuto-brasileiros, com a nossa maneira de ser e pensar, fazemos
parte desta história. Somos uma realidade feita história. Há pouco tempo, em
Porto Alegre, um eminente alemão do “Reich” afirmou em certa ocasião: “Não
conheço teuto-brasileiros; ou o respectivo é alemão ou é brasileiros;
teuto-brasileiro é um contra senso”. Temos aqui um exemplo ilustrativo que
comprova a suspeita expressa mais acima que, o teuto-brasileiro em algumas
situações, tem uma visão mais abrangente sobre os homens e as coisas, de modo
especial quando os homens e as coisas se encontram no Brasil.
No uso quotidiano o conceito
“teuto-brasileiro” não está bem definido. Aqui requer-se, porém, uma definição
bem precisa. Em visa das considerações que seguem, a quem eu definiria
“teuto-brasileiro?”. Toda e qualquer pessoa nascida em território brasileiro ou
naturalizado que, consciente e declaradamente, pretende no futuro ter este Pais
como pátria. O segmento decisivo que representará o teuto-brasileirismo e a que
se destina essa pergunta, enquadra-se
nesta definição.
O acento deve cair sobre a
segunda metade do termo
“teuto-brasileiro” pois, a nossa vida concreta como cidadãos desenrola-se neste
cenário. Nele fundamentam-se os direitos e os deveres para com a pátria,
fundamentam-se também as mais profundas vivencias étnicas relacionadas com a
pátria e com a querência natal.
Temos credenciais para, de alto e
bom som nos chamarmos brasileiros. Quem quereria e quem estaria autorizado a
nos negar este titulo? Entre eles incluímos aqueles que, algum dia, sem mínima preocupação, deixaram partir os nossos
antepassados. Incluímos também os que recentemente nos redescobriram. Mas
deixemos as coisas como estão porque a nossa ambigüidade procede de uma
dinâmica compreensível e lógica. Em primeiro lugar trata-se de uma
característica natural de um pais que está sendo colonizado por tantas
vertentes étnicas. Em segundo lugar impõe-se uma declaração intencional de
adesão à nossa maneira de ser. Se o luso-brasileiro se autodenomina assim,
baseado nos mesmos motivos, porque nós iríamos passar em silêncio a nossa
condição de teuto-brasileiros? Para nós acresce a essa altura mais uma razão.
Sob essa denominação assumimos o compromisso de perpetuar uma traição: “em
memória dos nossos antepassados”.
Para aqueles que nos rotulam de
“hífen”, de “traços de união”, temos como reposta que escrevemos as duas
palavras, uma ao lado da outra, sem o “traço de união”, sem o “hífen”. Temos os
mesmos anseios dos nossos antepassados,
isto é, irmanar, íntima e sinceramente,
o amor à pátria e a fidelidade à
nossa maneira de ser alemã. No caso de, apesar disso, continuarem a nos
estigmatizar como “traços de união”, que se dêem o trabalho de circular pelos
lugares onde se trabalha no Brasil (que, aliás, costumam ser pouco conhecidos
por essas pessoas), e tentem avaliar o quanto ser “traço de união” é capaz de
realiza quando apoiado em fundamento alemão. Depois de concluírem um balanço
sem preconceitos, aceitamos sem problemas que nos rotulem com dois “hífens”,
“honoris causa”.
Está na hora de nós teuto
brasileiros avaliarmos e mostrarmos em outras um pouco mais cônscios de nós
mesmos. Temos sido até agora exageradamente discretos, para afirmarmos as duas
dimensões, tanto a alemão como a brasileira. As razões são óbvias. Falta-nos a
orientação e a conscientização. Nos casos em que, entre nós, a versatilidade e
o potencial do espírito foi desestimulada pela formação e pelas nossas
capacidades, evidenciou-se, não raro, um rápido desinteresse da nossa parte.
Sofremos de passividade, o que nos prejudica na vida pública e no
relacionamento social. A média do nosso nível cultural (esperemos que assim
continue ainda por muito tempo), é a do agricultor. Entende-se assim a nossa
discrição e o hábito de ficar na
retaguarda. Nos últimos anos, entretanto, presenciamos, pó ex., da parte de
alemães recém-chegad0s ao Pais, de forma ostensiva a reivindicação em nome da filiação a um partido político do
“Reich” a condução da germanidade. Tentaram fazer valer as suas pretensões, ignorando onde possível,
as nossas associações culturais e cultivo da germanidade aqui. Neste caso
caberia a nós que temos a nossa base
numa comunidade essencialmente rural, contrapor a necessária resistência a
essas tentativas (elas obtiveram em muitos lugares um êxito apreciável e
profundo), com a resposta concreta: “em memória dos nossos antepassados”.
O teuto-brassileirismo não se
posiciona com a suficiente determinação (excetuando as iniciativas não
convenientemente valorizadas de algumas pessoas isoladas). Na maioria dos
casos mostra-se muito passivo e muito
desinteressado em relação aos assuntos que lhe dizem respeito. Com freqüência a
bondade natural e a comodidade representam um obstáculo para assumir o comando
de seus interesses. Este fato deveria
servir-nos de lição e fazer com que tomemos, sem tardar, certas
conclusões para o futuro.
A germanidade daqui formava
antigamente uma grande comunidade de coração aberto e com isso se dava bem.
Também o luso-brasileirismo se posicionava e se posiciona ainda hoje de coração aberto em relação a nós. Foi
pequena a consciência de nossas necessidades e s conseqüências daí decorrentes.
Uma coisa é certa. O valor do
cultivo da nossa identidade étnica encontra-se na sua espontaneidade. A
fidelidade e o empenho que nós, nós que há gerações nos encontramos no Pais,
oferecemos, constitui-se, antes de mais nada, numa dádiva livre. Nós
teuto-brasileiros de origem espontânea e livremente. Sempre será assim! O que
se pode esperar mais de nós? Cultivamos essa maneira de ser como algo óbvio da
nossa identidade, da mesma maneira como os elementos de sangue alemão em outros
países. Entre nós prevaleceu um estilo de relacionamento ao mesmo tempo civilizado
e espontâneo como convém ao estilo do País. Essa comunidde étnica alemã sofre
hoje perturbações sérias. Observamos que uma minoria insignificante de alemães
do “Reich” tenta impor-se neste meio, com pretensões de serem mestres e lideres
a um nível até agora por nós desconhecido. Os alemães orientados por interesses
político partidários, façam o que quiserem no âmbito dos seus círculos. Nós
teuto-brasileiros rejeitamos com muitas e sólidas razões, com toda a veemência, a sua liderança
em nossas associações culturais. Não somos alem~es que se encontram aqui de
passagem. Residimos aque e somos cidadãos deste País. É nestas condições que cultivamos as nossas características
étnicas aqui, neste Pais, livremente, da forma como nós entendemos. Essa
conclusão toca de novo no nervo mais sensível da nossa vida cultural
teuto-brasileira. Completou-se a clivagem da nossa antiga comunidade. Essa
lamentável evolução, profundamente prejudicial ao nossos convívio étnico, está
claramente visível e tornou-se objeto de reflexões entre teuto-brasileiros e
alemães do “Reich”.
Deste contexto emerge o risco de
não poucos de nós, e não os piores, se distanciarem dos círculos em que a nossa
identidade étnica é cultivada e na medida em que a questão se arrasta mais e mais costumam dizer: “Que
diabos! O que me importa tudo isso?. De qualquer forma não resultarão vantagens
para a germanidade”.
Segue mais uma conseqüência. Em
nossas organizações de natureza étnica, nós teuto-brasileiros, na condição de
maioria predominante, teremos cada vez
mas representatividade e ocuparemos a
dianteira. Há muitos anos os alemães do “Reich” vêm prestando os melhores
serviços às sociedades e muitos deles tornaram-se lideres. Foram homens que se
sentiam em casa entre nós. Conheciam a terra, a gente, a nossa maneira de ser e
as nossas necessidades. De uma maneira ou de outra sobressaíam pelo seu valor
pessoal. Exerciam a sua influência de
uma forma por nós conhecida, sem que a percebêssemos como algo estranho. Nunca
nos disseram que nos engajássemos num trabalho conjunto em favor da identidade
étnica. Há pouco tempo houve tentativas de “ensinar”, com tais ou quais métodos
impositivos, coisas totalmente estranhas entre nós, como dotar em nossa
germanidade uma postura afinada com modelos alemães. A iniciativa partiu de
pessoas não credenciadas para tanto, nem pela participação na construção da
nova Alemanha, nem pelas suas realizações no Brasil. O motivo alegado para
exercerem a liderança explicava-se unicamente pela sua filiação a um partido
político alemão.
Trata-se de algo absolutamente
novo em nossa história teuto-brasileira e para nós teuto-brasileiros totalmente
inaceitável. Nesta questão esconde-se uma grande ameaça ao nosso bom e correto
relacionamento com os luso-brasileiros. Os nossos interesses políticos para com
a comunidade nacional são de qualquer forma determinantes. Lideres abandonam
com facilidade o pais que os hospeda no momento em que se torna necessário ou oportuno e deixam e deixam o resto para
nós. A conclusão não deixa dúvidas: teuto-brasileiro trata de assumir melhor a
tua causa! Não abre mão dos alemães do
“Reich” que se mostraram confiáveis e procura mais outros, também nas suas
fileiras. É preciso que sejam homens engajados no compromisso com a germanidade
e não com vida partidária alemã.
Alem disso segue como
conseqüência da nossa posição ambivalente que procuremos concretizar uma
relação política e econômica, melhor
possível, entre os dois países, representados por cada teuto-brasileiro por
força de sua autodenominação. E quanto mais profundas forem as nossas raízes
aqui e quanto mais sólida a nossa cidadania, quanto maior for a nossa
influência na comunidade nacional brasileira, tanto mais condições teremos para
alcançar esse objetivo. Por essa razão explica-se também o nosso desejo que as importantes
organizações para o estrangeiro na Alemanha, mostrem ao ovo alemão, quem e o
que somos nós teuto-brasileiros. Pois em
largos círculos do público alemão fomos, por muito tempo, considerados
apátridas mais ou menos digno de pena.
Mais uma conclusão pode ser
tirada das nossas reflexões. Que da nossa parte façamos que nossos filhos entendam tudo o que é grande e o que é belo
na Alemanha e na sua história, na medida em que isto é possível aqui. De modo
especial cabe-nos tomar como modelo, o enorme
valor que deposita na educação política da sua juventude. Exatamente por
causa da nossa situação ambivalente e por isso mesmo ela pede renovadas
explicações, deveríamos esclarecer em
detalhe à nossa juventude nas escolas, o direito sagrado que assiste a cada
Estado e da pátria em reclamar a inteira dedicação dos seus cidadãos. No Brasil
aconteceu até aqui a mesma coisa. O termo “totalidade” hoje na moda, pode
induzir-nos a dar ênfase um pouco maior para o nosso dever de patriotas.
Mantemo-nos fieis à nossa
identidade étnica e ao mesmo tempo colaboramos na construção da nova. Não há
outra saída. Na prática isso significa ser mais claro pelas determinações
legais do País quer tratam da educação da juventude. É indiscutível que hoje o
povo alemão (de modo especial a juventude) vive um novo ideal étnico, o
“nórdico”. É um fato mesmo que não seja obrigatório por lei. Essa orientação
predominante em largos círculos do povo (especialmente entre a juventude em
formação), assume proporções passionais e ao mesmo tempo resulta numa postura
de contestação e de rejeição dos valores étnicos básicos da vida cultural alemã
do passado, a tal ponto que originou uma
situação peculiar para nós teuto-brasileiros. Pela primeira vez na história
defrontamo-nos com a dúvida sobre a
possibilidade de manter o paralelismo havido até agora, entre os objetivos
étnicos de lá e de cá, caso se prolonguem os acontecimentos na Alemanha .
Assiste à Alemanha o direito de fazer e deixar de fazer o que lhe aprouver no
âmbito das suas fronteiras políticas. Nós da nossa parte estamos inteiramente,
culturalmente e espiritualmente ligados a ela. Os laços que nos unem são
profundos. Os abalos íntimos também nós os sentimos. Acontece que há gerações
que fomos jogados nas costas do País do Sul. As leis que regem as
características físico-geográficas excluem a nossa participação no culto, nos
mitos e no etos que tem como paradigma a identidade étnica “nórdica”. Exclui a
participação com aqueles que sabotam o cultivo da dinâmica da história do
mundo, da história dos homens e da sua ética que, conforme a nossa visão
“sulista”, deveriam ocupar o primeiro lugar na hierarquia de tudo quanto existe
num povo, de tudo que existe numa etnia. Falamos de uma hierarquia que o
Criador de todas as coisas não permitirá seja subvertida nem pelo “nórdico”. É
ao menos o que nós do “sul” suspeitamos. Para as grandes organizações
teuto-brasileiras, o fato de terem traçado o seu caminho com precisão e
decidido trilhá-lo, constitui-se na prova principal da sua viabilidade e da sua
utilidade. Sobressaem aqui as importantes tarefas culturais, especialmente
realizadas por algumas organizações sob a chancela da “grande comunidade
teuto-brasileira do trabalho 25 de Julho”.
As conclusões finais das quais,
em última análise todas as outras têm origem, continua sendo:
O nosso dever de permanecer
decididamente no chão da nossa pátria. Esta base sólida nos garante a
verdadeira segurança e liberdade de ação. O amor à terra natal deverá crescer
em nossas casas como uma árvore em cuja sombra irá medrar o bem estar dos
nossos filhos.
Algum dia já não existirá o
teuto-brasileiro. Não nos devemos importar com isso. Contamos com muitos
parceiros neste destino. Importa realizar que o presente vivo exige de nós.
Vivamos o momento presente.E o momento presente nos adverte vigorosa e
seriamente: segura o que tens! E pelo menos em silêncio todas as outras raças
nos votam o seu reconhecimento, ainda mais quando notam que nos devotamos com
determinação e orgulho ao que somos e que podemos continuar a ser em nossos
filhos: da cepa alemã.