A retomada da temática aconteceu no numero
12, de 1925 do Paulusblatt. Na secção da revista intitulada “Escola da
Sociedade União Popular”, foram publicados os regulamentos disciplinando a
medição e venda de terras do governo no Rio Grande do Sul. O artigo reproduziu,
em primeiro lugar, os dispositivos que regulamentavam as reservas florestais,
em segundo lugar, discriminou os deveres
dos compradores dos lotes coloniais. Em terceiro lugar fez algumas
considerações sobe as condições impostas ao comprador dessas terras referentes
ao uso das mesmas. O articulista terminou apontando uma série de problemas referentes à aplicabilidade dos dispositivos
legais que, na sua essência, eram muito pertinentes e não menos urgentes. (Mais
sobre o assunto em Paulusblatt, 1925, nº 12, p. 1)
Mas foi no numero 9, do ano de 1927, do
mesmo Paulusblatt, que a preocupação com o reflorestamento foi retomada. Na
mesma secção “A Escola da Sociedade União Popular”, o prof. Siegrfied Kniest,
secretario itinerante, ocupou-se com o tema. Começou dizendo que, com suas
andanças pelas diversas comunidades como secretário itinerante, pôde observar
que em não poucas delas se faz um belo esforço em favor do reflorestamento,
especialmente com variedades de eucaliptos; que em extensas regiões, a
necessidade de algum tipo de reflorestamento tornara-se inadiável, já que os
colonos tinham dificuldade em conseguir lenha, no caso de que nada fosse feito.
Depois sugeriu que se criassem associações
para incentivar o plantio de árvores, como estava acontecendo nos Estados
Unidos, na França, na Alemanha e em outros países. Afirmou que, apesar das
queixas, se faz muito de menos em questões de reflorestamento. Apesar de tudo,
porém, há inúmeros exemplos que permitem um certo otimismo. Concluiu referindo
o exemplo de um colono que comprou um lote de terra completamente esgotado. O
povo dizia que ninguém era capaz de alimentar-se nele. Com paciência e
perseverança plantou eucaliptos, árvores frutíferas e outras essências. Não
demorou e a terra improdutiva começou a dar resultados além da expectativa e o
colono transformou-se referência de como recuperar, aproveitar e fazer render
uma terra considerada imprestável.
A preocupação pelas florestas nativas e, mais ainda, o despertar da consciência
da necessidade de reflorestar, foi o assunto de longos artigos publicados nos
números 7, 8,9,10, 11 e 12de
Paulusblatt de 1931.
O primeiro artigo já foi referido quando se
falou na situação da cobertura vegetal remanescente no Rio Grande do Sul e na
criação da “Sociedade de Proteção da Floresta” e os “Dias dedicados
à Floresta”, na década de 1890, inspirados pelo Pe. Peter Gasper eo Sr. Alfred
Grohmann. No nº 8 do Paulusblatt de 1931, o articulista procurou responder a
duas perguntas: Porque é preciso plantar mato e a quem cabe planta-lo?
A resposta para a primeira pergunta foi pragmática. Havia urgência em garantir o
suprimento de lenha e de madeira de construção. A escassez para ambas as
finalidades alcançara um nível preocupante
na região colonial. A curto prazo previa-se a mesma situação para as
colônias ao longo dos rios Pardo e Jacuí e a médio prazo para as colônias
situadas na Serra, nas Missões e no Alto Uruguai. Para dar ênfase à sua
análise, o articulista reproduziu a
carta de um sócio da Sociedade União Popular.
Aqui entre nós plantam-se
enormes áreas com erva-mate. Mas as
pessoas não se dão conta de que a
fabricação da erva-mate requer lenha e
que o mato vai sumindo cada vez mais. Da mesma forma a maioria dos colonos tem
fornos para secar o tabaco e que exige enormes quantidades de lenha.
Mesmo missivista observou o seguinte sobre
os matos da bacia do Taquari.
Participei do Congresso dos
Católicos em Arroio do Meio. A região agradou-me muito, principalmente no que
diz respeito à qualidade dos solos. O que, porém, me entristeceu foi a quase
total ausência de mato e em lugar algum foi possível constatar observar a menor
iniciativa de plantio de mato. (Paulusblatt, 1931, nº 8, p. 2)
Depois de encarecer a urgência de plantar mato por razões pragmáticas, o
articulista levou a questão a um nível de discussão mais amplo. A problemática
florestal ultrapassa uma simples análise de uma situação local, para
transformar-se numa questão ética. Lembrou para tanto uma afirmação feita trinta
anos antes pelo “pai” da floresta, Alfred Grohmann.
Quem priva a sua
propriedade da madeira indispensável, comete um crime contra a geração futura.
Num País uma reserva suficiente de matas é de grande importância para a
economia nacional. O governo do nosso Estado faria muito bem em dedicar uma
atenção maior ao reflorestamento.
Em resposta fez as seguintes considerações.
Em primeiro lugar, pela sua
própria natureza cabe ao Estado a responsabilidade e a tarefa de proteger as
reservas florestais e, ao mesmo tempo,
incentivar e orientar os florestamentos e reflorestamentos. Em segundo lugar,
já que o Estado e incapaz de fazê-lo ou
não se preocupa como deveria, o reflorestamento poderia ser posto em prática
por meio de associações ou cooperativas, oriundas da iniciativa privada e para
tal fim criadas. Colonos isolados em suas pequenas propriedades não tem
condições para enfrentar o problema. (Paulusblatt, 1931, nº 8, p. 2)
Já no nº 9 de 1931 do Paulusblatt, foi
proposto um projeto completo de reflorestamento cooperativo que poderia ter
sido implantado perfeitamente, por exemplo, no médio Caí. O ponto de partida
poderiam ser as colônias localizadas a partir de São José do Hortêncio, em
direção norte, passando pelo vale do Cai e o Cadeia, até Nova Petrópolis e
Padre Eterno. As colônias mediam em
média em 1931, 200 metros de
largura por 2000 de comprimento. Começavam na barranca dos rios, subiam pelas
encostas até o topo dos morros ou, conforme o caso, seguiam além até atingir o
comprimento padrão.
A proposta consistia em reunir os
proprietários em grupos e 30, 40 ou 50. Esses grupos formariam a base para as
cooperativas de reflorestamento. Na pratica os procedimentos seriam os
seguintes:
Uma vez definido o grupo, seria convocada
uma primeira reunião na qual se analisaria a questão da plantação do mato. No
caso de o grupo fosse composto por 30 proprietários interessados e dispostos a
se comprometer com o projeto, uma comissão seria escolhida para determinar a
faixa de terra ser destinada para o reflorestamento. Integrariam
necessariamente a comissão os dois proprietários dos lotes limítrofes da área
escolhida em cujas propriedades se avaliariam as condições requeridas para um
reflorestamento. Mas não é suficiente que a comissão demarque a faixa de terra
ser replantada com mato. É preciso
proceder também proceder a uma análise do solo, verificar se a rocha aflora ou
se encontra em maior profundidade, se o subsolo é saibroso, se a camada de solo
é profunda, pantanosa ou mais enxuta. Esses dados fornecidos pelo proprietário,
serveriam para organizar um cadastro que forneceria a base para escolher o tipo
de árvores mais adequadas e, desta forma, programar o plantio com a maior
probabilidade possível de êxito. Por razões práticas, as faixas escolhidas para
o reflorestamento deveriam localizar-se
a mais ou menos 1400 1600 metros
contados a partir do travessão inferior . Localizam-se, desta forma, mais ou
menos no meio da colônia e na meia encosta. A preferência por essa faixa é
motivada, em primeiro lugar, pela relativa proximidade das moradias, tornando o
abastecimento de lenha mais cômodo. Em segundo lugar corresponde a uma faixa
localizada na propriedade onde o desmatamento se deu por primeiro. Uma vez
concluídos esses trabalhos preliminares, seria convocada uma reunião na qual a
comissão apresentaria os resultados e as
conclusões do levantamento. Todos teriam oportunidade de externar suas
opiniões, dar sugestões e propor alternativas.
Vencida mais essa etapa partir-se-ia para a
fundação da cooperativa de reflorestamento. A diretoria seria escolhida e
estipulada a contribuição. Essa deveria ser no mínimo de 20$000, para formar um
pequeno capital capaz de arcar com as despesas correntes do empreendimento. Na
mesma reunião deveria verificar-se quem dos proprietários estaria em condições
e com disposição para manter um viveiro no qual os demais se abasteceriam de
mudas.
Uma vez acertada a faixa a ser reflorestada,
chegou o momento de passar para etapa seguinte: a escolha das espécies e as
técnicas de plantio. Esse assunto foi tratado nos números de outubro, novembro e dezembro de 1931, em
Paulusbltt. No número de outubro foi apresentado um modelo concreto de
reflorestamento, dando ênfase à
finalidade pratica de plantio, à escolha das espécies, conforme a sua finalidade,
como por exemplo, lenha tábuas, madeira de construção e os respectivos cuidados
a serem tomados em conta, no manejo da mata plantada. No número seguinte,
novembro de 1931, o articulista concentrou-se no controle das pragas que
ameaçam as faixas de replantio de árvores, com destaque para as formigas.
No sexto seguimento, dezembro de 1931, foram
enumeradas as vantagens de um plantio sistemático de mato.
O suprimento contínuo e indefinido de lenha
e madeira de construção.
A distribuição regular e abundante das
precipitações pluviométricas pois, as florestas são fatores importantes de equilíbrio
neste particular. Além disso, as raízes e o sombreamento controlam a
evaporação, garantem a perenidade dos mananciais subterrâneos e evitam que as
fontes sequem com qualquer estiagem um pouco mais prolongada.
Essa sequência de seis matérias publicadas
na revista de formação e informação mais importante da Sociedade União Popular,
demonstra uma preocupação inequívoca
para com a conservação e reposição das matas. E isto há 80 anos, numa
época em que as grandes áreas de matas virgens do Alto Uruguai, Centro-Oeste
de Santa Catarina e oeste do Paraná, pareciam garantir opções de colonização a
perder de vista. Na época assumir uma
posição tão decidida em favor da preservação das matas e propor projetos concretos
e sérios de reposição das matas em áreas
nas quais o desmatamento já havia ultrapassado os níveis desejáveis,
significou, sem dúvida, uma definição de coragem e lucidez.
Essa posição defrontava-se com três
dificuldades nada desprezíveis: a primeira provinha do fato de os lotes
coloniais com suas pequenas áreas não favorecerem a mentalidade preservacionista.
A segunda tinha a ver com a mentalidade imediatista e individualista da maioria
dos colonos. A terceira estava no fato de que há 80 anos passados os adeptos da
preservação da natureza não passavam em
muito de figuras meio exóticas, meio fora do contexto, meio visionarias. A
situação era quase a oposta de hoje. Hoje, pertencer a uma entidade de proteção à
natureza, discutir o assunto, estigmatizar os não preservacionistas como
criminosos, como coveiros do planeta e dos seus habitantes humanos e não
humanos, empresta uma certa aura às pessoas. Naquela época se dava o contrário.
Por isso mesmo, uma atitude coletiva, como a da Sociedade União Popular,
preocupando-se com a preservação das matas ainda existentes e pelo replantio
das áreas devastadas, revestiu-se de um sentido muito mais profundo e de um
valor incomparavelmente maior do
que numa época como a nossa em que é
obrigação adotá-lo.