Archive for maio 2017

Edward Wilson (1929) - 2

O desafio para salvar a natureza

Para Wilson o grande desafio ético do século XXI consiste em salvar a natureza, ou o que sobrou dela, para que as pessoas encontrem um lugar decente para viver. Quanto mais se estuda a vida na terra tanto mais claro fica que esse esforço consiste na contribuição da parte da Ciência para uma atitude ética ao lidar com a vida na terra. O correto viver na  natureza e conviver com ela faz perceber o quanto é complexa e bela. É uma fonte inesgotável e mágica, é o nosso lar que nos sustenta física e espiritualmente. Mesmo que muitos lidem com as questões ambientais sob a ótica do darwinismo e o secularismo que normalmente o acompanha, “deveria ser  um objetivo comum a nós dois, apesar das nossas diferenças metafísicas”. (Wilson, 2008,  p. 15).
E para reforçar o convite à reflexão sobre a natureza endereçada ao pastor, Wilson  registra o exemplo  de Darwin. Ele se preparara para exercer o ministério religioso absolvendo um curso de teologia. Interpretava a natureza que o cercava pela ótica da doutrina expressas na Sagrada Escritura, até que empreendeu a sua viagem a bordo HMS Beagle. Ao observar a floresta tropical do Brasil encostando no Atlântico, percebeu nela a manifestação da mão de Deus e anotou no seu caderno de registros: “Não é possível dar uma ideia adequada dos sentimentos superiores de deslumbramento, admiração e devoção que inundam e elevam a mente”. ( em A Criação, p. 15). Mesmo depois de se afastar dos ensinamentos religiosos, Darwin não perdeu a sua profunda admiração pela natureza e os prodigiosos acontecimentos e espetáculos que oferece. E a certa altura na formulação da teoria da evolução deixou a observação, repetida por Wilson:

Há grandeza neste modo de ver a vida, com seus diversos poderes, tendo sido originalmente  instilada de um sopro em algumas poucas formas ou em uma só; e que, enquanto este planeta ia girando segundo a lei fixa da gravidade, a partir de um início tão simples, infinitas formas, tão belas e maravilhosas, evoluíam e continuam evoluindo. (citado por Wilson, 2008,  p. 16)

Como se pode perceber a admiração, o respeito e a veneração pela natureza do jovem Darwin crente  e apegado às suas convicções religiosas e depois de enveredar pela linha da liberdade do pensamento, continuam inalteradas, para como cientista renomado, formular a teoria da evolução. Foi a ponte que lhe permitiu o trânsito entre as duas cosmovisões que separaram  a do pesquisador principiante e do formulador da hipótese mais revolucionária sobre o acontecer da natureza. O diálogo entre esses dois mundos que, à primeira vista, parecem irreconciliáveis, não se misturando como o óleo e a água, no fundo, no fundo, não somente é possível como é fundamental para interpretar o ambiente natural e propor atitudes e ações  para salvá-lo. Respeito, admiração, veneração, a consciência de que é preciso salvar “a Criação”, resumem-se numa postura ética perante a natureza. A lógica dessa atitude fundamenta-se na convicção de que ela é um bem comum e da sua preservação depende não só o bem-estar dos indivíduos como das coletividades e o próprio futuro da  espécie humana. Argumentos filosóficos, morais e teológicos de um lado e argumentos científicos do outro, compõem o chão fértil que oferece as condições para  que um esforço eficiente para salvar o planeta possa medrar. Nem o  esforço científico por si, nem o empenho filosófico e teológico, muito menos o discurso ideológico, romântico e outros menos confessáveis, são capazes de apontar sozinhos um caminho viável para enfrentar esse gigantesco desafio. O plano ético-moral é a ponte entre as Ciências Naturais e as Ciências do Espírito que oferece a  chance real para salvar “a Criação”.
Mas reservemos essa problemática para o capítulo das  reflexões conclusivas sobre os cientistas contemplados até aqui, e acompanhemos as pinceladas com que Edward Wilson desenha o seu retrato da natureza, o seu “Weldbild” como diria Erich Wassmann. Como ponto de partida lembra ao pastor que interpreta a Bíblia ao pé da letra, o fato de que, a certa altura da sua história, a humanidade se desviou do rumo, ou quem sabe, até perdeu o rumo. O Gênesis na sua intepretação literal ou  metafórica ensina que que o homem cometeu um grande erro e foi expulso do paraíso. De então até hoje os homens e a humanidade como um todo, carrega a maldição do “pecado original”, do qual é preciso livrar-se, melhor, redimir-se. A sina de vagar pelo mundo “acima dos animais e abaixo dos anjos”  (a Criação, p. 17) persegue-a como uma sombra que lhe tira a tranquilidade, enquanto se prepara para entrar no reino da luz prometido pela Redenção. Da leitura do Gênesis conclui-se  que o Éden corresponde ao mundo e a natureza original, antes de o homem entrar em cena. Neste ponto o texto sagrado e a concepção do  mundo do livre pensador Wilson, em última análise, coincidem. Para ele, o cientista, esse Éden, esse mundo primordial de fato existiu e foi o berço da humanidade. O resto dessa história toma rumos diferentes para o interpretador literal da Bíblia e os cientistas, como Wilson faz ver ao pastor a quem dirige suas reflexões. Para ele a humanidade não começou a existir por um ato de criação, mas tem a sua origem como mais um rebento, o mais apurado e o mais intrigante, da evolução natural. Tão pouco os primeiros homens foram expulsos do Paraíso. Lá por volta de 10000 a 15000 anos passados, o homem começou a abandonar a natureza original e intacta, criando condições e meios para se impor a ela. Até então as tecnologias desenvolvidas durante o paleolítico pouco ou nenhum estrago fizeram e poucas ou nenhuma marca importante denunciava a presença do homem. Centenas de milhares de anos haviam-se  passado desde que há notícias de seres humanos neste planeta. Começou então o que se pode chamar “a humanização da terra”. Se este termo sugere de um lado o fato de o homem tornar o seu entorno cada vez habitável, mais seguro e mais previsível, do outro o preço que os ecossistemas iriam pagar com o avanço e a sofisticação das civilizações, foi incalculável. Wilson definiu essa situação.
Eis aqui uma quimera, uma espécie nova e muito estranha que entrou a passos incertos no nosso universo, com uma mistura de emoções da Idade da Pedra, uma auto imagem medieval e uma tecnologia que se ombreia com a dos deuses. Tal combinação torna essa espécie indiferente às forças que são mais importantes para sua sobrevivência no longo prazo.(Wilson, 2008, p. 18)
Tanto a versão bíblica de uma paraíso primordial, quanto a concepção da natureza não perturbada pelo homem, podem ser perfeitamente compatíveis, pois concordam no essencial: uma natureza primigênia, em perfeito equilíbrio e inserido nela o homem como os demais seres vivos, no Paraíso como ensina o Gênesis, ou em perfeita harmonia com o seu ambiente, na visão do cientista. Depois Wilson fustiga as atitudes de descaso dos diferentes segmentos da sociedade que  têm responsabilidade pelo que acontece com a natureza. Muitas  pessoas inteligentes não se dão conta de que os benefícios de uma natureza preservada  retribui por ano o equivalente  ao valor do produto bruto do mundo somado. E desabafa:
E o mais perturbador que os nossos líderes inclusive os das grandes religiões, pouco tem feito para proteger o mudo vivo, em meio ao acentuado declínio. Eles ignoraram o comando de Deus de Abraão, dado no quarto dia do nascimento do mundo: “Fervilhem as águas  um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra, sob o firmamento do céu”. (...) e pergunta:
O que devemos fazer? No mínimo, elaborar uma história verdadeira da situação, com a qual pessoas de diferentes religiões possam em princípio concordar. Se isso puder ser feito, servirá pelo menos de prólogo para um futuro mais garantido. (Wilson, 2008,  p. 18-19)
Para Wilson as civilizações representaram, em última análise uma “traição à natureza”. Foi a revolução neolítica que deu partida a esse processo. De um lado a revolução neolítica, a revolução dos alimentos, com diria Darci Ribeiro, acompanhada do séquito de tecnologias que trouxe como  consequência, foi sem dúvida uma grande bênção. A espécie humana passou da total dependência das fontes de alimentação, das matérias primas para a habitação e vestuário presentes na natureza, para a agricultura e a domesticação de animais. Com isso foi-se libertando da “escravatura” do que a natureza oferecia espontaneamente, para assumir o controle de suas fontes de subsistência. A vida sedentária, condição sem a qual a agricultura é impensável, valendo-se de tecnologias cada vez mais eficientes com a descoberto do cobre, estanho, o bronze, da fundição de ferro e outras, deram início a substituição da paisagem natural pela humana. Pela própria natureza a substituição, e consequentemente a interferência no ambiente natural dos povos pastores, foi menos profunda e mais  lenta do que dos agricultores. Em todo o caso, a interferência no ambiente natural, dos agricultores mais do que dos pastores nos ecossistemas naturais foi-se acelerando. As florestas foram desaparecendo, as várzeas dos rios drenadas e substituídos por complexos sistemas de irrigação e, modernamente, savanas, campos naturais, cerrados, etc.  deram lugar a gigantescas culturas de soja, milho, cana, algodão e outros. Todas essas conquistas não deixam de ser uma “Bênção”. Mas Wilson chama a atenção de que,

a revolução dos alimentos estimulou a falsa premissa de que uma minúscula seleção de plantas e animais domesticados é capaz de sustentar  a expansão humana indefinidamente. A pauperização da fauna e da flora da Terra foi um preço aceitável até séculos recentes, quando a natureza parecia  praticamente infinita e uma inimiga dos exploradores e pioneiros. As áreas naturais  e os povos aborígines que nelas viviam deveriam ser afastados e por fim substituídos, em nome do progresso, ...  (Wilson, 2008,  p. 19)

Pela sua natureza a agricultura e criação de animais, entretanto, tem os seus limites em relação à modificação e ou destruição do meio ambiente. Começa por aí que ambas as atividades dedicam-se  de alguma forma ao cultivo de  plantas e multiplicação de animais, que na sua origem faziam parte dos ecossistemas naturais. Mesmo as paisagens em que durante milênios foi praticada a agricultura, por bem ou por mal, contam com uma cobertura vegetal permanente embora artificial. Entre os criadores de animais as paisagens naturais, estepes, savanas, campos naturais, pradarias, etc. os estragos causados pela presença do homem  foram ainda menos profundos. Contudo é preciso não esquecer de que a atividade agrícola substituiu a vegetação original e com ela interferiu severamente nos ecossistemas originais, cultivando meia dúzia de cereais e tubérculos. Da mesma forma a criação de poucas espécies de animais, reunidos em rebanhos vagando pelas pastagens naturais, teve como consequência o afastamento ou  o extermínio de não  poucas espécies nativas. Essa  situação perdurou, em grandes linhas, até a advento da revolução tecnológica a partir do século XVIII. Lentamente, acompanhando o ritmo da invenção de novas tecnologias e o aperfeiçoamento das já em uso, a paisagem natural vai perdendo rapidamente seus traços originais. A presença do homem faz valer a  sua capacidade ilimitada de impor sua superioridade ao  entorno geográfico. As aldeias de agricultores de poucas dezenas de habitantes transformam-se em centros urbanos em constante crescimento, até abrigarem milhares, dezenas de milhares e milhões de inquilinos. De realidades até certo ponto harmonizadas com o meio geográfico sempre mais aldeias de agricultores avançaram impiedosamente e tomaram o lugar da vegetação obrigando os animais a se refugiarem em outros ambientes. Com o correr das décadas pequenos centros urbanos surgiram, alguns deles localizados em posição estratégica, evoluíram para cidades com milhares e dezenas de milhares de  habitantes. E depois de poucos séculos nos flagramos diante de centenas de cidades com mais de um milhão de pessoas e dúzias de metrópoles concentrando mais de uma dezena de milhões. Ao comentar essa realidade Edward Wilson deixou a seguinte reflexão:

Enquanto isso, a moderna revolução técnico-científica, incluindo, especial, o grande salto da tecnologia da informação baseada na computação, traiu a natureza pela segunda vez, ao promover a ideia de que os casulos da vida material das cidades e dos bairros residenciais são suficientes para  a satisfação humana. Trata-se de um erro bastante grave. A natureza humana  é mais profunda e mais ampla do que os inventos artificiais de qualquer cultura existente. As raízes espirituais do Homo sapiens se estendem até as profundezas  do mundo natural, por meio de canais de desenvolvimento  mental que ainda hoje permanecem, em geral, desconhecidos. Nosso pleno potencial não será atingido sem que compreendamos  a origem e, portanto, o significado das qualidades estéticas e religiosas  que nos tornam inefavelmente humanos.
Não há dúvida  de que muitas pessoas  parecem contentar-se em viver inteiramente  dentro desses ecossistemas sintéticos. No entanto, também os animais domésticos se contentam, até nos habitats grotescamente anormais em que nós os criamos, Isso, no meu modo de pensar,  é uma perversão. Não é da natureza  dos seres  humanos se tornar cabeças de gado em pastagens aperfeiçoadas. Cada pessoa merece ter a opção de entrar e sair com facilidade desse mundo complexo e primal que nos deu à luz. Precisamos de liberdade para vagar  por terras que não sejam propriedade de ninguém, mas protegidas por todos, terras cujo horizonte imutável é o mesmo que limitava o mundo dos nossos ancestrais milenares. Apenas onde resta um pouco do Éden, pujante de seres vivos independentes de nós, é possível experimentar o deslumbramento que deu forma à psique humana no seu nascimento.    (Wilson, 2008,  p. 20-21)

E qual é o caminho a ser trilhado para encontrar um equilíbrio aceitável entre as benesses e as armadilhas que as tecnologias em constante evolução nos oferecem e obrigam a aceitar? A resposta encontra-se na ampliação e aprofundamento do conhecimento científico. A solução será encontrada na medida em que a ciência em que as pesquisas científicas, de modo especial a biologia, a psicologia e outras especialidades, penetrarem sempre mais fundo nas relações existenciais entre a natureza e a alma humana. O homem como os demais seres vivos é feito da mesma matéria original que compõe o reino mineral; as base fisiológica e as leis que comandam o funcionamento do seu organismo são essencialmente as mesmas que regem a vida dos micro organismos mais simples; o homem como os demais seres vivos busca as matérias primas para a sua sobrevivência na natureza que o cerca; o homem encontra no entorno físico em que vive as fontes de inspiração para alimentar sua imaginação, materializar seus sentimentos, dar forma e vida a suas crenças. Não me alongo sobre essa realidade, pois foi o tema do primeiro capítulo das presentes reflexões. Por essas  e outras razões confirma-se a afirmação que serviu de mote para os presente trabalho, de que “a natureza existe e continua existindo sem o homem, mas o homem não existe nem subsiste sem a natureza”. Compreende-se assim que o mundo natural exerça tamanha atração sobre a alma do homem. Nem o fato de alguém ter nascido na total artificialidade de uma grande metrópole é capaz silenciar o apelo que vem do fundo do ser, pedindo por ar puro, pelas flores do campo, pelos pássaros cantando na liberdade silenciosa da floresta, pelas gotas de orvalho brilhando sobre as ervas do campo, pelo marulhar dos arroios de montanha e por tudo mais que sobrou da natureza devastada pelo próprio homem. Wilson observa a esse respeito.

Temos muito caminho pela frente até fazermos as pazes com este planeta, e um com o outro. Tomamos o caminho  errado quando iniciamos a revolução neolítica. Desde então temos procurado nos elevar saindo da Natureza, em vez de rumo a ela. Não é tarde demais para voltar atrás, sem perder a qualidade de vida já alcançada, a fim de receber as benesses profundamente gratificantes do legado da humanidade. (Wilson, 2008,  p. 21)


Edward Wilson (1929) - 1

Um convite para o diálogo entre Ciência e Religião


De acordo com a informação na orelha no seu livro “A Criação – como salvar a vida na terra”, Edward Wilson nasceu em 1929  em Birmingham, no Alabama. Professor da universidade de Harvard há  quase cinco décadas e autor de mais de 20 livros é considerado um dos mais proeminentes biólogos do mundo. Entre as muitas honrarias destacam-se dois prêmios Pulitzer. a Medalha Nacional de Ciências dos Estados Unidos e o prêmio Craford, concedido pela Real Academia de Ciências da Suécia para áreas não abrangidas pelo Prêmio Nobel.
Para começar a análise da proposta de Wilson sobre a sua compreensão da natureza é interessante observar o gênero literário que escolheu. “A Criação” foi escrito na forma de uma carta a um pastor evangélico que interpreta a Sagrada Escritura no sentido literal o texto do Gênesis. Ele próprio confessa que fora batizado e como criança, foi cristão praticante, para depois distanciar-se da religião e  aderir ao humanismo secular para o qual “não há garantia de vida após a morte, e céu e inferno são o que nós criamos para nós mesmos. Não há nenhum outro lar para nós”. (A Criação, p. 12). Continua sua fala com o pastor, destinatário do seu livro, afirmando a sua convicção de que a natureza, inclusive o homem, são o resultado da evolução, em contraposição à crença num Criador como entendido na interpretação literal dos textos sagrados. Neste nível, portanto, ele e o pastor encontram-se em campos opostos. E, contudo, essa aparente incompatibilidade entre o seu universo e o do pastor,  oferece uma dimensão na qual os dois se encontram num território comum que oferece todas as condições para um diálogo construtivo. Em comum carregam no seu interior o código de ética que orienta suas atitudes e decisões, fundamentada na razão, na lei, na honra e no senso de decência. Wilson caracteriza depois as diferenças que o separam do seu interlocutor.

Para o senhor, a glória de uma divindade invisível; para mim a glória do universo por fim revelado. Para o senhor, a crença em um Deus que se fez carne para salvar a humanidade; para mim a crença no fogo que Prometeu arrebatou para libertar os homens; O senhor encontrou a verdade final; eu estou ainda buscando a minha. Eu posso estar errado, ou o senhor pode estar errado. Talvez nós dois estejamos parcialmente certos.
Será que essa diferença em nossa visão do mundo nos separa em todas as coisas? Não creio. Tanto o senhor como eu, e cada ser humano, lutamos pelos mesmos imperativos: segurança, liberdade de escolha, dignidade pessoal e uma causa em que acreditar, uma causa maior do que nós mesmos. (Wilson, 2008,  p. 12)

Wilson convida depois o pastor para encontrar uma forma em comum de lidar com o mundo “do lado de cá da metafísica”, isto é, com o mundo real comum aos dois e resolver para ele o grande problema que objeto de suas profundas preocupações. Sugere que se deixem de lado as diferenças para tentar salvar a Criação. Argumenta  que a Natureza é um valor universal que transcende as diferenças e as divergências na sua compreensão. Acima de ideologias e dogmas ela interessa a toda a humanidade sem excluir ninguém. E o cientista que passou a vida tentando entender a vida nos ecossistemas, sem entretanto, entende-los na sua dimensão total, faz um apelo ao pastor. “Pastor, precisamos de sua ajuda. A Criação – a Natureza viva – está enfrentando uma grave crise”. (A Criação, p. 13). Para justificar o seu pedido de socorro alerta em poucas palavras para as perspectivas reais de uma deterioração progressiva e rápida da vida na terra, conforme mostram as pesquisas que se ocupam com as populações de animais, desde as bactérias, até as plantas superiores, os mamíferos e os respectivos ecossistemas. A continuar nesse ritmo o custo para a humanidade será catastrófico em todos os sentidos. Cada espécie por mais insignificante que possa parecer e minúscula que seja, é uma obra prima da Natureza é importante para manter o equilíbrio e a integridade dos ecossistemas na Terra – portanto da Criação. E conclui:

O senhor pode estar se perguntando: “Porque eu?” É porque a Religião e a Ciência são as duas forças mais poderosas do mundo, inclusive e especialmente nos Estados Unidos. E, se pudessem se unir no terreno comum da conservação biológica, o problema logo seria resolvido. Se existe alguma preceito moral compartilhado  pelos crentes de todas religiões, é que devemos, a nós mesmos e às futuras gerações, um ambiente belo, rico e saudável. (Wilson, 2008,  p. 13-14).

Porém essa colaboração entre a Ciência e a Religião não tem condições de acontecer, ou mesmo não interessar, quando as crenças se fundamentam na convicção de que a única coisa que importa para o ser humano é preparar-se  para a vida depois da morte, que a vida é um fenômeno transitório de preparação para a eternidade. Pior quando milhões de pessoas  creem que o fim do mundo, o segundo advento de  Cristo acontecerá  ainda na presente geração. Para eles não importa a sorte das milhões de formas de vida. “Não são evangelhos da esperança são evangelhos de crueldade e desespero. Não nasceram do coração do cristianismo. Pastor, diga-me se estou errado?” (Wilson, 2008,  p. 15).