Da Enxada à Cátedra [ 90 ]

De 2011 a julho de 2013 passei por assim dizer recluso num “gabinete”, fechado com paredes de vidro fosco de meia altura, no sexto andar da biblioteca. Sem função definida e a título de pesquisador dediquei-me em tempo integral a traduções de documentos e obras importantes sob diversos aspectos a maioria começados entre 2000 e 2010. Preparei a publicação do terceiro volume da trilogia sobre os grandes projetos implantados pelos jesuítas no sul do Brasil. O primeiro contemplando o projeto educacional com o título “Um Sonho e uma Realidade”, que saiu do prelo em 2009. O segundo, o projeto social intitulado “Somando Forças – Projeto Social dos jesuítas”, veio se publicado pela Ed. Unisinos em 2011. Faltava retocar o texto básico do “Projeto Pastoral” publicado também pela Ed. Unisinos em 2013. A pedido da Comissão Eclesiástica pela beatificação do Pe. Reus escrevi uma biografia do servo de Deus somando em torno de 250 páginas que até o momento permanece inédito. Foi também nesse período que dei os últimos retoques ao que considero a “joia da coroa” das minhas publicações com o título “A Natureza como Síntese”. A publicação pela Edit. Oikos aconteceu em 2017. Em 2015 ocorreu a publicação diário do Pe. Rambo relativo à sua viagem aos USA em 1956, a convite do governo daquele país. A tradução e parte das notas de rodapé são minhas e as demais do prof. Marchiori que cuidou também da publicação pela Edit. da UFSM. Também em parceria com o prof. Marchiori, cabendo-me a mim a tradução e a ele a providenciar a edição também pela Edit. da UFSM em 2014 do diário do Pe. Rambo em duas viagens ao sudoeste do Rio Grande do Sul na década de 1940. Como já dei a entender, aqueles dois anos e meio, 2011 a julho de 2013, foram dedicados a preparação de traduções e de originais para a publicação.

Em fins de junho de 2013 o Pe. Bohnen, então diretor da biblioteca pediu para encontra-lo no seu gabinete. Comunicou-me a ordem do reitor que eu fosse desligado da instituição. Percebi claramente que estava cumprindo uma ordem desagradável para ele pois, por mais de meio século fôramos parceiros na construção da universidade desde a década de 1960. Ficamos conversando por mais de meia hora sobre assuntos diversos. Ao sair do seu gabinete a atendente da recepção chamou-me e pediu que assinasse a portaria de desligamento, com a recomendação, num tom de quase ordem, que me apesentasse na divisão de pessoal para acertar as devidas exigências legais da demissão.
Levou algum tempo para me flagrar do que estava realmente acontecendo. O documento que terminara de assinar consagrou o desfecho definitivo de nada mais nada menos do que 59 anos dedicados à Unisinos, os 23 últimos em tempo integral. Levei o documento até a Divisão de Pessoal. Lá me esperava outra surpresa tudo menos agradável. O funcionário que me atendeu instruiu-me com uma ar de quem diz “já vai tarde”, que me apresentasse no dia 17 de julho na assessoria jurídica para o acerto final de contas que, por minha surpresa, mantinha seu escritório numa rua do bairro Cristo Rei. Na ocasião o que mais estranhei que nenhuma autoridade maior da universidade expressasse de alguma forma o reconhecimento pela missão cumprida desde o seu embrião em 1954. Mas, toda essa história já foi registrada nas páginas mais acima. A justiça, porém, manda lembrar que 6 anos depois, por ocasião da comemoração do cinquentenário da oficialização formal por um decreto do então Presidente da República, Costa e Silva, por minha surpresa, fui contemplado com a “Medalha de Santo Inácio”, entregue pelo Reitor, na solenidade comemorativa da efeméride.

Distinção Imigração Alemã - 2013
Mas voltando para 2013. Na mesma semana, princípios de julho, em que fui desligado da Unisinos, fui surpreendido por um telefonema do Sr. Jorge W. Klobig, presidente da FECAB, que eu fora indicado por aquela instituição, para ser contemplado com a “Distinção da Imigração – 2013”, a ser concedida oficialmente no dia 18 de julho. Infelizmente neste meio tempo o Sr. Klobig veio a falecer acometido de uma parada cardíaca ao desembarcar do avião em Berlim. Não me lembro do dia exato entre 10 e 16 de julho, ocorreu o translado do corpo para Porto Alegre para o sepultamento. Obviamente esse imprevisto recente não deixou de afetar o clima festivo da entrega da Distinção em 18 de julho. Na mesma noite o dr. Hugo Hammes foi contemplado com a mesma distinção. Além da bela “Laudatio” (discurso de apresentação) proferida pela profa. Dra. Isabel Cristina Arendt, em torno de três dezenas de colegas professores, antigos alunos e bolsistas contribuíram com um toque todo especial à solenidade. Participaram evidentemente minha esposa Inez, a filha Ingrid e o genro Ernani além dos casais de vizinhos Rudolfo Tesch e a esposa Úrsula, Vicente Brigido e a esposa Aparecida  além da profa. Andreia Petry Raheimer.

Patrono da Feira do Livro de São Leopoldo – 2013.
Em começos de agosto fui surpreendido em casa com a visita da Secretária da Cultura e um assessor da prefeitura de São Leopoldo, a fim de me convidar para ser o patrono da feira do livro em fins de novembro. Acontece que a feira do livro daquele ano coincidiu com os 60 anos da criação da biblioteca municipal. Não podia deixar de aceitar o convite. Uma semana ou duas depois houve uma reunião na prefeitura presidida pelo prefeito para acertar os detalhes dos dois eventos. Ficou acertado que a comemoração dos 60 anos da Biblioteca antecederia à Feira do Livro no auditório da prefeitura. Na ocasião coube-me a fala da abertura. Como não tinha mais nenhum compromisso com a universidade participei, na medida do possível, das diversas programações previstas.

A feira do livro ocupou a última semana de novembro. O local escolhido foi a antiga estação do trem. Na minha opinião a opção não poderia ter sido mais adequada pelo simbolismo histórico pois, a estação localiza-se a menos de uma quadra da moderna estação do trensurb. O ruído e a trepidação da passagem do moderno trem de transporte de passageiros, com suas possantes locomotivas movidas a energia elétrica, levou a memória dar um salto para trás até 1875, quando os primeiros trens de passageiros e transporte de mercadorias, acionados por máquinas a vapor, as lendárias “Maria Fumaça”, inauguraram a ligação de Porto Alegre, Santa Maria até Uruguaiana, com ramais pelo interior do Estado. De Santa Maria um ramal seguiria para o norte até Marcelino Ramos conectando com o que cruzava Santa Catarina de sul a norte, seguindo para Curitiba e São Paulo.

A abertura da feira seguiu em grandes linhas o ritual das demais como Porto Alegre e em não poucas cidades maiores do interior do Estado. Depois do cerimonial de abertura presidida pelo prefeito do município dr. Moacir, como patrono da feira, como manda o figurino, tocando uma sineta percorri as estandes dos livros oferecidos para a venda. Com isso a cerimônia de inauguração estava encerrada. Nos dias seguintes passava a maior parte do dia na feira. Como é praxe nessas solenidades houve apresentações de crianças das escolas do município e, o que não podia faltar, lançamento de livros. Não me lembro de muitos detalhes além do lançamento pelo senador Pedro Simon do seu livro e a palestra do conhecido jornalista Rui Carlos Ostermann, natural de São Leopoldo. O encerramento foi novamente presidido pelo prefeito municipal. Tentei caprichar na minha fala. Nãos sei até que ponto o consegui. De qualquer maneira foi uma experiência e tanto para concluir o ano de 2013, somado aos lances da minha saída definitiva da Unisinos além de contemplado pela honrosa “Distinção Imigração Alemã” concedida em julho pela FECAB.

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