Da Enxada à Cátedra [ 85 ]

Depois da volta dessa última viagem em meados de setembro de 2001 não guardei na memória nenhum evento que mereça registro especial além das providências rotineiras da coordenação do PPGH. Entramos depois no ano de 2002 que seria para mim o último como coordenador. E, para ser sincero, estava na hora de passar o bastão para um substituto e desta vez, me livrar de vez de compromissos administrativos, que aliás nunca me seduziram, mas assumidos como parte da missão a cumprir na universidade. A troca de comando deu-se numa reunião do Colegiado do Programa em janeiro de 2003, na qual o prof. Werner Altmann foi eleito. Chancelada a decisão do Colegiado pelo Diretor do Centro, Pe. José Ivo Follmann, o prof. Werner foi empossado e eu me instalei num dos gabinetes do quarto andar perto da secretaria. Retomei a todo vapor as pesquisas sobre a imigração alemã, traduzi obras de referência na área e comecei a escrever a trilogia tendo como foco a atividade dos jesuítas alemães no sul do Brasil: “O Projeto Educacional” publicado em 2009 sob o Título “Um Sonho e uma Realidade”; “O Projeto Social” em 2011 com o título “Somando Forças”; “O Projeto Pastoral” em 2013, todos pela Editora da Unisinos. Um semestre sim e outro não, ministrava seminários para os mestrandos e doutorandos além de orientar dissertações e teses. Pelo o final de 2004 fomos atropelados pelo falecimento prematuro com câncer no fígado do prof. Marcos Tramontini, uma das grandes promessas para reforçar a pesquisa histórica da imigração alemã. Aliás sua tese de doutorado defendida na PUCRGS tornou- se referência desfazendo com farta documentação que o mito do isolamento das primeiras gerações de imigrantes alemães formavam grupos isolados, à margem dos luso-brasileiros, entregues a si mesmos, vítimas do abandono por parte das autoridades provinciais e nacionais. A participação na guerra Cisplatina, na Revolução Farroupilha, na Guerra do Paraguai, na Revolução Federalista e outros eventos demonstram que o isolamento vinha no mínimo a ser relativo.

A primeira metade desse período, mais especificamente o ano de 2005, coincidiu com o centenário do nascimento do Pe. Balduino. Na condição de cientista nacional e internacionalmente reconhecido, foram organizados não poucos eventos comemorativos na Unisinos para lembrar a importância desse ilustre jesuíta, tanto como cientista, quanto como professor no Colégio Anchieta, como catedrático fundador na UFRGS, diretor do Museu do Estado, como idealizador do Parque dos aparados da Serra, como escritor e como decidido defensor das comunidades coloniais de origem alemã e seus valores religiosos, éticos, familiares, além da sua exemplar organização comunitária fundamentada no solidarismo. Coube ao prof. Martin Sander a responsabilidade de coordenar a montagem do projeto que polarizaria os eventos setoriais a serem programados durante o ano de 2005 e 2006. Submetido à apreciação à apreciação da Lei de Incentivo à Cultura, esta autorizou a captação de recursos para a publicação de dois livros e a montagem de uma exposição itinerante resumindo a trajetória de vida do Pe. Rambo, desde sua infância, até topo de sua atividade acadêmica, científica e social. Os recursos foram capturados na Copesul. O primeiro volume com o título “Na Trilha do Pe. Rambo”, ficou sob a responsabilidade dos jornalistas Eduardo Tavares, a quem coube a parte fotográfica e ilustrativa, e Renato Dalto, autor do texto bilíngue (português e inglês). O segundo volume intitulado “Pe. Rambo – Pluralidade na Unidade: memória, religião, cultura e ciência”, contou como organizadores os profs. Arthur Rambo, Imgart Grützmann e Isabel Cristina Arendt. A obra consta de 6 contribuições de estudiosos da obra do cientista e um anexo com as publicações científicas e literárias e duas páginas dedicadas ao necrológio.

Por ocasião do lançamento dos dois livros e a apresentação oficial do memorial itinerante a Unisinos com a sua cúpula administrativa patrocinou um evento solene no térreo da biblioteca central. Outro evento comemorativo foi organizado pela prefeitura e comunidade de Tupandi, incluindo o lançamento dos dois livros junto ao memorial que ficou exposto no solar dos Weber. Essa homenagem em Tupandi teve um significado todo especial. A comunidade local com suas lideranças lembraram um dos filhos elevado à categoria de cientista internacionalmente respeitado literalmente saído da roça, melhor, “da enxada à cátedra” de uma universidade federal e à fama de um cientista de primeira linha. Mais tarde esse memorial seria exposto inclusive no Aeroporto Internacional Salgado Filho. A justiça manda registrar aqui um reconhecimento, senão de gratidão toda especial ao grande prof. e pesquisador Martin Sander pela parte decisiva que lhe coube nesses eventos comemorativos, ao elaborar o projeto de comemoração e obter o apoio da Lei de Incentivo à Cultura, somado à captação dos recursos. Um muito obrigado do irmão mais novo do Pe. Rambo.

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