Com a aproximação do bicentenário da imigração alemã no sul do Brasil continuo apresentando obras referentes ao tema. Depois de oferecer obras da minha autoria exclusiva, sigo com outras também de referência traduzidas e editadas por mim, munidas com as notas necessárias para a compreensão do leitor de hoje. Começo com “Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do Sul-1824-1924”, no original “Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul-1824-1924”. Essa obra vem a ser o resultado do esforço de um número não determinado de colaboradores, organizada por Theodor Amstad, SJ. Permito-me reproduzir o resumo do significado dessa obra da autoria do prof. Martin Dreher, para a edição em português.
Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do sul (1824-1924), obra publicada pela “Federação de Associações Alemãs e impressa pela Typographia do Centro, em 1924 é, na realidade o fruto do esforço de Theodor Amstad, SJ. Amstad teve inúmeros colaboradores, cujos nomes não são conhecidos. O material coligido em 1924, no entanto, é de impressionante qualidade. Clássico indispensável para o estudo da imigração, o livro é novamente posto à disposição dos pesquisadores e estudiosos graças ao esforço do Prof. Arthur Blasio Rambo e da Editora Unisinos.
A produção do texto coligido por Amstad teve dois contextos. Num primeiro instante e a partir do seu título, somos lembrados do centenário da imigração alemã no rio grande do Sul, iniciada em 1824. Depois, contudo, não podemos esquecer o ano de 1922, ano do centenário da Independência do Brasil e da realização da “Semana de Arte Moderna”.
Quando do final da primeira guerra mundial e da derrocada do Império alemão, no ano de1918, parecia que a imagem da Alemanha que produzira entre os descendentes de alemães no Brasil estava destruída. Parecia, também, que se acentuava a perda da identidade. Logo após o final da guerra, porém, as autoridades brasileiras revogaram a proibição do uso da língua alemã, as escolas teuto-brasileiras puderam reabrir suas portas, os jornais teutos voltaram a ser publicados e, pouco a pouco, os valores da germanidade ressurgiram. Alijados da participação política desde os primórdios da República, quando se dera o afastamento e a eliminação do grupo liderado por Karl von Koseritz do cenário público, em sua grande maioria os teutos voltaram a se concentrar nos valores da sua etnia. Tal situação evidenciou-se especialmente nos de 1922 e 1924. Em 1922 comemorou-se a independência do Brasil e dois anos mais tarde o centenário da imigração alemã. As comemorações do ano de 1922 proporcionaram aos teuto-brasileiros a oportunidade de refletir sobre a participação dos imigrantes alemães e seus descendentes no desenvolvimento do Brasil desde a chegada de Cabral à Terra de Santa Cruz. As comemorações relativas ao centenário à imigração alemã contribuiriam para “aumentar eficazmente a consciência étnica dos brasileiros de descendência alemã, atiçar o amor à índole tradicional, alimentar o orgulho em relação à origem e despertar e aguçar o sentimento de compromisso em manter a herança dos pais. O livro que ora está sendo reeditado em língua portuguesa é uma das principais testemunhas para as proporções e o eco das manifestações. Ao lado devem ser mencionados os monumentos à imigração em São Leopoldo e em Novo Hamburgo, bem como o estabelecimento do “dia do Colono”. Essas consciência de germanidade enfaticamente proclamada colidiria, em pouco temo, com o “Modernismo” que desde 1917 estava iniciando sua caminhada, influenciando as artes e, posteriormente a política. Nele se faziam presentes traços nitidamente nacionalistas que rompiam com o romantismo, o parnasianismo e o realismo. Negando ideias e ideais europeus, buscava a independência intelectual do Brasil. Acentuava a política de defesa do “espírito nacional”, cultivando as tradições do país e sublinhando o português como língua nacional. Todo esse movimento queria “abrasileirar o Brasil”. O termo chave para a época passa ser “Brasilidade”. A “Semana de Arte Moderna” de 1922, em São Paulo, foi a primeira grande expressão desse novo movimento.
Assim, “Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do Sul” pretendeu trabalhar a uto-estima dos descendentes de teutos do Rio Grande do Sul, mostrar a contribuição teuta na formação da nação brasileira e evidenciar aos alemães no além-mar europeu as conquistas de alemães e descendentes no Brasil.
Se foi este o contexto histórico do surgimento do livro comemorativo do centenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul, nele não se esgota o valor da obra ora traduzida. Se considerarmos a ampla destruição de fontes para o estudo da imigração, ocorrida nas décadas de 1930 e 1940, devemos ser gratos ao coletivo de autores da obra pela memória fixada em “Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do Sul. Esta memória nos conta da imigração, da expansão das áreas de colonização, do desenvolvimento dos imigrantes e descendentes nos principais acontecimentos políticos da região platina, de sua economia e de sua produção cultural e intelectual até o ano de 1924.
NB. Obra traduzida por Arthur Bl. Rambo e editada pela Editora Unisinos em 1999, seguida de duas reimpressões.