Bicentenário da Imigração - 60

Documentos anexos:

A última parte  do Relatório, sob o titulo “Documentos e Traduções”, reproduz uma série de fotocópias de documentos diversos, que deveriam constituir o suporte documental para amparar a convicção de que o perigo nazista rondava de perto todos os alemães no sul do Brasil.

Segue  lista  desses documentos com seus conteúdos, a fim de que seja possível avaliar melhor a sua importância como provas da subversão nazista.

Documento nº 1. P. 189, de 22 de dezembro de 1937. 
O cônsul de Porto Alegre comunica ao “Turn und Schützerverein” de Montenegro que o ministro da propaganda em Berlim estava de acordo em financiar uma série de aparelhos de ginástica.

Documento nº 2 – p. 192 de 11 de janeiro de  1937
O cônsul alemão comunica à Sociedade de Ginástica de Montenegro  concessão de 1.000 marcos e pede enviar proposta de auxílio para poder ser encaminhada à sede no estrangeiro.

Documento nº 3 – p. 197 de 16 de setembro de 1937.
O cônsul de Porto Alegre anuncia a Hermann Heincke, da Sociedade de Ginástica de  Montenegro  concessão de 1:512$500 e pergunta como gostaria de recebê-la.

Documento nº4 – p. 203 de 30 de março de 1937.
O cônsul em Porto Alegre comunica à senhorita Irene Schwertner a concessão mensal de 100$000 da parte do consulado para custear a manutenção de um jardim de infância em Petrópolis, Porto Alegre.

Documento nº 5. – p. 207 de 20 de novembro de 1936.
O consulado de Porto Alegre comunica à Sociedade de Ginástica  a concessão de 1.000 marcos da parte do ministério do exterior alemão.

Documento nº 6. – p. 211 de 24 de maio de 1937.
Willy Ullrich confirma o recebimento de 32 discos do consulado alemão, para serem distribuídos  entre as sociedades de Boa Vista do Erechim.

Documento nº 7 – p. 215 de 31 de maio de 1937.
O professor Franzmeyer do Seminário Teuto-Brasileiro Evangélico de São Leopoldo pede  a Walter Hornig, chefe do Círculo do NSDAP de Porto Alegre a concessão de seis matrículas no valor de 9:000$000, para o Seminário Teuto-Evangélico e acrescenta o nome dos contemplados.

Documento nº 8 – p. 219 de 6 de julho d 1937.
O dr. Alderich Franzmeyer acusa o recebimento de 1:800$000 da Caixa de Previdência Nacional-Socialista, destinados a alunos pobres do Seminário Teuto-Evangélico de São Leopoldo.

Documento nº 9 – de 9 de fevereiro de 1938.
O Banco Alemão Transatlântico comunica a Hugo Muller que creditou em sua conta a quantia de  5:000$000  em benefício do Círculo Riograndense da NSDAP.

Documento nº 10 – p. 225 de 22 de setembro de 1937.
Hugo Muller, do NSV, círculo do Rio Grande do Sul, solicita ao Banco Alemão Transatlântico: que primeiramente transporte por conta do cheque com um mínimo de desconto a quantia de 5:000$000 do capital da NSV, círculo do Rio Grande do Sul, depositado neste banco a prazo fixo de 60 dias. 
Segundo. Pede para retirar o capital do NSV, depositado a 60 dias de prazo, pedindo apuração  de contas e a devolução do capital depositado.

Ao pé do documento consta:

Capital devolvido:  86:733$000
Em cheque: 5:000$000
        81:733$000

Documento nº 11 – p. 229 de 25 de abril de1938.
Consta de dois recibos, um de 50$000 e outro de  400$000 recebidos do SSV por motivo de prisão. Não  se indicam nomes. 

Documento nº 12 – p. 233 de 10 de setembro de 1936.
O partidário Henz Ahrens é convocado para interrogatório na Casa Alemã no dia 17/09/1936. 

Documento nº 13 – p. 237 de 4 de setembro de 1937.
O sr. Mutzchle de São Paulo comunica à Sociedade de Ginástica  e Tiro ao Alvo de Montenegro o recebimento de 50$000. 

Documento nº 14 – p. 241 de 15 de dezembro de 1937.
O sr. Eisele, presidente do VDV, pede  `”Liga das Sociedades Germânicas no Estrangeiro para remeter as contribuições referentes a 1937, até março d 1938.

Documento nº 15 – p. 247-248 de 15 de setembro de 1937.
O sr. Eisele, da VDV de Berlim, comunica a distribuição de prêmios à Juventude Alemã de além-mar pelas Ligas das Sociedades Germânicas.

Documento nº 16 – p. 251 de  outubro de 1937
Otto Riebes, de Hamburgo Velho, chefe do núcleo VDV, acusa a remessa de 15 discos e indica as sociedades será contempladas.

Documento nº 17 – p. 255-256 de 28 de maio de 1937.
Eduardo Springer de Novo Hamburgo, presidente da Confederação  das Sociedades de Ginástica do Rio Grande do Sul, manda um ofício ao Diretor da Folha da Tarde, pedindo correção  em informações publicadas na edição de 25 de maio de 1937. Fora publicado que estava em andamento uma aproximação e inclusive uma filiação a entidades alemãs por parte da Federação das Sociedades de Ginástica do Rio Grande do Sul. A notícia, segundo Eduardo Springer, não correspondia à verdade e só causou confusão no seio da confederação.

Documento nº 18 – p. 259-260, de janeiro de 1937 e maio de 1937. Este documento reproduz uma circular expedida pela diretoria  da Sociedade Turnerbund (Sogipa) a todas as sociedades de ginástica no Rio Grande do Sul. A circular reproduz, em primeiro lugar, uma carta do prefeito de Porto Alegre, major Alberto Bins, dirigida à assembléia geral extraordinária do Turnerbund em 27 de janeiro de 1937. Eis a carta:

O Turnerbund é uma sociedade teuto-brasileira, isto é, uma sociedade brasileira, porque a maioria de seus sócios são cidadãos que tomaram a si a tarefa de conservar  e dedicar-se à comunhão alemã. Nesta posição ela não deverá filiar ou ligar-se  à uma organização alemã do Reich, mas unicamente manter uma ligação cultural. Qualquer outra atitude do teuto-brasileiro e de suas  sociedades dificultará  o cumprimento  dos deveres populares junto ao convívio de seus concidadãos luso-brasileiros. Eu lamentaria sinceramente  fosse mal interpretada pelos associados alemães e se com isto houvesse uma cisão entre alemães e teuto-brasileiros. 
Porto Alegre, 27 de janeiro de 1937
(ass.) Albelrto Bins  (Relatório I, 1942), p. 250)

Segue  esta carta  circular assinada pela diretoria do Turnerbund:

O conteúdo desta carta importantíssima vigora para todos nós teuto-brasileiros, para todas as sociedades de ginástica da Confederação das Sociedades de Ginástica do Rio Grande do Sul, nas quais os teuto-brasileiros em absoluta maioria, em grande maioria, e por isso também responsáveis  no sentido mais completo da expressão – pelas deliberações que não se possam unir com os deveres  de brasileiros natos ou naturalizados.Temos que seguir um caminho reto e resoluto, que segundo  seguimos já há 40 anos com sucessos consecutivos.
Não nos ligamos a nenhuma organização alemã do Reich, mas somente mantemos relações culturais.
A Confederação das Sociedades de Ginástica do Rio Grande do Sul e do Reischsbund für Leibesübungen, não se opõe ao intercâmbio  cultural. Neste ponto existe unanimidade entre os associados do Turnerbund, cuja diretoria, no decorrer dos anos também em tempo recíproco, chegou à conclusão, que também sem o mencionado  “Anschluss” será possível um trabalho muito amigável com as associações na Alemanha, sendo ainda hoje, como nos anos anteriores, possível e desejdo, um compreensão por ambas as partes para o bem de todos. Quem perceber em nossa atitude cheia de experiência e fidelidade uma lança contra a Alemanha e sua direção, a este falta competência no julgamento de uma questão tão importante.
Numa sessão dos delegados da Confederação das  Sociedades de Ginástica do Rio Grande do Sul (sessão extraordinária) deverá ser feita uma deliberação definitiva sobre o “Anschluss” da Confederação ao “Reichsbund für Leibesübungen, Berlim” – Antes, porém, deverá ser convocada  uma assembléia geral em  todas as sociedades de ginástica  e departamentos para deliberar sobre o referido “Anschluss”.
Prezados  irmãos esportivos. Não podemos, não devemos dar para isso o nosso apoio, porque isso seria uma junção e uma ligação. 

Porto Alegre, maio de 1937
Aloys Friedrichs – Presidente de honra do Turnerbundr. Waldemr Niemeyer – 1º presidente
Willy Kohs – 2º presidente
Heirich Neurich – 3º secretario
Adolf Trein – 4º secretario   (Relatório I, 1942, p. 259-260)

Lendo e relendo esta circular dirigida à Confederação das Sociedades de Ginástica do Rio  Grande do Sul, chega-se à mesma conclusão que aquela que resultou do artigo de Reinhardt Mark, reproduzido em parte no Relatório II. Antes de servir como argumento para denunciar a infiltração nazista no Rio Grande do Sul, constitui-se num prova  de que setores teuto-brasileiros significativos, se opuseram às manobras dos agentes de propaganda e aliciamento nacional-socialistas. A circular  transforma-se  desta maneira numa autêntica  contraprova de tudo que o Relatório  I e também o Relatório II, se propuseram a comprovar.

Documento nº 19 – sem data – p. 261
Este documento resume-se num anúncio que oferece o Manual dos Alemães da Fronteira e do Esterior, caderno 38/39

Documento nº 20 – p. 267 de 1937
O documento reproduz o programa de celebrações do dia 1º de maio de 1937 para a DAF (Deutsche Arbeiterfront) do Brasil.

Documento nº 21 – p. 271 de 7 de setembro de 1936. 
Neste documento E. Dorsch pede ao núcleo de Sant Cruz o preenchimento  de questionário solicitado pela AO (Ausland Organisation). 

Documento nº 22 – p. 275de 25 de janeiro de 1938.
Erwin Marx, de Porto Alegre, comunica a E. Dorsch que recebeu as diretrizes e os formulários de proposta. O documento diz textualmente:

Comunico-lhe o seguinte: Aqui na praça não existe nenhuma organização, não tendo por isso um fiador para assinar a proposta. 
Se, porém,  houver qualquer dúvida sobre a minha pessoa peço pedir informações ao sr. Emil Fritsch de Santo Ângelo. 


O dinheiro das joias e das mensalidades lhe remeterei pelo correio. (Relatório I, 1942, p. 275)

Documento nº 23 – p. 279 de 17 de janeiro de 1936.
Erwin Becker, de Porto Alegre, comunica ao Sr. Ellwanger a sua ida até Santa Cruz e Venâncio Aires para aí  fazer uma palestra sobre a viagem à Alemanha.

Documento nº 24 – p. 283  de 29 de julho de 1935.
Otto Ernst Meyer comunica ao Sr. Dorst que não poderá participar, junto com os companheiros, na ida ao aeroporto e à ilha, por ter que viajar para o Rio de Janeiro por causa de tratativas  no Ministério da Viação. Pede também que se adie tal visita e que os companheiros aproveitem o ordenado do fim do mês para pagarem as contribuições.

Documento nº 25 – p. 287 de 8 de abril de 1835.
O Sr. Stakerjan pede ao sr. Otto Meyer, diretor da VARIG, a gentileza de transportar para o Rio e Janeiro a quantia de 1:707$300 e uma carta destinada ao Grupo de Profissionais Alemães de lá. 

Documento nº 26 – p. 191 – sem data
Na realidade são dois documentos. Um data de novembro do ano (?) em que o missivista indica no nº 21 do Deutshes Volksblatt com o artigo: Nós protestamos contra as intrigas nazistas”, para municiá-lo com mais este material na sua campanha contra o  nazismo. Na mesma carta o autor denuncia  que o jornal nazista “Deutscher Morgen” continuava aparecendo, apesar das denúncias e a intervenção da policia. Em dezembro o mesmo missivista  de São Paulo escreve que lamenta não receber os jornais pedidos, porque os jornais anti nazistas não chegavam mais até São Paulo.

Documento nº 27 – p.  291 de 02 de janeiro de 1939. 
Apresenta sem comentários uma fotocópia de uma fatura G.A.V.  Halem, de Bremen, de uma compra feita por H.W. Ludwig, de Porto Alegre.

Documento nº 28 – p. 292, sem data.
Reproduz,  sem comentários, uma foto da porta lacrada da sede da “Die Detusche Arbeiterfront”. 

Várias são as considerações que se poderiam fazer sobre o Relatório I, tomado como um todo. Quero, entretanto, chamar a atenção para dois pontos que parecem fundamentais  para avaliá-lo como dossiê comprobatório do perigo nazista generalizado no Rio Grande do Sul.

Primeiro. Todas as evidências levam à convicção de que o perigo nazista realmente existiu como já foi lembrado mais acima. Os agentes e as agências de propaganda, entretanto, eram perfeitamente conhecidos  pela policia e as sedes dos focos de irradiação sabidas. O perigo nazista, portanto, reduzia-se a um caso de policia localizado.

Segundo. Dos 27 documentos arrolados como provas no final do Relatório I, somente quatro são posteriores ao 10 de novembro de 1937, data da implantação do Estado Novo. 23, portanto datam de um período em que não havia restrições legais para o funcionamento de tais atividades. 

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