Bicentenário da Imigração - 33

Na entrada do século vinte a colonização alemã atingira proporções tais que  a infra-estrutura das comunidades já não tinha condições de atender satisfatoriamente às exigências  que o progresso e  dispersão geográfica para regiões sempre mais afastadas traziam como conseqüência inevitável. Foi preciso pensar em meios e estratégias capazes de acompanhar o constante aumento da produção, as exigências econômicas, o bem estar social, o aprimoramento da escola e educação, a elevação do nível cultural, a dinamização da religião e religiosidade. A agricultura reclamava métodos de produção mais aprimorados e a introdução de novas culturas. A criação de animais exigia a melhoria genética e novas raças. Enfim era preciso acompanhar o ritmo do progresso, sob pena de ficar à margem da dinâmica do Pais. 

Cônscias dessa realidade as lideranças leigas e religiosas fundaram em 1900 a Associação Riograndense de Agricultores. Seus idealizadores demonstraram uma abertura de visão fora do comum e sob vários aspectos precoce para a época. A Associação propôs como finalidade a defesa e o incentivo da economia regional e nacional, estimulando a produção dos mais diversificados bens a fim de diminuir a dependência do estrangeiro pelas importações  e, ao mesmo tempo, dar início à instalação de pequenas indústrias. Com o tempo elas deveriam evoluir para um parque industrial regional diversificado e moderno. O que, entretanto, se constituiu numa surpresa  maior foi o fato de a Associação dos Agricultores pelos seus estatutos ter sido uma proposta interconfessional, interétnica e intercultural. Fundada pelas lideranças católicas, convidou os protestantes para a participarem assim como os ítalo e luso-brasileiros. 

A interconfessionalidade tornou-se realidade desde o começo. Já na primeira assembléia geral em 1900, os padres católicos e os pastores protestantes, as lideranças de ambas as confissões e os simples colonos, sentavam-se unidos na mesa de debates. Juntos analisavam os problemas existentes, procuravam soluções e traçavam as linhas de ação que lhes pareciam convir mais. As querelas de natureza doutrinaria e disciplinar não interferiam.

O primeiro obstáculo para um êxito mais duradouro da Associação dos Agricultores tinha a ver com uma participação menos significativa  dos luso-brasileiros e dos ítalo-brasileiros, motivada pela língua. O segundo obstáculo teve a ver com a economia praticada pelos lusos da campanha e dos campos de cima da serra. Os problemas específicos envolvendo as grandes estâncias de criação de gado, em nada se assemelhavam daqueles que eram próprios das pequenas propriedades em que se praticava uma agricultura familiar diversificada. A efêmera vida da Associação foi mais um dado que impediu que ela rendesse mais resultados.

Mesmo assim os imigrantes  alemães no Rio Grande do Sul desmentiram com sua Associação, a acusação de terem cultivado o isolamento em relação às demais etnias e culturas da região. De outra parte os católicos e protestantes anteciparam-se em sessenta anos ao Concílio Vaticano II e ao Conselho Mundial das Igrejas, deixando de lado séculos de disputas e guerras, para  se aliarem em torno de um projeto comum de promoção humana. 

Dos debates, das propostas e das conclusões resultantes das assembléias gerais, passaram para a prática algumas decisões que iriam marcar em definitivo a economia dos estados do Sul. A mais importante delas foi a implantação das primeiras cooperativas de crédito e de produção na região colonial alemã e italiana. A primeira cooperativa de crédito começou a atuar em Nova Petrópolis em 1902. Foi o marco inicial, o ponto de partida para que, em pouco tempo, dezenas delas  socorressem os colonos desejosos  de assegurar as suas economias ou valer-se de empréstimos a juros acessíveis. Às cooperativas de crédito seguiram-se  cooperativas de produção, de consumo, de comercialização e outras mais. A Associação dos Agricultores patrocinou  as  cooperativas de crédito financiaram a colonização de Cerro Largo e Santo Cristo, na região das Missões. A Associação preocupou-se também em difundir técnicas modernas de manejo do solo, a introdução de novas culturas, enfim, a modernização da agricultura. Dela partiu o primeiro alerta contra a derrubada sem freios das matas e as conseqüências funestas que daí poderiam resultar. 

Foi uma lástima que a Associação Rio-grandense de Agricultores tenha tido uma existência tão efêmera. Na assembléia geral de 1909 em Taquara foi transformada em sindicato rural. Os motivos alegados foram as leis federais que regulamentavam as associações de classe. A Associação optou pela modalidade de um sindicato para usufruir os benefícios legais. No fundo, porém, outros motivos devem ter contribuído. Entre eles provavelmente a impossibilidade de engajar  os luso brasileiros e os ítalo-brasileiros devido a diferença das línguas e das disparidades  da economia  praticada pelos primeiros. Pelo que se pode deduzir  das entrelinhas dos documentos da época, é legítimo concluir que outros fatores devem ter contribuído. Do lado católico certas autoridades eclesiásticas acompanhavam com apreensão o relacionamento diuturno e amistoso com os protestantes. A mesma preocupação inquietava também algumas lideranças protestantes. 

O padre jesuíta Theodor Amstad, idealizador principal da Associação Rio-grandense de Agricultores, limitou-se em suas Notas Autobiográficas, a uma lacônica observação ao tratar do assunto. Afirmou que foi sua primeira experiência  no campo do associativismo; que a entidade fora pensada em termos inter-confessionais e inter-étnicos; e que a experiência fora prematura. 

A esta altura já não importam os motivos reais que determinaram a breve existência da Associação. O que lhe confere, na verdade, uma importância única foi o modelo proposto, a visão ampla dos seus idealizadores e o espírito desarmado em relação aos outros grupos confessionais e étnicos. Na sua atuação concreta conseguiu em apenas dez anos, pôr em marcha um projeto de desenvolvimento humano global, fundamentado no princípio da solidariedade, da cooperação e do compromisso mútuo. Se hoje o cooperativismo é uma realidade, se seu logotipo pode ser encontrado em qualquer núcleo colonial um pouco maior dos três estados do Sul, é prova de que o modelo proposto na primeira década do século XX prometia algo de consistente. Há muito tempo as cooperativas ultrapassaram as fronteiras da região colonial alemã. Os ítalo-brasileiros e os luso-brasileiros aderiram a elas com entusiasmo.

Escrever a história da economia do Sul do Brasil ignorando a importância da Associação Rio-grandense de Agricultores, significa omitir uma parcela de vital importância. Mas, com o encerramento das atividades da Associação não esmoreceu a vontade de associar-se. Lamentavelmente a colaboração interconfessional e interétnica teve que ser arquivada pelo menos a médio prazo. Católicos e protestantes partiram, cada qual, para um projeto próprio e independente. 

Os protestantes criaram a Liga União Colonial que pautou seus objetivos de acordo com o que haviam aprendido e praticado na Associação dos Agricultores. Empenharam o melhor das suas energias  no sentido de assegurar aos colonos sob sua responsabilidade, os meios necessários para o progresso material, cultural e religioso. 

Em 1912 os católicos fundaram a sua própria associação, inspirada nas associações católicas da Alemanha, Suíça e Áustria. Chamaram-na  de Sociedade União Popular, (Volksverein). Escolheram como lema a frase de São Paulo: “Omnibus Omnia – Tudo para todos”. Como a sua congênere protestante foi marcada com uma forte orientação confessional. O principal articulador da Sociedade União Popular foi o Pe. Amstad, que fora também a alma da Associação Riograndense de Agricultores. Contou, desde o começo, com a fiel colaboração do jornalista Hugo Metzler e dos padres Johannes Rick, Max von Lassberg, Franz Murmann e muitos outros.

A nova associação foi, em linhas gerais, uma versão católica confessional da Associação dos Agricultores. Em vez de assembléias gerais promoviam de dois em dois anos  Congressos Gerais, os “Katholikentage”. Nessas ocasiões submetia-se ao um balanço rigoroso a situação religiosa, social, econômica e cultural. Os problemas eram identificados e analisados, propostas soluções e traçadas estratégias. Os anais desses  congressos gerais dão bem uma idéia do que foram e o que significaram. Infelizmente também eles foram vitimas da Campanha de Nacionalização e da Segunda Guerra Mundial. No começo da década de 1950 houve várias tentativas de retoma-los, mas as circunstâncias profundamente alteradas fizeram com que não passassem de tentativas. 

Desde a sua fundação a Sociedade União Popular contou com uma publicação periódica própria, O “Sankt Paulusblatt”. Com suas edições mensais veiculava  pela região colonial informações, orientações, notícias ao mesmo tempo em que oferecia matérias de leitura recreativa. A publicação constitui-se numa verdadeira mina para quem quiser realizar um estudo completo do que foi a colônia alemã entre 1912 e 1960. A publicação sobrevive ainda, mas reduzida a um meio de informações apenas de interesse social e  religioso, além de matérias de recreação.

Depoimento do Pe. Rick
As mudanças ocasionadas entre os imigrantes alemães devido às circunstâncias peculiares  no sul do Brasil, foram magistralmente caracterizadas pelo Pe. Rick, um dos mais argutos lideres da colonização na primeira metade do século XX. 
  
O relativo isolamento do Hunsrück pelo ano de 1824, caracterizou também a primeira colônia alemã no rio Caí e Sinos. Não existiam nem caminhos, nem estradas. Na época nem na Europa se conhecia o telégrafo nem telefone. Apenas havia disponível um tal ou qual serviço postal. A mata estendia-se para o interior aparentemente ao infinito, despovoada à exceção das aldeias de alguns índios selvagens. Pode-se deduzir, portanto, que os alemães povoadores da mata não foram influenciados por qualquer outra circunstância. 

O clima era radicalmente diferente daquele das suas terras de origem. Subtropical, vizinhando-se por exemplo daquele da Lombardia. Excluindo os três meses  de verão muito quentes, é ameno, assemelhando-se às condições reinantes no mês de junho da Europa, com  a diferença que ocorrem muito mais dias ensolarados. A luz e o sol conferem cores vivas às flores e aos homens uma jovialidade que conduzem a uma tal ou qual superficialidade.

Para atender às necessidades corporais havia tudo em abundância uma vez superadas as dificuldades dos primeiros anos. No novo lar, portanto, havia  grandes diferenças  em relação ao antigo. Sem dúvida foi necessário um trabalho duro também aqui, até mais do que no Hunsrück. Eram, porém, recompensados  com alimentos de boa qualidade, coisa de que não raro se sentia faltava nas terras de origem. 

O atendimento às  exigências  do espírito e da alma contudo era precário. A escolaridade resumia-se  no começo  ao mínimo. Faltavam simplesmente professores  formados ou  os poucos formados não suportavam  indefinidamente as condições  miseráveis. Assim, devido à primeira das circunstâncias, o nível de instrução das crianças na escola mostrava-se em extremo precário. Encontravam-se, entretanto, entre os adultos, pessoa com escolaridade suficiente capaz de oferecer às crianças a instrução elementar mais indispensável. Durante 40 anos  não se contou com sacerdotes que falassem a língua dos imigrantes.

Exigiam-se muitos dias de viagem  para receber os sacramentos do batismo e do matrimônio. É verdade que se realizavam regularmente devoções nas quais se liam os sermões dos manuscritos do Goffine. Em certas ocasiões celebrava-se até um  culto solene. Nessas ocasiões o fabriqueiro realizava  as cerimônias no altar. Omitiam-se, como é óbvio, os atos  privativos de um sacerdote. Para essa primeira geração de imigrantes, porém, não havia  nem confissões, nem  missa, nem comunhão. A partir de 1849 chegaram então sacerdotes alemães. Com eles foi salva tanto a formação incluindo a religiosidade. Hoje florescem paróquias nos locais dos antigos assentamentos, colégios de irmãos e irmãs. 

Frente a essa constatação notam-se as seguintes mudanças em relação àquelas da terra de origem:  Para os alemães o transplante para o interior da floresta significou, apos alguns anos, uma melhora nas condições  físicas  de vida. As condições  culturais e espirituais, porém, foram muito piores e por um longo tempo. O revigoramento físico é demonstrado pela idade avançada alcançada por muitos alemães natos, embora não houvesse médicos naquela época. As populações aqui nascidas acreditam inclusive numa espécie de lei da natureza, responsável pela longevidade maior do europeu imigrado, do que a dos brasileiros de origem européia aqui nascidos. Os primeiros europeus alcançaram idades entre 70 e 90 anos e os seus descendentes de 60 a 70. É evidente e indiscutível que a primeira e a segunda geração produziu homens excepcionalmente vigorosos. Hoje a quarta  e a quinta geração mostra um teuto-brasileiro mais  franzino e menos robusto. Todavia não faltam hoje – sob o aspecto corporal – representantes legítimos  do vigor alemão. O habitante primitivo, o guarani, ostentava uma estatura pequena e uma corpo franzino. A evolução parece indicar que o teuto-brasileiro irá, neste sentido, aproximar-se dele. A superabundância  de alimentos conduz a uma alimentação exagerada. Talvez se deva ao comer demais, de modo especial o constante consumo de carne, o inegável declínio da robustez física. Será que para tal não contribui também a alimentação irregular das crianças, associada ao consumo precoce de carne?. Observei muitas vezes crianças não desmamadas servir-se de uma coxa de galinha cozida.

Conclui-se de tudo isso que, apesar das circunstâncias inteiramente diversas, os teuto-brasileiros não se diferenciavam essencialmente dos alemães  do reino, até 1870. A própria língua continuou sendo o dialeto do Hunsrück misturado com meia dúzia de palavras brasileiras. A maioria prefere ainda hoje esse dialeto ao alemão erudito. Há alguns anos quando cavalgava  por um caminho estreito na mata virgem de uma colônia nova, veio ao meu encontro um carro de bois, sem dar espaço para passar. O carroceiro só me notou no último momento. Desculpe padre eu acabei de pegar o “Brummbär” no correio e não me contive e ataquei  a leitura (Brummbär é um tabloide humorístico no dialeto do Hunsrück).

A primeira geração de alemães morreu. Os modernos meios de comunicação ocasionaram o contato com todo o mundo circundante. Nas escolas do governo e também nas escolas particulares, alemães de melhor nível começaram a insistir no aprendizado da língua do país. A participação política penetrou  nas colônias e o serviço militar obrigatório tornou-se universal. Todas essas influências  induziram uma variação pela qual os teuto-brasileiros se diferenciaram dos alemães das terras de origem Os teuto-brasileiros distinguem-se ainda hoje pela religiosidade, pela operosidade, pela parcimônia, pelo espírito caseiro, pela preocupação com a escola e igreja e pelo senso quase fanático pela ordem. É possível distinguir os assentamentos alemães  dos demais, pelas linhas retas em que costuma derrubar o mato, pelas cercas bem alinhadas, pela casa aconchegante, pelos jardins e pomares e pelas roças limpas e sem inço. Essa herança preciosa  perdura até hoje. Entrementes os teuto-brasileiros livraram-se de alguns defeitos. Os primeiros imigrantes, por exemplo, eram chegados ao consumo da cachaça. Até os anos oitenta há registros de  queixas neste sentido nos livros de tombo das igrejas. De então para cá desapareceram. Os teuto-brasileiros de hoje representam o povo mais sóbrio que eu conheço. O bêbado  passou a ser uma aparição rara, enquanto entre os italianos, ainda hoje é muito freqüente. O brasileiro de hoje oferece a cuia ao visitante. A cuia é um porongo pequeno oco e seco. Enchido com erva (ilex paraguaiensis) – popularmente  chamado de mate. Sobre ela se despeja água quente. Introduz-se uma cânula de metal, que na extremidade munida com alargamento com orifícios e na extremidade superior com um bocal. Um por um os participantes esvaziam a cuia.  Novamente cheia passa para  o seguinte. Desta maneira a cuia faz a roda como se fosse um cachimbo da paz. Os imigrantes do Hunsrück  perderam a característica de brigões. O egoísmo alemão e a desunião perduram até hoje, mas são superáveis com muito mais facilidade, porque o teuto-brasileiro de hoje é menos teimoso. Os antigos aceitavam uma palavra dura mas honesta, os jovens já não. Neste caso eles se retraem e fica difícil reconquistá-los. São assustados, quietos e impressionáveis. A rudeza sem destruir a elegância na maneira de ser dos antigos, cedeu lugar a uma aproximação da índole mais suave do brasileiro. Os antigos educavam os filhos com rigor. Essa situação mudou. O relacionamento com os filhos assumiu uma linha fortemente temperada pelo coração e pelos sentimentos. De outra parte as crianças são menos rebeldes do que os meninos tipicamente alemães. Sob este aspecto ao menos o teuto-brasileiro de hoje afasta-se, de forma menos desejável, da maneira de ser dos pioneiros.   Palavra empenhada por um alemão  já não se caracteriza pela mesma solidez de antigamente. Os primeiros imigrantes sobreviviam no meio da mata sem qualquer garantia legal. No relacionamento das pessoas e nos negócios o que importava era a palavra empenhada. Tornou-se uma máxima o dito: “Eu não engulo a minha própria palavra”. Hoje, não raro acontece que “se engole” a palavra juntamente com o documento.

A atitude em relação à terra de origem é morna  entre os que nasceram aqui. A Alemanha situa-se num distante próximo ao lendário. O homem  comum  é incapaz de imaginar com exatidão o que seja essa terra. Não está em condições de entender a sua realidade política.  Não é de se admirar já que ele também não se preocupa muito com o que acontecer aqui no país. É um bom brasileiro. Trabalha com aplicação, paga regularmente os impostos, apresenta-se  para o serviço militar, vota num candidato, mesmo que não saiba que tipo de personalidade ele é. Se perguntado, em quem votaste?, a resposta pode ser esta: “votei num certo bichão”. 

Foram postos em andamento mecanismos  associativos com a finalidade de promover os próprios interesses. Acham-se em fase de concretização e, em certos casos, em pleno funcionamento, A Sociedade União Popular, A Liga, As Caixas, novas Colonizações e Cooperativas. Reunir os alemães  para um empreendimento comum requer, entretanto, um trabalho enorme. Neste particular não se percebe nenhuma mudança em relação aos antigos  imigrantes.

A grande maioria dos alemães são colonos. Contudo nos últimos anos a fundação e o desenvolvimento  de centros urbanos, número considerável deles encaminhou-se  para o comércio e a indústria. Devido às famílias numerosas – dez filhos parece ser a media – foi preciso, de tempos em tempos, instalar novas colônias mais para o interior, iniciativas a cargo do governo ou de companhias particulares. As colonizações patrocinadas pelo governo são inter-étnicas e inter-confessionais, por isso mesmo menos procuradas, enquanto as de iniciativa privada são assentamentos homogêneos. Elementos saídos das antigas colônias  nos anos setenta,  (1870), ocuparam Lajeado, Estrela, Santa Cruz e Venâncio Aires. No começo do século XX, seguiram Sobradinho, Selbach, Serro Azul, (Cerro Largo)  Santa Rosa e Ijuí. Desta forma os alemães haviam-se aproximado do rio Uruguai. Naquela mesma época os protestantes fundaram Neu Würtenberg. (Panambi)  A colonização por alemães católicos transpôs e 1925 o rio Uruguai, entrando no estado de Santa Catarina e aproximando-se da fronteira com a Argentina. Um pouco antes, povoadores protestantes vindos da Alemanha tinham-se estabelecido em Porto Feliz, (Mondai) mais ao norte. A Sociedade União Popular fundou a colônia católica  ainda em fase de implantação. Porto Novo sede paroquial é o centro dela.  Também no futuro os colonos alemães avançarão com certeza cada vez mais sobre a mata virgem. Os membros das famílias mantem uma coesão até comovente. Os pais acompanham os filhos quando casam e se dirigem para as colônias novas. Nas colônias antigas a terra é muito cara. Torna-se assim impossível os pais adquirir aí terras para todos os filhos. Nas colônias novas conseguem adquirir terra o bastante para todos os filhos, com o dinheiro economizado, alem de sobrar ainda uma boa soma. Enquanto existir tanta mata virgem  no interior é preciso saudar como bem vindo esse tipo de ocupação pois, é a válvula de escape que impede que as colônias antigas se enfraqueçam. (Até aqui o Pe. Rick)

Pelo que se pode concluir por essas páginas, os imigrantes alemães e seus descendentes cumpriram, e ainda estão cumprindo uma importante missão no cenário nacional brasileiro. Emigraram das então empobrecidas regiões  da Europa central com a esperança de edificar em terras brasileiras um futuro mais promissor para si próprios e seus descendentes. O Brasil lhes pôs à disposição as vastas áreas cobertas de florestas que cobriam em grande parte os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Essa região de fronteira, pouco habitada, pedia o mais rapidamente possível uma ocupação maciça e permanente. Foi para lá que se encaminharam os imigrantes alemães a partir de 1824. Enfrentando enormes dificuldades lançaram os fundamentos de um modelo agrário até então desconhecido no Brasil: a pequena propriedade familiar com o objetivo para a policultura de subsistência. 

Vencidos os desafios do começo, os imigrantes organizaram-se em comunidades com suas igrejas, escolas, cemitérios, casas de comércio, artesanatos, hospitais e locais de lazer. Depois de uma fase de sobrevivência, consolidaram-se e finalmente progrediram e prosperaram. Contavam na escola  como a responsável maior pelo nível de formação mínimo exigido de um cidadão e na igreja como a instituição que preservou  a religiosidade  na sua essência. 

No começo do século vinte quando as comunidades se contavam aos milhares, quando as fronteiras de colonização entravam nas reservas de florestas virgens na Serra, Missões e Alto Uruguai, foi preciso pensar em organizações mais abrangente. Surgiram então as grandes organizações: primeiro A Associação Rio-grandense de Agricultores, depois, em seu lugar, a Liga União Colonial, os Comitatti, e a Sociedade União Popular. Nas assembléias gerais dessas Associações analisavam-se as questões de interesse geral dos colonos, acertavam-se sugestões e soluções e acertavam-se estratégias.

A resultante humana dessa fórmula peculiar que os imigrantes alemães encontraram  resultou no cidadão também peculiar que muitos convencionam chamar “Teuto-Brasileiro”. Quem viaja pelos estados do sul do Brasil, Rio grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, especialmente na porção Central, Norte e  Oeste, encontra esse cidadão perfeitamente integrado na vida nacional, cultivando ainda os valores e tradições dos seus antepassados, firmemente ancorado na sua comunidade e, não raro na comunicação diária utilizando-se dos dialetos oriundos das províncias da Alemanha de origem, visivelmente adaptados à língua e às condições locais.

This entry was posted on terça-feira, 24 de maio de 2022. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.