O projeto de colonização em andamento progredia numa dinâmica e ritmo praticamente igual ou ao menos muito parecido ao de outros empreendimentos similares em toda América Latina da época, na Argentina, Brasil, Paraguai, etc. Tratava-se de tarefa para pioneiros decididos a enfrentar uma natureza desconhecida, selvagem, entregues a si mesmos num total isolamento, rodeados por um contexto social totalmente estranho e não poucas vezes hostil, sem vias de comunicação, sem um mínimo de conforto, privados de assistência médica, educacional e religiosa.... No caso da imigração alemã para o Chile interpuseram-se algumas dificuldades específicas. Uma das condições impostas a Philippi foi que apenas levasse imigrantes alemães católicos. Aconteceu, porém, que vários bispos católicos fizeram restrições à emigração de católicos e assim ele incluiu entre os imigrantes uma maioria de protestantes, fato que lhe valeu uma posterior hostilidade da parte dos chilenos.
Uma outra dificuldade apareceu quando as primeiras levas arregimentadas por Philippi chegaram. Constatou-se que as terras nas proximidades de Valdivia já não estavam disponíveis e aquelas das proximidades do lago de Lhanguihe eram praticamente inacessíveis. Com a chegada de mais e mais levas de imigrantes estes começaram a ser encaminhados para o velho forte de Corral e ao atual Puerto Montt. Aí permaneceram durante dois anos nas condições mais precárias imagináveis. Puerto Montt foi oficialmente inaugurado em 1853. Pouco tempo depois as terras nas margens do lago foram medidas e distribuídas. Os colonos receberam a crédito uma junta de bois, uma vaca, 200 tábuas, pregos e outros artigos necessários para construírem as casas. Em cartas que datam da época fala-se das grandes dificuldades encontradas com o manejo da floresta, a carência de carretas de quatro rodas, o inverno inclemente acompanhado de fome e privação. Não demorou, porém, dentro de alguns anos, as povoações perto do lago, assim como Puerto Montt, Puerto Varas, Puerto Arenas, Osorno, Frutillar, Valdivia etc., começaram a exibir um visível progresso.
Os imigrantes alemães que povoaram o sul do Chile, procediam, como aconteceu também no Brasil e na Argentina, de todas as regiões da Europa onde predominava a assim chamada "ordem alemã". Correspondia, em grandes linhas, á atual República da Alemanha, territórios da Pomerânia, Silésia, Boêmia e Prússia Oriental, incorporados depois da segunda guerra mundial á Rússia, Polônia e á República Checa, à Áustria, Suíça, Alsácia e Lorena, Luxemburgo e alguns territórios menores na periferia. O contingente mais significativo, entretanto, procedeu de Hessen, Kassel e Rotenburg devido à influência dos irmãos Philippi. Contingentes ainda significativos emigraram da Silésia, de Württemberg, Vestfália, Brandenburgo, Saxônia, Hannover e Hamburgo. Na década de 1870, depois que as margens do lago de Lhanguihue estavam completamente ocupadas, aportou mais um grupo significativo procedente da Boêmia. Fundaram em 1875 Nueva Brunau. Completara-se assim a primeira fase do povoamento por imigrantes alemães das terras disponíveis na proximidades do lago de Lhanguihue no sul do Chile.
No decorrer das décadas de 1870 e 1880 o governo chileno lançou-se à tarefa de incorporar no esquema produtivo do País a grande área localizada entre o Chile meridional e central denominada "Frontera". Originalmente havia sido reservada para os índios araucanos. Um pequeno grupo de imigrantes alemães, contudo, veio a fixar-se no território já em 1850. Quase uma década depois, em 1858 e 1859, um outro pequeno grupo de 36 famílias foi assentada na localidade de Humán. A rebelião dos índios de 1859 fez com que as autoridades chilenas desistissem temporariamento do projeto de colonização da Frontera. Formando uma pequena minoria esses imigrantes, ao contrário dos do sul, não tardaram em abandonar a língua e os costumes alemães em meio a uma população predominantemente chilena.
A ocupação da Frontera com imigrantes europeus, experimentou um considerável alento nas décadas de 1870 e 1880, depois que ações militares contra os índios e uma nova legislação de colonização franquearam o território para colonizações de maior porte. Dos 36092 imigrantes que entraram na região entre 1883 e 1898 apenas 2041 foram alemães. Uma minoria, portanto que se concentrou principalmente em Contulmo, Timuco e Quillén. Procediam das regiões ao leste do Elba e da Alemanha do Norte e interessavam-se mais por ocupações urbanas do que pela agricultura. É óbvio que a dispersão de uma minoria dessas num território tão vasto impedisse a formação de comunidades alemãs fechadas como aconteceu no sul. Dispersaram-se por isso em doze assentamentos diversos por todo o território, compartilhados com outros europeus e com chilenos.
No começo do século 20 ocorreu mais um pequeno assentamento em Comuy no território da Frontera. A companhia de colonização "Sociedad Ganadera e Industrial de Valdivia" recebeu do governo chileno 20000 hectares, localizados a 30 quilômetros distantes da estação da estrada de ferro Pitrufquén. O contrato previa que as terras fossem colonizadas com imigrantes vindos da Europa. A companhia, entretanto, as ocupou com elementos mal sucedidos na ilha de Chiloé e outras colônias localizadas na área de mata virgem. Sem estradas e outras vias de comunicação a vida para esses pioneiros foi extremamente dura. A maioria deles transferiu-se como assalariados para a cidade de Temuco, outros abandonaram a região e os que ficaram tiveram muitas dificuldades em progredir de alguma forma. Em 1912 desembarcaram na colônia 23 novas famílias vindas da Alemanha, inclusive duas do Brasil, seguidas depois por suíços alemães, teuto-russos e europeus de várias procedências. Formou-se assim uma colônia mista que ao final da primeira geração mostrava sinais evidentes de prosperidade com moinhos de trigo, serrarias, tornearias, marcenarias, etc. em pleno funcionamento.
Em 1924 foi criado um fundo para a colonização e em 1929 ocorreu o assentamento pelo governo chileno, de um grupo de famílias católicas bávaras em Peñaflores, nos arredores de Santiago. Dedicaram-se principalmente à cultura de hortaliças e frutas. A este último projeto de imigração seguiram mais outros menores com o de La Serena em 1951 e o controvertido grupo de 230 imigrantes vindos de Siegburg nas margens do Lahn em 1961. Compraram a gleba El Lavadero e entre 1966 e 1968 provocaram uma grande controvérsia pelos jornais por causa de sua maneira de ser um tanto misteriosa. Abstraindo, porém, deste particular a Colonia Dignidad ou "La Sociedad Benefactora y Educacional Dignidad", nome pelo qual é conhecida oficialmente, contribui, ainda hoje, de forma decisiva para o progresso de toda a região.
A pedra fundamental do teuto-chilenismo foi indubitavelmente colocada durante o século XIX. Durante o século XX seguiram ainda algumas ondas imigratórias pequenas e até minúsculas. Os descendentes dos teuto-chilenos do sul expandiram-se para outras regiões. Assim, por ex., encontravam-se, já em 1895, alemães e seus descendentes no Chile inteiro, a começar pelo estreito de Magalhães até o deserto de Atacama, nas pequenas e grandes cidades e até nas aldeias mais afastadas. Os filhos dos colonos do mar casavam e circulavam no circuito das velhas colônias, até Osorno e Valdívia. Raramente ultrapassavam a Frontera. Os filhos de famílias mais ambiciosas formaram-se professores, médicos, engenheiros de minas ou funcionários. Outros tocavam pequenos negócios ou trabalhavam para as grandes indústrias do norte. Uma minoria dos antigos colonos se deu mal e teve que ser amparada pelos patrícios. Na obra monumental "Die Deutschen in Lateinamerika" a gênese e a dinâmica do teuto-chilenismo foi assim resumida:
Como se pode ver a onda imigratória de alemães para o Chile aconteceu durante o século 19. Apesar de terem encontrado dificuldades no início da imigração, pode-se dizer que elas foram relativamente simples para os colonos. Entre os anos de 1850 e 1870 os preços das terras do governo permaneceram relativamente estáveis. Acresce ainda que na época os ibero-chilenos estavam mais interessados no Chile Central, facilitando-se assim o assentamentos de grupos inteiros de alemães no sul. Com o correr dos anos os colonos do sul multiplicaram suas propriedades. Assim, por ex., em 1903, 32 das 34 maiores propriedades de Valdívia encontravam-se em mãos de famílias com sobrenome alemão. A mesma situação valia para Puerto Montt e Puerto Varas. (Fröschle, 1979, p. 313)
Conforme um relatório de 1940 os alemães ou seus descendentes ocupavam cerca de 1,5 milhões de hectares, importando em 7,5 por cento das terras aproveitáveis de todo o país. Até 1898 a legislação impedia os chilenos autóctones colonizar o sul e a chamada Frontera. Esta é uma explicação ao menos parcial para o fato de os imigrantes alemães predominarem na região. Essa legislação pretendia assim impedir que os agricultores do Chile central migrassem para fora da sua região.
O analista continua:
Embora os povoadores alemães somassem menos do que 10000 até a virada do século, contribuíram em muito para o reerguimento da região que depois da saída dos espanhóis caíra em decadência. Em apenas poucas décadas o sul conquistou uma importância considerável tanto no plano agrícola como no industrial. O poeta José Alfonso referiu-se assim ao fato: "Nem todas as partes do Chile foram beneficiados com alemães". Outros intelectuais do século 19 concordam. V. Sanchez escreveu na sua história de Osorno: A chegada do povo louro teve o efeito de uma transfusão: novas ideias, novos métodos, nova energia. O início da colonização trouxe um rejuvenescimento dos hábitos e do sistema de trabalho, a cidade acordou de seu sono.
O Chile, de modo especial o sul com seu clima ameno e sua paisagens semelhantes às da Alemanha, tornou-se a querência de muitos que fugiram das perturbações da Alemanha do século 19, época em que o Chile era um dos países mais estáveis da América Latina. Todos saíram ganhando: no sul, na Frontera e nas cidades: os imigrantes a quem se ofereciam possibilidades contanto que fossem laboriosos e o país, o Chile beneficiando-se com a colaboração de colonos, profissionais e empreendedores alemães. (Fröschle, 1979, p. )