Alemães na América Latina Colonial
Alemães no Chile colonial.
O primeiro alemão de que se tem notícia na história do Chile foi Barthel Blümlein, também conhecido como Bartholomäus Blumen, um comerciante que, partindo de Sevilha, empreendeu viagens para a América do Sul. Em 1540 associou-se ao capitão Pedro Valdivia na sua viagem para o Chile. Consta mais tarde na lista dos 40 integrantes do conselho que indicou Pedro Valdivia administrador da recém-fundada cidade de Santiago. Já em 1541 aparece com o nome de Bartolomé Flores, ocupando o cargo de procurador e síndico. Conhecido como amigo dos índios teve uma filha na relação que manteve com a filha do cacique. Reconheceu-a como herdeira única das muitas terras que lhe haviam sido concedidas pelo alto posto que ocupava. A filha Elvira que tivera com a índia foi casada com Peter Lisperguer outro alemão. De Lisperguer com a filha de Blümlein originou-se um importante clã da aristocracia colonial chilena. Entre seus descendentes contam-se três presidentes sul-americanos, além de outros homens proeminentes como Manuel e Pedro Montt.
Começa aqui a desenhar-se uma característica comum a todos os países da América Latina que receberam a contribuição alemã no decorrer de sua história. Numericamente chegou a ser insignificante no período colonial e modesto depois da independência. Em termos de contribuição nos mais diversos setores da formação dessas sociedades, porém, pode ser considerada excepcional. O Chile se constitui, neste particular, num dos exemplos mais completos. No período colonial os registros de alemães ocupados com o comércio, com o desenvolvimento técnico, com a mineração, ou participando diretamente da organização da sociedade, ou da própria edificação da nacionalidade chilena, não passam em muito dos dois nomes acima citados. Há entretanto no período colonial uma contribuição muito significativa de jesuítas alemães como foi o caso também em toda a restante América Latina. Mas também neste caso constata-se uma visível diferença em relação, por ex., aos países do Prata. Nesta região todo o empenho dos jesuítas, também dos alemães, concentrou-se na atividade missionária nas reduções sob o domínio dos espanhóis e nos aldeamentos dos jesuítas portugueses. Os jesuítas alemães enviados ao Chile durante o período colonial não reduziram ou aldearam indígenas, não chegaram propriamente para serem em primeiro lugar missionários, mas para atuarem como fermento no contexto da formação da sociedade colonial chilena. E entre os jesuítas, obviamente na maioria de procedência espanhola, contavam-se numerosos membros da ordem vindos dos estados alemães, da Áustria e da Suíça, etc. A importância de sua contribuição cultural ficou magnificamente resumida na obra já várias vezes citada: Die Deutschen in Lateinamerika:
Jesuítas alemães desempenharam um papel brilhante no Chile. Um dos primeiros jesuítas a trabalhar em solo sul-americano desde 1616, foi Andreas Feldmann natural de Hegau na Badênia. Desenvolveu suas atividades no Chile desde 1625 até a sua morte. Um tirolês de nome Bitterich exerceu a atividade de escultor, arquiteto e engenheiro. Foi grande a sua influência sobre o desenvolvimento artístico do Chile no século 18. A ele seguiram grupos inteiros de jesuítas, profissionais em todos os tipos de artes e ofícios. É conhecido, por ex., que na bagagem de 45 jesuítas constavam 386 caixas e fardos contendo ferramentas, livros, instrumentos de música, artigos farmacêuticos e até os equipamentos para montar uma tipografia. O historiador Barros Arana emitiu a seguinte opinião sobre o grupo: Fundiam sinos do tamanho e de uma beleza, que se sobrepunham a tudo o que se conhecia até então no Chile. Fabricavam móveis para igrejas e sacristias com tal acabamento e grandiosidade que despertava a admiração dos contemporâneos. Construíam rocas para o processamento de tecidos de lã. Serra um outro historiador escreve que jesuítas alemães haviam pesquisado o sul 100 anos antes de serem instaladas os assentamentos de alemães. Entre os jesuítas alemães e de fala alemã encontravam-se igualmente linguistas que se ocupavam com a língua dos araucanos. Menção toda especial merecem os farmacêuticos a maioria bávaros. A Zeitler, o mais notável entre eles, foi concedida a autorização especial de permanecer mais quatro anos, após a expulsão dos jesuítas de Santiago em 1767. Não era apenas farmacêutico, como também químico e médico prático. Já no século 18 os jesuítas empenharam-se no desenvolvimento do ensino superior no Chile. Davam ênfase às ciências humanísticas, de modo especial a história universal e a língua grega. (Deutschen in Lateinamerika, p. 303-304). (Fröschle, 1979, p. 303-304)