As emigrações em massa da Europa Central e do Norte, assumindo as proporções de autênticas diásporas, durante os séculos XVIII, XIX e a primeira metade do século XX, foram um outro momento objeto desses acontecimentos. Milhares, centenas de milhares, milhões de homens, mulheres e crianças cruzaram os oceanos em busca de uma utopia, em busca de novas querências, nas três Américas e nos demais continentes. Em qualquer um dos destinos, na América do Norte, na América Central e na América do Sul, no Brasil, na Rússia, na Namíbia ..., a mulher forte e corajosa, destemida e, contudo, consciente do seu papel feminino de mãe, esposa e companheira fiel, acertou o passo no mesmo ritmo do homem, quando se tratava de enfrentar o desconhecido e fazer a sua parte. Não poucos artistas foram de uma rara felicidade ao fixar para a posteridade, em monumentos comemorativos, as figuras de tais mulheres. Uma destas representações encontra-se no porto de Puerto Montt, em homenagem aos imigrantes alemães que colonizaram o Sul do Chile. Na frente caminha o homen com machado na mão em atitude de desafio à floresta desconhecida e, um pouco atrás, a mulher com o filho pequeno nos braços e o outro um pouco maior ao lado. De cabeça erguida parece encorajar o homen: “Abre a primeira trilha, limpa a primeira clareira, construa o primeiro abrigo, que eu tenho consciência da parte que me cabe e darei conta dela no que der e vier”.
As histórias e reflexões sobre as mulheres entre os imigrante e seus descendentes no sul do Brasil, valem também para as imigrantes italianas vindas do norte daquele país. As populações daquelas regiões descendem basicamente dos Cimbros e Teutões, dos Ostrogodos, Visigodos, Alamanos, Longobardos e demais grupos germânicos que cruzaram ou contornaram os Alpes e se fixaram definitivamente naquela região. Valem também para os imigrantes poloneses, rumenos, lituanos, belgas holandeses, suecos, noruegueses, teuto-russos e outros. Não menos significativo vem a ser o monumento ao imigrante em Caxias do Sul. Localizado no quilômetro 150 da Br 116. Retrata um jovem casal, a mulher com a criança pequena no colo e o homem com a enxada no ombro direito e a mão esquerda sobre a testa, olham para a vastidão de terra na qual construiriam uma nova “querência” na “Mérica”, tema de uma das canções tão emblemáticas, cantada ainda hoje pelos descendentes dos imigrantes italianos em momentos em que recordam suas raízes e seus antepassados pioneiros imigrados da Itália.
Dos vinte contos dialetais escritos pelo Pe. Balduino Rambo, caracterizando a obra colonizadora dos alemães no Sul do Brasil, com seus personagens e atores, três são dedicados inteiramente à mulher. Já os títulos são sugestivos: “Susana Bitterselig”, “Bárbara Pannekuche” e “Festa do Batizado”. O primeiro começa com uma caracterização fiel das circunstâncias em que a mulher imigrante foi obrigada a viver. Susana a mulher forte do colono Cristóvão conta.
Meu pai comprou uma colônia de terra na Picada do Pote do Leite, na época em que lá ainda era tudo mato. Nos primeiros anos morou numa casa que não era muito mais do que uma choupana. Naquela choupana miserável nascemos os cinco mais velhos. Não éramos ricos, mas nunca faltou comida e todos tínhamos saúde. O mato em volta estava cheio de animais selvagens. Os bugios andavam sobre os galhos da grande figueira ao lado da estrebaria e, nos dias de chuva faziam música. Meu pai costumava dizer que era a companhia de músicos da Picada do Pote do Leite. De noite, quando escurecia, escutava-se com frequência o urro da onça no alto do morro. Nós crianças corríamos para dentro de casa e nos escondíamos debaixo das camas. Também o nosso cachorro perdia a coragem e nos acompanhava para dentro de casa. (Rambo, Balduino, 2.002, p. 67-68)
Não há dúvida de que o êxito das colonizações também no Sul do Brasil, se deve tanto às mulheres quanto aos homens. Sem o seu comprometimento para a vida e para a morte, a obra não teria deitado raízes, muito menos prosperado. Os homens e, mais ainda as mulheres, deram tudo de si num grau heroico, mas infelizmente niveladas pelo anonimato. Mesmo que se conheçam poucos nomes de figuras exemplares de mulheres, foi no anonimato que as Marias, as Margaridas, as Susanas, as Bárbaras, as Gertrudes, as Matildes, as Elisabethes, as Irmgards, as Hildegards, as Ingrids, as Anas, numa parceria de total compromisso com os Pedros, os Jacós, os Alfredos, os Nicolaus, os Matias, os Felipes, os Cristovãos, entregaram-se, sem restrições e sem reticências, à missão que lhes fora confiada e a levaram a bom termo.