Desde que se formularam as bases metodológicas e epistemológicas das pesquisas científicas, a partir do século dezoito, sempre houve um número significativo de religiosos que se notabilizaram em algum dos campos das Ciências Naturais. Sua presença foi registrada na astronomia, na geologia, na zoologia, na botânica e, paralelamente, na etnografia e etnologia. Não é necessário insistir de que estes cientistas que também eram religiosos, foram portadores de uma sólida formação filosófica e teológica tradicional. Conheciam muito bem o pensamento dos filósofos clássicos, com destaque para Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Tomas de Aquino, Alberto Magno, Suarez, Espinosa, Boaventura, Kant, Fichte, Schleiermacher e muitos outros. Eram-lhes familiares as concepções dos movimentos filosóficos e filósofos dos séculos XVIII, XIX e XX. É óbvio que os trabalhos científicos que realizaram nos diversos campos específicos, foram de alguma maneira iluminados por aquele pano de fundo. De outra parte, religiosos que eram, estavam comprometidos com uma série de princípios doutrinários inegociáveis. Entre estes destacavam-se a crença em Deus, na criação, na eternidade, na imortalidade e outros mais.
Para alguns, como os jesuítas Matteu Ricci e Adam Schall na China e Roberto de Nobile na Índia, os conhecimentos de matemática, astronomia e literatura, abriram as portas ao cristianismo naquelas regiões remotas. Para outros as pesquisas científicas serviram para conquistar prestígio para a Igreja num ambiente hostil. Destacam-se neste caso os nomes do padre italiano Girolamo Bresadollla, autoridade internacionalmente respeitada na pesquisa com fungos e do padre austríaco e jesuíta Johannes Rick que, durante 45 anos pesquisou fungos no Rio Grande do Sul e no oeste de Santa Catarina, conquistando para tanto nome internacional na especialidade. Tanto Bresadolla quanto Rick conquistaram fama internacional com suas pesquisas, na primeira metade do século XX. Ambos mantiveram correspondência e intercâmbio científico, com colegas dos principais centros de pesquisa em fungos da época da Europa e da América do Norte.
Entre os cientistas religiosos até aqui citados, além de outros, a preocupação foi, por meio dos conhecimentos científicos, abrir caminho para a penetração do cristianismo. Situam-se nesta linha Ricci, Schall e de Nobile e na China e na Índia. Conquistada a simpatia do imperador pelos conhecimentos e astronomia e matemática, a entrada ao cristianismo no vasto império estava franqueada. Neste caso a ciência foi usada evidentemente com um eficiente instrumento missionário.
Bresadolla e Rick tornaram-se internacionalmente conhecidos pela profundidade e a seriedade das suas investigações, sem um objetivo tão claro quanto os missionários da China acima mencionados. Está fora de dúvida de que, com ou sem uma intenção explícita contribuíram para diminuir o fosso aberto entre a Ciência e a Religião.
Matteu Ricci missionário jesuíta na Cina, nasceu em 6 de outubro de 1552 em Maserata na Itália e faleceu em Beijing na China em 11 d maio de 1610. Notabilizou-se pelo mapa mundi em caracteres chineses que lhe franqueou as portas até do palácio imperial. Seus conhecimentos de astronomia e geografia foram por ele usados como um eficaz instrumento missionário. Por meio dele os conhecimentos de astronomia especialmente desenvolvidos na Europa entraram no império chinês, aproximando esses dois mundos tão diferentes.
Adam Schall também missionário jesuíta na China, nascido e Colônia – Alemanha em 1º de maio de 1592 e falecido em Beijing – China em 15 de agosto de 1666. Como seu irmão de Ordem Matteu Ricci foi astrônomo. Se prestígio como cientista foi de tal ordem que foi nomeado tutor do imperador Shunzhi.
Roberto de Nobili Missionário jesuíta na Índia, nascido em 1577 em Montepulciano – Itália e falecido em Chenai – Índia em 1656. Exerceu sua atividade missionária adaptando-se o quanto possível aos costumes locais do sul da Índia. Dominava três línguas: Sânscrito, Tulugu e Tamil. A sua estratégia missionária adaptada aos costumes indianos valerem-lhe críticas da parte de outros missionários e do arcebispo de Bombaim. Conhecia a fundo o Sânscrito e do Tamil. Escreveu um catecismo, obras apologéticas e promoveu debates na língua Tamil. Contribuiu decisivamente na produção literária nessa língua. Matteu Ricci e Adam Schall valeram-se da Ciência, com destaque para a Astronomia como porta d entrada do cristianismo na China, enquanto Roberto de Novili usou como instrumento missionário a linguística e a literatura na Índia.