No planejamento regional não podia passar
despercebida a necessidade de oferecer soluções para facilitar a circulação
interna, a circulação regional e o acesso a outras regiões do País. É preciso
conceder que de 50 anos para cá muita coisa aconteceu, e para o melhor, nesse
particular. Grandes trechos das estradas municipais foram pavimentados, a BR
116 foi duplicada até o entroncamento para Estância Velha, trem metropolitano
liga Porto Alegre a Novo Hamburgo e sua extensão até Taquara programada para
ser iniciada em breve, viadutos e passarelas para pedestres facilitam a
movimentação de pessoas e veículos em pontos estratégicos da da BR 116 e, por
fim, entrou em serviço a BR 448. Essa nova rodovia federal desafogou o
congestionamento do trânsito da BR 16 entre Sapucaia do Sul e Porto Alegre.
Uma
outra proposta feita pela equipe técnica
não passou dos limites da apresentação
de uma sugestão tecnicamente viável. Tratava-se de uma combinação dos diques de
controle das enchentes e a melhoria da circulação do médio e baixo Rio dos Sinos. O complexo de diques se estenderia
de Campo Bom até Porto Alegre. A jusante de São Leopoldo até a capital o dique
poderia ser dimensionado para comportar uma rodovia de duas vias começando na
Scharlau e terminado em Porto Alegre,
servindo os diques de contenção das enchentes como leito. Acontece que os
diques só foram de fato construídos em
torno de São Leopoldo e com isso a rodovia alternativa também ficou no papel. A
BR 448 e as melhorias na BR 116, acima citados atendem em parte as propostas
feitas há 50 anos passados.
Além
de controlar e amenizar os problemas causados pelas enchentes cíclicas do rio
dos Sinos, desafogar e melhorar o tráfico, além de enfrentar o problema do
saneamento básico e fornecimento de água potável de qualidade, outros
desafios envolvendo a própria essência
de um desenvolvimento regional digo desse nome, aguardavam por um enfrentamento
para valer. Soluções tópicas de interesse local, e/ou de políticos e líderes bairristas
munidos de uma visão míope do tamanho de um desenvolvimento regional integrado,
movidos por interesses próprios e dos seus grupelhos de apoio, na melhor das
hipóteses se limitavam a uma sabotagem
mal disfarçada. Deparei-me com dúzias de figuras emblemáticas desse perfil nas
minhas andanças como interlocutor credenciado pela Faculdade de Economia de São
Leopoldo junto à equipe de técnicos alemães.
Além
de equacionar os problemas causados pelas enchentes periódicas, além de desafogar
o tráfico entre a capital e os 100 quilômetros do vale do Sinos, além de
atender à demanda da água potável e enfrentar os problemas relacionados com o
saneamento básico, outras questões de fundo desafiavam o planejamento regional.
Entre elas sobressai, no caso específico do vale do Sinos, a expansão urbana. A
implantação de indústrias, com destaque para a coureira, o comércio, a
construção civil, os serviços em todas
as modalidades, ofereciam um leque variado e abundante de vagas de trabalho.
Com isso o vale do Sinos transformou-se numa poderosa opção para migrantes
vindos de todas as regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os bairros periféricos em
torno de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo
Bom, Sapiranga e mais para o norte até
Rolante e Três Coroas cresceram acelerada e desordenadamente. Dezenas de novos
bairros foram surgindo igualmente sem o planejamento adequado, loteamentos
clandestinos, invasões e outras modalidades de ocupação à margem da lei, transformaram
o médio e baixo Sinos numa faixa urbana contínua até Porto Alegre. Essa
realidade obviamente desandaria, como desandou, em muitos casos, em problemas
sócio- econômicos e de infraestrutura caóticos e de difícil solução. As
políticas, as estratégias e a soluções para melhorar esse panorama dependia de
iniciativas e projetos envolvendo de alguma maneira toda a região. Iniciativas
em nível municipal não seriam suficientes para melhorar a situação a médio e
longo prazo. No casso concreto do vale do Sinos o acerto de medidas básicas cabia
à “Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos”, como também o
encaminhamento das medidas às instâncias estaduais e/ou federais quando a
legislação envolvia a competência destes níveis de administração.
As
áreas não tomadas pela urbanização que correspondem às meias encostas, as
coroas dos morros até altitudes de 500 ou mais metros e no curso médio e
superior do Sinos terminam no planalto de 800 a 900 metros. A elas somam-se as várzeas e terras planas, principalmente ao
longo do curso médio e superior do rio. Pelas características geográficas,
topográficas, edafológicas e climáticas,
oferecem um potencial difícil de dimensionar para desenvolver a produção e
horti-fruti-grangeiros para atender a demanda da área metropolitana em
constante expansão. Como é do conhecimento de qualquer um foi a partir do vale
do Sinos, mais especificamente de São Leopoldo, que se irradiou pelos estados
do sul do Brasil o modelo da pequena propriedade propriedade familiar baseada
na policultura de subsistência. Esse modelo de produção agrícola marcou e ainda
marca em parte a atividade agrícola associada à criação de animais domésticos.