REFLEXÕES SUGERIDAS PELA ENCÍCLICA LAUDATO SI - 86


No planejamento regional não podia passar despercebida a necessidade de oferecer soluções para facilitar a circulação interna, a circulação regional e o acesso a outras regiões do País. É preciso conceder que de 50 anos para cá muita coisa aconteceu, e para o melhor, nesse particular. Grandes trechos das estradas municipais foram pavimentados, a BR 116 foi duplicada até o entroncamento para Estância Velha, trem metropolitano liga Porto Alegre a Novo Hamburgo e sua extensão até Taquara programada para ser iniciada em breve, viadutos e passarelas para pedestres facilitam a movimentação de pessoas e veículos em pontos estratégicos da da BR 116 e, por fim, entrou em serviço a BR 448. Essa nova rodovia federal desafogou o congestionamento do trânsito da BR 16 entre Sapucaia do Sul e Porto Alegre.

Uma outra proposta feita pela  equipe técnica não passou  dos limites da apresentação de uma sugestão tecnicamente viável. Tratava-se de uma combinação dos diques de controle das enchentes e a melhoria da circulação do médio e baixo Rio  dos Sinos. O complexo de diques se estenderia de Campo Bom até Porto Alegre. A jusante de São Leopoldo até a capital o dique poderia ser dimensionado para comportar uma rodovia de duas vias começando na Scharlau  e terminado em Porto Alegre, servindo os diques de contenção das enchentes como leito. Acontece que os diques só foram de fato construídos  em torno de São Leopoldo e com isso a rodovia alternativa também ficou no papel. A BR 448 e as melhorias na BR 116, acima citados atendem em parte as propostas feitas há 50 anos passados.

Além de controlar e amenizar os problemas causados pelas enchentes cíclicas do rio dos Sinos, desafogar e melhorar o tráfico, além de enfrentar o problema do saneamento básico e fornecimento de água potável de qualidade, outros desafios  envolvendo a própria essência de um desenvolvimento regional digo desse nome, aguardavam por um enfrentamento para valer. Soluções tópicas de interesse local,  e/ou de políticos e líderes bairristas munidos de uma visão míope do tamanho de um desenvolvimento regional integrado, movidos por interesses próprios e dos seus grupelhos de apoio, na melhor das hipóteses  se limitavam a uma sabotagem mal disfarçada. Deparei-me com dúzias de figuras emblemáticas desse perfil nas minhas andanças como interlocutor credenciado pela Faculdade de Economia de São Leopoldo junto à equipe de técnicos alemães.

Além de equacionar os problemas causados pelas enchentes periódicas, além de desafogar o tráfico entre a capital e os 100 quilômetros do vale do Sinos, além de atender à demanda da água potável e enfrentar os problemas relacionados com o saneamento básico, outras questões de fundo desafiavam o planejamento regional. Entre elas sobressai, no caso específico do vale do Sinos, a expansão urbana. A implantação de indústrias, com destaque para a coureira, o comércio, a construção  civil, os serviços em todas as modalidades, ofereciam um leque variado e abundante de vagas de trabalho. Com isso o vale do Sinos transformou-se numa poderosa opção para migrantes vindos de todas as regiões do Rio Grande do Sul e  Santa Catarina. Os bairros periféricos em torno de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapiranga e mais para  o norte até Rolante e Três Coroas cresceram acelerada e desordenadamente. Dezenas de novos bairros foram surgindo igualmente sem o planejamento adequado, loteamentos clandestinos, invasões e outras modalidades de ocupação à margem da lei, transformaram o médio e baixo Sinos numa faixa urbana contínua até Porto Alegre. Essa realidade obviamente desandaria, como desandou, em muitos casos, em problemas sócio- econômicos e de infraestrutura caóticos e de difícil solução. As políticas, as estratégias e a soluções para melhorar esse panorama dependia de iniciativas e projetos envolvendo de alguma maneira toda a região. Iniciativas em nível municipal não seriam suficientes para melhorar a situação a médio e longo prazo. No casso concreto do vale do Sinos o acerto de medidas básicas cabia à “Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos”, como também o encaminhamento das medidas às instâncias estaduais e/ou federais quando a legislação envolvia a competência destes níveis de administração.

As áreas não tomadas pela urbanização que correspondem às meias encostas, as coroas dos morros até altitudes de 500 ou mais metros e no curso médio e superior do Sinos terminam no planalto de 800 a 900 metros. A elas somam-se as  várzeas e terras planas, principalmente ao longo do curso médio e superior do rio. Pelas características geográficas, topográficas,  edafológicas e climáticas, oferecem um potencial difícil de dimensionar para desenvolver a produção e horti-fruti-grangeiros para atender a demanda da área metropolitana em constante expansão. Como é do conhecimento de qualquer um foi a partir do vale do Sinos, mais especificamente de São Leopoldo, que se irradiou pelos estados do sul do Brasil o modelo da pequena propriedade propriedade familiar baseada na policultura de subsistência. Esse modelo de produção agrícola marcou e ainda marca em parte a atividade agrícola associada à criação de animais domésticos.








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