REFLEXÕES SUGERIDAS PELA ENCÍCLICA LAUDATO SI - 50

Uma comunidade universal

Mais acima já insistimos exaustivamente no fato de que a Natureza  forma, de um lado um grande síntese, e do outro manifesta-se em incalculáveis formas. Só para lembrar, a unidade resume  a natureza como um gigantesco sistema, finamente calibrado e de alta resolução. Nesse sistema nenhum componente, nenhum elemento é dispensável. Por mais sem importância que possa parecer, cabe-lhe uma função. No momento em que for impedido de dar conta da sua tarefa específica que lhe é atribuída, por uma razão qualquer, sua falta afeta o todo.

É sobre esse pressuposto, isto é, “a unidade na pluralidade”, sugerido pelas Ciências Naturais, incluindo nesse todo a próprio homem, que o Papa Francisco, fundamenta sua proposta para uma Filosofia e, principalmente,  uma Teologia da natureza atualizada, afinada  com os resultados mais avançados, apresentados pelas Ciências Naturais. Em  outras palavras, formula uma Cosmologia e uma Teologia Natural, isenta de um fundamentalismo avesso ao diálogo, dando lugar à abertura de um entendimento honesto e sem preconceitos, entre as Ciências Naturais, as Ciências do Espírito, as Humanidades, as Letras e Artes.

É importante relembrar também que a Humanidade faz parte ontológica desse jogo. O homem é “Adam”, “nascido da terra”. Outro aspecto não pode ser esquecido, em se tratando de um documento pontifício, que valida as conquistas das Ciências as quais tem como tarefa  descobrir e explicar o “como” funciona a natureza para subsidiar a tarefa da Filosofia e Teologia, de oferecer uma resposta satisfatória para o “donde”, o “porque” e o “para onde”, porque senão a “Ciência é manca e a Religião é cega”, conforme o entendimento de Einstein. É nesse encontro, nessa confluência em que, por assim dizer torna-se possível afinar os instrumentos para a sinfonia e evitar que cada parte toque o seu instrumento  fora do contexto, resultando em cacofonia em vez de harmonia. A metáfora da sinfonia, da harmonia encontrou e encontra ainda hoje sua expressão na poética, nas canções populares, na música e demais manifestações artísticas. Um exemplo. Uma antiga lenda da tradição anglo-saxônica conta que um monge, poeta e pastor de ovelhas de nome Cadmon, escutou numa noite de vigília solitária junto ao rebanho, uma voz que o chamava: “Cadmon, canta-me a canção do começo de todas as coisas”. A  resposta para o conteúdo, o “Leitmotiv” dessa canção foi dada 1500 anos depois por ninguém menos que Einstein,  numa carta à sua filha Lieserl:

Há uma força extremamente  poderosa para a qual a Ciência até agora não encontrou uma resposta formal. É uma força que inclui e governa todas  as outras, existindo por trás de qualquer fenômeno que opere no universo e que ainda não foi identificada por nós. – Esta força universal é o AMOR – Quando os cientistas estavam procurando uma teoria unificada do universo esqueceram  a mais invisível e poderosa de todas as forças. – O MOR é luz, dado que ilumina aquele que dá  e o que recebe. – o AMOR é gravidade, porque faz com que as pessoas se sintam atraídas umas pelas outras – o AMOR é potência, pois multiplica o melhor que temos, permitindo assim que a humanidade não se extinga em seu egoísmo cego. – o AMOR revela e desvela. – Por AMOR, vivemos e morremos. –o AMOR é Deus e Deus é AMOR. – Esta força tudo explica e dá SENTIDO à vida. Esta é a variável que temos ignorado por muito tempo, talvez porque o AMOR provoca medo, sendo  o único poder  no universo que o homem  ainda não aprendeu a dirigir a seu favor.

 A letra dessa canção poderia ter muito bem inspirado o papa Francisco ao escrever na encíclica Laudato se.

Isto gera a convicção que nós todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos  pelos mesmos laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão  sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde. Quero lembrar que Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertificação do solo é como uma doença para cada um e podemos lamentar  a extinção de cada espécie como se fosse uma mutilação. (Laudato se, 89)

Partindo desse pressuposto o Papa chama a atenção aos riscos de interpretação a que pode levar. O primeiro. O homem é a razão de ser da Natureza e como tal seu destinatário final. Essa linha de pensamento é conhecida como a “teoria antrópica”. Resumidamente essa teoria afirma que a Natureza foi gerada e evoluiu para receber o homem. Se há muita verdade nessa teoria, se mal interpretada pode levar, como de fato levou, a uma concepção equivocada do lugar do homem no seu ambiente natural.


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