O mistério do universo
A
criação da natureza como ensina a tradição judaico-cristã, envolve, pela sua
própria natureza um insondável mistério. A Criação significa muito mais do que concretizar
o projeto da natureza material que serve
de morada para a espécie humana. “Criação é muito mais do que a natureza,
porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor
e um significado”. (Laudato si, 76). O Pe. Rambo, em colóquio com Deus,
caracterizou como poucos, em que consiste o “mistério” de que a Encíclica fala.
A raiz do nosso mal está em
queremos encaixar o mundo das
aparências, a qualquer preço no trilho da nossa estreiteza. Inconscientemente
Te consideramos como um míope intelectual, segundo a nossa própria imagem. É,
porém, mais do que certo que a Tua ordem situa-se num plano a nós inatingível.
Todo o nosso empenho não passará de uma aproximação, mais ou menos bem
sucedida, da Tua realidade.
Acontece que em Ti
liberdade e sistema, caminho e digressão se confundem. A verdadeira ordem na colossal confusão do mundo se acha prefigurada
nos abismos do Teu ser. Ela é e
permanece exclusivamente propriedade Tua. Nós cientistas, só podemos
vislumbrá-la à distância, compreendê-la jamais nos é dado. Sempre que
edificamos para nós um sistema, este já se acha
essencialmente falho, porque abrange apenas uma pontinha da Tua
multiplicidade sem margem, (Rambo, 1994, p. 128)
De
acordo com o salmo (33/22,6) “A palavra do Senhor criou os céus”, a Criação é a
consequência de um ato divino intencional e planejado. Nem a natureza, muito
menos o homem são obra do caos, do acaso. A Encíclica chama a atenção que o ato
criador foi uma decisão que envolveu a sua realização num clima de amor. Em
outras palavras, “a criação pertence à ordem do amor. O amor de Deus é a razão fundamental
de toda a criação”. (Laudato se, 77). Por ter brotado fundamentalmente de um
ato de amor, o universo com tudo que nele se encontra de vida e não vida, foi
minuciosamente planejado pelo Criador. Por ter sido o físico mais importante e
mais influente do último século, vale apena reproduzir aqui íntegra da carta escrita à sua filha Lieserl
e à qual nos referimos mais acima.
Quando propus a Teoria da Relatividade,
muito poucos me entenderam e o que agora revelar a você, para que transmita a
humanidade, também chocará o mundo com sua incompreensão e preconceitos. Peço
ainda que guarde todo o tempo necessário – anos, décadas, até que a sociedade
tenha avançado o bastante para aceitar o que explicar éi em seguida a você.
Há uma força extremamente
poderosa para a qual a ciência até agora nõ encontrou uma explicação formal. É
uma força que inclui e governa todas as outras, existindo por trás de qualquer
fenômeno que opere no universo e que ainda não identificada por nós. Esta força
universal é o AMOR.
Quando os cientistas
estavam procurando uma teoria unificada do universo esqueceram a mais invisível
e poderosa de todas as forças.
O Amor é luz, dado que ilumina
aquele que dá e o que recebe. – O Amor é gravidade, porque faz com que as pessoas s sintam
atraídas umas pelas outras – O Amor é potencia, pois multiplica o melhor que
temos, permitindo assim que a humanidade não se extinga em seu egoísmo cego. – O Amor revela e
desvela. – Por Amor vivemos e morremos. – O Amor é Deus e Deus é amor.
Esta força explica e dá
SENTIDO à vida. Esta é variável que temos ignorado por muito tempo, talvez
porque o amor provoca medo, sendo o único poder do universo que o homem ainda
não aprendeu a dirigir em seu favor.
Para dar visibilidade ao
amor, eu fiz uma substituição simples da minha equação mais fmosa. Se em vez de
E = mc2, aceitamos que a energia para curar o mundo pode ser obtida através do
amor multiplicado pela velocidade da luz
ao quadrado (energia de cura = amor x velocidade da luz2), chegaremos à
conclusão de que o amor é a força mais poderosa que existe, porque não tem
limites. Após o fracasso da humanidade no uso e controle das outras forças do
universo, que se voltaram contra nós, é urgente que nos alimentemos de outro
tipo de energia. Se queremos que a nossa
espécie sobreviva e todos os seres sensíveis que nele habitam, o amor é a única
e a resposta última. (Einstein, carta à filha Lieserl)
O
primeiro cuidado foi conferir ao todo a
estrutura de um sistema, no qual o todo tem um sentido, uma razão de ser e
nele, cada parte, cada elemento tem um sentido, uma razão de ser. Nesta
perspectiva o universo como um todo é um gigantesco sistema e a terra um
subsistema no grande todo. Cabe à Ciência
a análise e compreensão da estrutura e o funcionamento da Natureza como
sistema. Sob este ponto de vista é tarefa da Ciência vasculhar até as últimas
minúcias a Natureza como um sistema finamente calibrado e de alta resolução.
Mas,
conforme ensina a Encíclica, “há uma opção livre, expressa na palavra criadora”.
(Laudato si, 77). Falando em “opção livre” subentende-se que à Criação subjaz um
objetivo, uma intenção e uma finalidade. A Natureza compreendida sob essa ótica
expressa na materialidade múltipla de suas formas o “amor” do Criador, como
acabamos de lembrar na Encíclica e do físico
Einstein. O Criador é amor e as criaturas são a linguagem por meio da
qual compartilha o amor eterno com a humanidade, a sua criatura predileta. Para
aquele que se dispõe a entender a Natureza e as criaturas que nela vivem como
uma oba de amor, irá consolidar uma relação pessoal de amor com tudo que
encontra na “sua casa”. As consequências de uma relação dessa natureza, levam à
conclusão que, “cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um
lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do seu
amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele envolve-o com seu carinho”.
(Laudato se, 77).
Nesse
cenário esconde-se um potencial e uma riqueza de reflexões, que nunca se
esgota. Vamos a algumas delas. Em primeiro lugar, é preciso chamar a atenção
para um obstáculo que impede as pessoas a se comunicarem com a natureza,
entendendo-lhe a linguagem e, por assim dizer, escutarem a melodia de fundo que
confere sentido às criaturas. Para enxergar, ouvir e sentir de verdade a natureza, é preciso chegar mais perto dela
e entrar em comunhão com ela, contemplá-la, ouvi-la, cheirá-la, apalpá-la e
degusta-la. É preciso que os sentidos entrem em sintonia com as suas melodias e façam vibrar o que há
de mais humano no homem. As características da atual civilização com seus
valores, gostos, preferências, interpõe uma barreira quase intransponível entre
a sinfonia da natureza e a cacofonia da artificialidade urbana. Francis Collins
resumiu esse dilema com a observação: “Adoramos conflito e discórdia e quanto mais melhor. No
meio acadêmico, música e arte produzida com seriedade por seus membros parecem
festejar sua dificuldade de ser ouvida e
apreciada. A harmonia é chata”. (Collins, 2007, p. 210).
Não
há necessidade de maior insistência no fato de que a atmosfera do quotidiano
das pessoas não oferece as condições mínimas para escutar e entender essa
linguagem. Raros documentários de televisão ocupam-se com o tema. Noventa ou
mais por cento das programações e noticiários dos meios de comunicação,
dificultam ou simplesmente impedem reflexões sérias. Entulham a mente do
público com escândalos, conflitos,
roubos, assassinatos, estupros, conchavos políticos, chantagens, corrupção, e
por ai vai. A mente e o coração não encontram trégua para voltar-se sobre si
mesmos, meditar por alguns instantes sobre questões de fundo, sobre a razão e
não razão do que acontece na vida. E, quando sobram alguns intervalos, em meio
à correria desenfreada da rotina diária, dezenas de modalidades eletrônicas,
encarregam-se de obstruir o pouco que sobra para experiências e vivências que
mereçam ser chamadas de humanas.