Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 41 -

O mistério do universo  
 
A criação da natureza como ensina a tradição judaico-cristã, envolve, pela sua própria natureza um insondável mistério. A Criação significa muito mais do que concretizar o projeto da natureza material  que serve de morada para a espécie humana. “Criação é muito mais do que a natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado”. (Laudato si, 76). O Pe. Rambo, em colóquio com Deus, caracterizou como poucos, em que consiste o “mistério” de que a Encíclica fala.

A raiz do nosso mal está em queremos encaixar  o mundo das aparências, a qualquer preço no trilho da nossa estreiteza. Inconscientemente Te consideramos como um míope intelectual, segundo a nossa própria imagem. É, porém, mais do que certo que a Tua ordem situa-se num plano a nós inatingível. Todo o nosso empenho não passará de uma aproximação, mais ou menos bem sucedida, da Tua realidade.

Acontece que em Ti liberdade e sistema, caminho e digressão se confundem. A verdadeira ordem na  colossal confusão do mundo se acha prefigurada nos  abismos do Teu ser. Ela é e permanece exclusivamente propriedade Tua. Nós cientistas, só podemos vislumbrá-la à distância, compreendê-la jamais nos é dado. Sempre que edificamos para nós um sistema, este já se acha  essencialmente falho, porque abrange apenas uma pontinha da Tua multiplicidade sem margem, (Rambo, 1994, p. 128)

De acordo com o salmo (33/22,6) “A palavra do Senhor criou os céus”, a Criação é a consequência de um ato divino intencional e planejado. Nem a natureza, muito menos o homem são obra do caos, do acaso. A Encíclica chama a atenção que o ato criador foi uma decisão que envolveu a sua realização num clima de amor. Em outras palavras, “a criação pertence à ordem do amor. O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação”. (Laudato se, 77). Por ter brotado fundamentalmente de um ato de amor, o universo com tudo que nele se encontra de vida e não vida, foi minuciosamente planejado pelo Criador. Por ter sido o físico mais importante e mais influente do último século, vale apena reproduzir aqui  íntegra da carta escrita à sua filha Lieserl e à qual nos referimos mais acima.

Quando propus a Teoria da Relatividade, muito poucos me entenderam e o que agora revelar a você, para que transmita a humanidade, também chocará o mundo com sua incompreensão e preconceitos. Peço ainda que guarde todo o tempo necessário – anos, décadas, até que a sociedade tenha avançado o bastante para aceitar o que explicar éi em seguida a você.
Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência até agora nõ encontrou uma explicação formal. É uma força que inclui e governa todas as outras, existindo por trás de qualquer fenômeno que opere no universo e que ainda não identificada por nós. Esta força universal é o AMOR.
Quando os cientistas estavam procurando uma teoria unificada do universo esqueceram a mais invisível e poderosa de todas as forças.
O Amor é luz, dado que ilumina aquele que dá e o que recebe. – O Amor é gravidade,  porque faz com que as pessoas s sintam atraídas umas pelas outras – O Amor é potencia, pois multiplica o melhor que temos, permitindo assim que a humanidade não se extinga  em seu egoísmo cego. – O Amor revela e desvela. – Por Amor vivemos e morremos. – O Amor é Deus e Deus é amor.
Esta força explica e dá SENTIDO à vida. Esta é variável que temos ignorado por muito tempo, talvez porque o amor provoca medo, sendo o único poder do universo que o homem ainda não aprendeu a dirigir em seu favor.
Para dar visibilidade ao amor, eu fiz uma substituição simples da minha equação mais fmosa. Se em vez de E = mc2, aceitamos que a energia para curar o mundo pode ser obtida através do amor  multiplicado pela velocidade da luz ao quadrado (energia de cura = amor x velocidade da luz2), chegaremos à conclusão de que o amor é a força mais poderosa que existe, porque não tem limites. Após o fracasso da humanidade no uso e controle das outras forças do universo, que se voltaram contra nós, é urgente que nos alimentemos de outro tipo de energia.  Se queremos que a nossa espécie sobreviva e todos os seres sensíveis que nele habitam, o amor é a única e a resposta última. (Einstein, carta à filha Lieserl)

O primeiro cuidado foi  conferir ao todo a estrutura de um sistema, no qual o todo tem um sentido, uma razão de ser e nele, cada parte, cada elemento tem um sentido, uma razão de ser. Nesta perspectiva o universo como um todo é um gigantesco sistema e a terra um subsistema  no grande todo. Cabe à Ciência a análise e  compreensão da  estrutura e o funcionamento da Natureza como sistema. Sob este ponto de vista é tarefa da Ciência vasculhar até as últimas minúcias a Natureza como um sistema finamente calibrado e de alta resolução.

Mas, conforme ensina a Encíclica, “há uma opção livre, expressa na palavra criadora”. (Laudato si, 77). Falando em “opção livre” subentende-se que à Criação subjaz um objetivo, uma intenção e uma finalidade. A Natureza compreendida sob essa ótica expressa na materialidade múltipla de suas formas o “amor” do Criador, como acabamos de lembrar na Encíclica e do físico  Einstein. O Criador é amor e as criaturas são a linguagem por meio da qual compartilha o amor eterno com a humanidade, a sua criatura predileta. Para aquele que se dispõe a entender a Natureza e as criaturas que nela vivem como uma oba de amor, irá consolidar uma relação pessoal de amor com tudo que encontra na “sua casa”. As consequências de uma relação dessa natureza, levam à conclusão que, “cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do seu amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele envolve-o com seu carinho”. (Laudato se, 77).

Nesse cenário esconde-se um potencial e uma riqueza de reflexões, que nunca se esgota. Vamos a algumas delas. Em primeiro lugar, é preciso chamar a atenção para um obstáculo que impede as pessoas a se comunicarem com a natureza, entendendo-lhe a linguagem e, por assim dizer, escutarem a melodia de fundo que confere sentido às criaturas. Para enxergar, ouvir e sentir de verdade  a natureza, é preciso chegar mais perto dela e entrar em comunhão com ela, contemplá-la, ouvi-la, cheirá-la, apalpá-la e degusta-la. É preciso que os sentidos entrem em sintonia  com as suas melodias e façam vibrar o que há de mais humano no homem. As características da atual civilização com seus valores, gostos, preferências, interpõe uma barreira quase intransponível entre a sinfonia da natureza e a cacofonia da artificialidade urbana. Francis Collins resumiu esse dilema com a observação: “Adoramos  conflito e discórdia e quanto mais melhor. No meio acadêmico, música e arte produzida com seriedade por seus membros parecem festejar  sua dificuldade de ser ouvida e apreciada. A harmonia é chata”. (Collins, 2007, p. 210).


Não há necessidade de maior insistência no fato de que a atmosfera do quotidiano das pessoas não oferece as condições mínimas para escutar e entender essa linguagem. Raros documentários de televisão ocupam-se com o tema. Noventa ou mais por cento das programações e noticiários dos meios de comunicação, dificultam ou simplesmente impedem reflexões sérias. Entulham a mente do público  com escândalos, conflitos, roubos, assassinatos, estupros, conchavos políticos, chantagens, corrupção, e por ai vai. A mente e o coração não encontram trégua para voltar-se sobre si mesmos, meditar por alguns instantes sobre questões de fundo, sobre a razão e não razão do que acontece na vida. E, quando sobram alguns intervalos, em meio à correria desenfreada da rotina diária, dezenas de modalidades eletrônicas, encarregam-se de obstruir o pouco que sobra para experiências e vivências que mereçam ser chamadas de humanas.

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