Pouco
ou nada resolve confiar essa tarefa quase impossível a amadores, a ecologistas
a serviço de ideologias as mais diversas, a políticos em busca de votos ou
empresários interessados em lucro. Acontece que o comprometimento de todos eles
nessa causa é indispensável, contanto que os oriente, em última análise, a
consciência de que estão a serviço de um bem comum, do qual depende o bem estar
e até a continuidade da espécie humana. Nesses termos todos são benvindos. Os lucros
e vantagens auferidos nessas condições são perfeitamente aceitáveis. Se a
promoção pessoal, a conquista de votos, os resultados econômicos decorrem do
esforço ético em favor da “casa comum” não podem ser condenados.
Mas,
a par da motivação ética, ou moral se preferirmos, há uma outra condição sem a
qual os resultados não serão consistentes. Nenhuma proposta em favor do meio
ambiente se sustenta sem um sólido
suporte científico. É fundamental que as propostas, mesmo as meramente tópicas,
sejam concebidas como fazendo parte sistêmica de um ecossistema natural. Em
outras palavras. O salvar o mico-leão-dourado ou a ararinha azul só então faz
sentido, quando inserido no todo do ecossistema em que vivem. Os “pontos
quentes” ainda oferecem essa possibilidade. Abrigam ecossistemas suficientemente
preservados ao ponto de permitirem um estudo minucioso de como funcionam. A sua
preservação e proteção é de vital importância para conhecer e entender como
funciona a natureza. Preservar e proteger, é o binômio para lidar com esses
laboratórios, verdadeiros santuários da biodiversidade. Começa pela
preservação, o que significa que não se permita a exploração dos seus recursos ao ponto de resultar no desequilíbrio do
sistema. A exploração da madeira, a mineração, a depredação das plantas
ornamentais e flores como orquídeas e outros é incompatível com a
preservação. A pesquisa científica, por
exemplo de plantas medicinais podem ser importantes se conduzidas nos limites
permitidos pela proteção. É preciso vigiar e controlar severamente a caça e o
apresamento de animais, pássaros, insetos, aranhas, etc. a não ser para
finalidades de estudo científico.
À
preservação soma-se necessariamente a proteção. A proteção inclui, além da
preservação dos ecossistemas, ou no caso, os “hot spots”, além da integridade
do todo e das partes, o cuidado na não perturbação da sua harmonia. Explicando.
Cada ecossistema é o cenário de uma sinfonia de sons, ruídos, cantos, gritos,
pios, assobios, fazendo parte da harmonia singular, componente importante na
definição peculiar da sua identidade. Perturbar essa harmonia com o ronco de
motores, motosserras, o sobrevoo a baixa altitude de aviões e helicópteros,
perturba mais essa harmonia do que pode parecer ou se queira admitir. Na mesma
linha vão as músicas barulhentas, algazarras, fogos de artifício, iluminação
artificial. Os “hot spots” exigem o
tratamento como relíquias, o que de fato são, como santuários que devem ser
apreciados e degustados com devoção. Só nessas condições seremos capazes de
perceber as mensagens que nos tem a transmitir e apreciar as sua sinfonias. O
Pe. Balduino Rambo numa caminhada solitária entre os gigantes de uma floresta
de sequoias, deixou uma amostra da riqueza e profundidade das reflexões que um
desses santuários naturais é capaz de sugerir.
Sem querer, a gente se flagra em absoluto
silêncio em meio à assembleia dos gigantes. Que cantos não teriam deixado os
poetas e cantores do Velho Testamento, que nos falam com tanta empolgação dos
cedros do Líbano e dos ciprestes do Monte Sião, se tivessem tido ocasião de
escutar a voz de Deus nessas florestas. Quando Davi e Salomão cantavam seus
salmos, quando Isaías anunciava a seu povo o advento do futuro Filho do Homem;
quando Ezequiel contemplava o Senhor dos Tempos sentado no seu trono, sobre
muitas dessas árvores já pesavam mais de mil anos. Quando no gólgota foi
erguida aquela árvore da qual cantamos: verdadeira árvore da vida na qual
pendeu o Senhor em angústia mortal. O canto de luto das árvores do paraíso, o
canto da árvore da mitologia germânica, o canto de vitória da árvore da
Redenção, todo o simbolismo que envolve a árvore nas sagas e na arte da
humanidade, toma conta do observador, que caminha na penumbra mortiça das
florestas. Entre o céu e a terra há muitas verdades que não estão escritas nos
livros. Revelam-se no silêncio da floresta. (Rambo, 2.015, p. )
A
“Conservação Internacional” identificou em 2.006 os seguintes “hot Spots”:
1.
Vegetação
de sálvia do litoral e dos sopés das
montanhas da Califórnia.
2.
As
florestas tropicais do sul do México e da América Central.
3.
As
florestas e habitats de terra seca das
ilhas do Caribe, especialmente Cuba e
Hispaniola.
4.
As
floresta nas regiões baixas e de altitude média dos Andes.
5.
O
Cerrado (savana) do Brasil.
6.
A mata
atlântica do Brasil.
7.
As
florestas e habitats de terra seca da bacia do Mediterrâneo.
8.
As
florestas das montanhas do Cáucaso.
9.
A
floresta da Guiné, na África Ocidental.
10.
Muitos
habitats na região do Cabo, na África do Sul
11.
Muitos
habitats do Chifre da África
12.
Muitos
habitats de Madagascar, sobretudo as florestas.
13.
As
florestas tropicais da cordilheira dos Ghats Ocidentais, na Índia.
14.
As
florestas tropicais do Sri Lanka.
15.
As
florestas do Himalaia.
16.
As
florestas do sudoeste da China.
17.
A
maioria das florestas da Indonésia.
18.
As florestas
tropicais das Filipinas.
19.
As
charnecas do sudoeste da Austrália.
20.
As
florestas da Nova Caledônia.
21.
As
florestas do Havaí e muitos outros arquipélagos do Pacífico Centra e Oriental.
Wilson
lembra que os “hot spots” enumerados
acima e mais 13 que foram acrescentados mais tarde, cobrem apenas 2,3% da
superfície do planeta. Mesmo assim abrigam 42% dos vertebrados terrestres
(mamíferos, aves, répteis e anfíbios) e 50% das espécies de planas com flores.
São os locais onde se verifica a maior concentração da biodiversidade. São
também o refúgio da maioria das espécies ameaçada de extinção constantes na
lista da “União Internacional pela Conservação da Natureza” como “ameaçados ou
criticamente ameaçados” com destaque para 72% dos mamíferos terrestres, 86% das
aves e 92% dos anfíbios. (cf. Wilson, 2008, p. 111).
O
estudo dos “hot spots” possibilitou a elaboração de uma lista descendente do
número de espécies que abrigam. Madagascar ocupa o topo da lista com 448
gêneros de animais e plantas só encontráveis naquela ilha. E seguida vem as
ilhas do Caribe com 269 gêneros; a mata atlântica do Brasil com 210 gêneros; o
arquipélago de Sonda na Indonésia, com 199; As montanhas da África Oriental,
com 178; A região do Cabo om 162. (cf. Wilson, 2008, p. 111)