Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 26 -

Pouco ou nada resolve confiar essa tarefa quase impossível a amadores, a ecologistas a serviço de ideologias as mais diversas, a políticos em busca de votos ou empresários interessados em lucro. Acontece que o comprometimento de todos eles nessa causa é indispensável, contanto que os oriente, em última análise, a consciência de que estão a serviço de um bem comum, do qual depende o bem estar e até a continuidade da espécie humana. Nesses termos todos são benvindos. Os lucros e vantagens auferidos nessas condições são perfeitamente aceitáveis. Se a promoção pessoal, a conquista de votos, os resultados econômicos decorrem do esforço ético em favor da “casa comum” não podem ser condenados.

Mas, a par da motivação ética, ou moral se preferirmos, há uma outra condição sem a qual os resultados não serão consistentes. Nenhuma proposta em favor do meio ambiente se sustenta sem  um sólido suporte científico. É fundamental que as propostas, mesmo as meramente tópicas, sejam concebidas como fazendo parte sistêmica de um ecossistema natural. Em outras palavras. O salvar o mico-leão-dourado ou a ararinha azul só então faz sentido, quando inserido no todo do ecossistema em que vivem. Os “pontos quentes” ainda oferecem essa possibilidade. Abrigam ecossistemas suficientemente preservados ao ponto de permitirem um estudo minucioso de como funcionam. A sua preservação e proteção é de vital importância para conhecer e entender como funciona a natureza. Preservar e proteger, é o binômio para lidar com esses laboratórios, verdadeiros santuários da biodiversidade. Começa pela preservação, o que significa que não se permita a exploração dos seus recursos  ao ponto de resultar no desequilíbrio do sistema. A exploração da madeira, a mineração, a depredação das plantas ornamentais e flores como orquídeas e outros é incompatível com a preservação.  A pesquisa científica, por exemplo de plantas medicinais podem ser importantes se conduzidas nos limites permitidos pela proteção. É preciso vigiar e controlar severamente a caça e o apresamento de animais, pássaros, insetos, aranhas, etc. a não ser para finalidades de estudo científico.

À preservação soma-se necessariamente a proteção. A proteção inclui, além da preservação dos ecossistemas, ou no caso, os “hot spots”, além da integridade do todo e das partes, o cuidado na não perturbação da sua harmonia. Explicando. Cada ecossistema é o cenário de uma sinfonia de sons, ruídos, cantos, gritos, pios, assobios, fazendo parte da harmonia singular, componente importante na definição peculiar da sua identidade. Perturbar essa harmonia com o ronco de motores, motosserras, o sobrevoo a baixa altitude de aviões e helicópteros, perturba mais essa harmonia do que pode parecer ou se queira admitir. Na mesma linha vão as músicas barulhentas, algazarras, fogos de artifício, iluminação artificial. Os  “hot spots” exigem o tratamento como relíquias, o que de fato são, como santuários que devem ser apreciados e degustados com devoção. Só nessas condições seremos capazes de perceber as mensagens que nos tem a transmitir e apreciar as sua sinfonias. O Pe. Balduino Rambo numa caminhada solitária entre os gigantes de uma floresta de sequoias, deixou uma amostra da riqueza e profundidade das reflexões que um desses santuários naturais é capaz de sugerir.

Sem  querer, a gente se flagra em absoluto silêncio em meio à assembleia dos gigantes. Que cantos não teriam deixado os poetas e cantores do Velho Testamento, que nos falam com tanta empolgação dos cedros do Líbano e dos ciprestes do Monte Sião, se tivessem tido ocasião de escutar a voz de Deus nessas florestas. Quando Davi e Salomão cantavam seus salmos, quando Isaías anunciava a seu povo o advento do futuro Filho do Homem; quando Ezequiel contemplava o Senhor dos Tempos sentado no seu trono, sobre muitas dessas árvores já pesavam mais de mil anos. Quando no gólgota foi erguida aquela árvore da qual cantamos: verdadeira árvore da vida na qual pendeu o Senhor em angústia mortal. O canto de luto das árvores do paraíso, o canto da árvore da mitologia germânica, o canto de vitória da árvore da Redenção, todo o simbolismo que envolve a árvore nas sagas e na arte da humanidade, toma conta do observador, que caminha na penumbra mortiça das florestas. Entre o céu e a terra há muitas verdades que não estão escritas nos livros. Revelam-se no silêncio da floresta. (Rambo, 2.015, p. )

A “Conservação Internacional” identificou em 2.006 os seguintes “hot Spots”:

1.     Vegetação de sálvia do litoral e dos sopés  das montanhas da Califórnia.
2.     As florestas tropicais do sul do México e da América Central.
3.     As florestas  e habitats de terra seca das ilhas do Caribe, especialmente Cuba e  Hispaniola.
4.     As floresta nas regiões baixas e de altitude média dos Andes.
5.     O Cerrado (savana) do Brasil.
6.     A mata atlântica do Brasil.
7.     As florestas e habitats de terra seca da bacia do Mediterrâneo.
8.     As florestas das montanhas do Cáucaso.
9.     A floresta da Guiné, na África Ocidental.
10.   Muitos habitats na região do Cabo, na África do Sul
11.   Muitos habitats do Chifre da África
12.   Muitos habitats de Madagascar, sobretudo as florestas.
13.   As florestas tropicais da cordilheira dos Ghats Ocidentais, na Índia.
14.   As florestas tropicais do Sri Lanka.
15.   As florestas do Himalaia.
16.   As florestas do sudoeste da China.
17.   A maioria das florestas da Indonésia.
18.   As florestas tropicais das Filipinas.
19.   As charnecas do sudoeste da Austrália.
20.   As florestas da Nova Caledônia.
21.   As florestas do Havaí e muitos outros arquipélagos do Pacífico Centra e Oriental.

Wilson lembra  que os “hot spots” enumerados acima e mais 13 que foram acrescentados mais tarde, cobrem apenas 2,3% da superfície do planeta. Mesmo assim abrigam 42% dos vertebrados terrestres (mamíferos, aves, répteis e anfíbios) e 50% das espécies de planas com flores. São os locais onde se verifica a maior concentração da biodiversidade. São também o refúgio da maioria das espécies ameaçada de extinção constantes na lista da “União Internacional pela Conservação da Natureza” como “ameaçados ou criticamente ameaçados” com destaque para 72% dos mamíferos terrestres, 86% das aves e 92% dos anfíbios. (cf. Wilson, 2008, p. 111).

O estudo dos “hot spots” possibilitou a elaboração de uma lista descendente do número de espécies que abrigam. Madagascar ocupa o topo da lista com 448 gêneros de animais e plantas só encontráveis naquela ilha. E seguida vem as ilhas do Caribe com 269 gêneros; a mata atlântica do Brasil com 210 gêneros; o arquipélago de Sonda na Indonésia, com 199; As montanhas da África Oriental, com 178; A região do Cabo om 162. (cf. Wilson, 2008, p. 111)


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