Reflexões sugeridas pela Encíclica Laudato si - 7 -

O apelo para o diálogo e a colaboração vem também do lado da Genética, de momento o campo mais promissor e mais importante da Biologia por seu potencial  para avançar até os arcanos da vida e desvendar a sua natureza biológica. Escolhemos como porta voz emblemático dessa especialidade o Dr. Francis Collins, Diretor do Projeto Genoma Humano. Ele conta que até aos 21 anos foi agnóstico, até os 27 ateu fervoroso. Foi quando entrou em contato com os doentes internados no hospital em que cumpria residência médica. A convivência com eles, a maioria  pessoas simples do povo do interior, sua atitude frente à doença, não poucas vezes sem cura à vista, fizeram dele um crente em Deus que não escode sua suas convicções. Desde então faz da perfeita compatibilidade entre a Fé em Deus e a prática da Ciência como uma missão a ser cumprida.

No discurso que ajudou a elaborar para ser pronunciado pelo Presidente Clinton por ocasião da apresentação oficial  do Mapa do Genoma humano, cujo desenho coordenara, Collins inseriu o seguinte parágrafo, lido pelo Presidente. “Trata-se do mapa mais importante e mais extraordinário já produzido pela humanidade. Hoje estamos aprendendo a linguagem com que Deus criou a vida. Ficamos ainda mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus”. (Collins, 2007, p. 10)

Numa outra passagem do seu livro “A Linguagem de Deus”, Collins afirma categoricamente.

É claro que a visão científica do mundo não é totalmente  suficiente para responder a todas as questões interessantes acerca da origem do universo e não há nada essencialmente em conflito entre a ideia de um Deus criador e o que a ciência revelou. Na verdade a hipótese de Deus soluciona algumas questões da profundidade mais problemática sobre o que veio antes do Big Bang e porque o universo aprece tão exatamente acertado para que estejamos aqui. (Collins, 2007, p. 87)

E sobre as conclusões de Robert Jastrow, citado mais acima, Collins acrescenta. “Tenho de concordar. O Big Bang grita por uma explicação divina. Obriga à uma conclusão de que a natureza teve um princípio definido. Não consigo ver como a natureza pôde ter-se criado. Apenas uma força sobrenatural, fora do tempo e do espaço poderia tê-la originado”. (Collins, 2007, p. 75)

Acrescentamos aos cientistas de renome citados, mais  um, também ele da área da genética. Este, por sua vez, é um dos sistematizadores e consolidadores  dessa especialidade, na metade do século XX. Falamos de Theodosius Dobzhansky, nascido na Ucrânia, filiado a Igreja Ortodoxa, mas fez toda a trajetória de cientista nos Estados Unidos. Entre suas muitas publicações, destaca-se: Herencia e la naturaliza del hombre, título na tradução no espanhol. Referindo-se  especificamente ao homem põe em dúvida a compreensão da sua natureza somente pelo lado da ciência. pois o homem é uma incógnita que pede explicações até hoje fora do alcance da ciência.

O homem, quem é? como se originou e para onde vai? No mínimo é discutível que a ciência por si só esteja um dia de posse da resposta definitiva para esses questionamentos. Até os espíritos mais apurados, quem sabe exatamente por serem os mais apurados, ficam sem ação. Fazem aproximadamente oito séculos e meio que Omar Kayam expressou com exatidão o dilema; “Chegamos a este mundo sem saber porque, nem donde, querendo ou não, como a água que flui; e partimos dele como o vento pelo deserto, para onde, não sei, querendo ou não querendo”. (em Dobzhansky, 1969, p. 150-151)

Dobzhansky segue nas sus reflexões. “O homem é o produto final de um longo processo evolutivo, aparentado de todos os seres vivos. Não é só produto da evolução como continua nesse processo. O sentido de sua evolução é um problema ainda não resolvido”. (Dobzhansky, 1969, p. 151)

Falando sobre genética e herança cultural concluiu.


Inevitavelmente, a natureza do homem é sua natureza biológica. Sem dúvida o ser humano é algo mais que a capacidade de o DNA  auto duplicar-se. Considerado tanto do ponto de vista biológico quanto do filosófico o ser humano é o produto mais singular do processo evolutivo.  Recebe e transmite duas heranças, a biológica e a cultural. A herança biológica do homem é muito parecida como a de qualquer outro organismo; é transmitida exclusivamente dos pais aos filhos e outros descendentes diretos. Não é possível dar os genes aos melhores amigos ou parentes, salvo que estes sejam os próprios filhos. A herança cultural, ou simplesmente a cultura, é transmitida pelo ensino, imitação e aprendizagem, e em grande parte pela linguagem. (Dobzhansky, 1969, p. 152-153)

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