Observações e Conclusões
sobre Francis Collins e sua obra.
Depois de percorrido e analisado o magnífico livro “A Linguagem de Deus”
e identificado fundamentos científicos que subsidiaram a lógica na concepção da
síntese da natureza proposta pelo Dr. Collins, uma série de questões merecem
ser destacadas. Uma delas ele próprio descreveu e respondeu no primeiro
capítulo da sua obra, ao recordar a apresentação oficial do mapa do genoma
humano pelo Presidente Clinton no salão leste da Casa Branca. Tony Blaier,
primeiro ministro do Reino Unido acompanhou via satélite a solenidade. As
principais redes de comunicação do mundo estavam atentas. Ao lado do Presidente,
Collins acompanhou o anúncio oficial do mapa genético humano. Ouviu o
presidente Clinton começar o discurso com as palavras: “trata-se, sem dúvida,
do mapa mais importante e mais extraordinário já produzido pela humanidade. (...)
Hoje estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Ficamos ainda
mais admirados pela complexidade pela beleza pela maravilha da dádiva mais
divina e mais sagrada de Deus”. (Collins, 2007, p. 10). Muitos dentre o público que ouviam o
pronunciamento de Clinton, devem-se ter perguntado: o que está acontecendo?
estou ouvindo bem? O presidente da nação oficialmente mais laica do mundo
atual, no momento que apresentava oficialmente a esse mesmo mundo um dos feitos
mais espetaculares, mais significativos e mais
úteis para as gerações futuras principalmente, não se constrangeu em “saltar da perspectiva científica para a
espiritual”. Collins esclarece:
Será que eu, um cientista rigorosamente treinado, fiquei desconcertado
com uma referência tão espalhafatosa, feita pelo presidente dos Estados Unidos
num momento coo aquele? Fiquei tentado a mostrar-me irritado ou a olhar
envergonhado para o chão? Não, nem um pouco. Na verdade, eu trabalhara coo
redator do discurso do presidente naqueles dias de frenesi que precederam o
evento, e fui enfático em meu apoio à inclusão do parágrafo. Quando chegou o
momento em que precisei acrescentar
algumas palavras de minha autoria, fiz coro cm esse sentimento: “É um
dia feliz para o mundo. Para mim não há pretensão nenhuma, e chego mesmo a
ficar pasmo ao perceber que apanhamos o nosso manual de instruções,
anteriormente conhecido apenas por Deus.
O que passava lá? Porque um presidente
e um cientista, no comando do anúncio de um maco da Biologia e da
Medicina se sentiram impelidos de a
evocar a conexão com Deus? Não existe um antagonismo entre as visões do mundo
científica e espiritual. Ambas não deveriam, ao menos, evitar aparecer lado a
lado no Salão Leste? Quais os motivos para evocar Deus nesses dois discursos? Poesia?
Hipocrisia? Uma tentativa cínica de bajular as pessoas religiosas ou a desarmar
as que talvez criticassem o estudo do genoma humano como se este reduzisse a
humanidade a um maquinário? Não. Não para mim. Muito pelo contrário. Par a mim
a experiência de mapear a sequência do genoma humano e descobrir o mais
notável de todos os textos foi, ao mesmo
tempo, uma realização científica excepcionalmente bela e um momento de veneração.
(Collins, 2007, p. 11).
Não há dúvida de que a cerimônia da apresentação do mapa do código
genético, nas circunstâncias e nos molde em que foi feito, deve ter causado
estranheza a não poucos que se achavam presentes. Começa por aí que o Salão
Leste da Casa Branca é palco reservado para solenidades de significado incomum.
Foi neste cenário que o Presidente da nação protótipo do laicismo e um
cientista diretor do projeto mais ambicioso do começo do terceiro milênio,
iriam anunciar ao mundo, o mapa genético humano desenhado até os últimos
detalhes, fizeram questão de incluir em seus discursos a referência a Deus em tom de profissão de fé. As linhas
e, principalmente, as entrelinhas das declarações dos dois protagonistas da
solenidade convidam para algumas
reflexões. Como apontamos mais acima, lá discursava o presidente da nação mais
poderosa do planeta e, ao mesmo tempo, regida por uma constituição que baniu a
religião da vida pública. Tanto assim que não
permite cruzes ou outros símbolos de qualquer religião em locais
públicos. Sem o menor constrangimento, o presidente Clinton declarou a uma
certa altura do seu discurso: “Hoje,
estamos aprendendo a linguagem com que Deus criou a vida. Ficamos ainda mais
admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina
e mais sagrada de Deus”. (A linguagem de Deus). E Francis Collins, por sua vez,
fez eco às palavras de Clinton: “É um
dia feliz para o mundo. Para mim não há pretensão nenhuma, e chego mesmo a
ficar pasmo ao perceber que apanhamos o primeiro traçado de nosso manual de instruções, anteriormente
conhecido apenas por Deus”. (A Linguagem de Deus, p. 11). E beirando a
perplexidade perguntou-se: “O que se
passava lá? Porque um presidente e um cientista, no comando do anúncio de um
marco da Biologia e da Medicina, se sentiram impelidos a evocar uma conexão com
Deus?” (A Linguagem de Deus, p. 12). Sem dúvida foi uma situação inusitada, e
porque não, inesperada em tais circunstâncias. De um lado, o representante
máximo do laicismo praticado na política e vida pública, falando em Deus e, do
outro, um representante da “grande ciência”, oficialmente reticente a qualquer
referência que não cabe no seu catecismo metodológico e sinaliza para outas
aproximações possíveis quando se trata de responder aos desafios dos
questionamentos com que a natureza povoca
aqueles que se propõem a encontrar respostas convincentes.
Mas deixemos de lado o viés oficial da cerimônia e reflitamos um pouco o
que significou a presença do Dr. Collins no evento e, de modo especial, a sua
postura. Nele estava aí representada a
nata, a elite das elites da intelectualidade científica do momento. Pode-se
afirmar a maior autoridade em genética humana e sua aplicação na medicina. Com
a apresentação ao mundo dos resultados do projeto “Genoma Humano”, por ele
coordenado, brindou a humanidade com um desses feitos que contém um potencial
de perspectivas difícil de dimensionar, uma verdadeira revolução que ultrapassa
as quatro paredes dos laboratórios de pesquisa, para repercutir até no diário
das pessoas comuns. Trata-se de munição mais que suficiente para o cientista
inflar o peito e olhar o resto do mundo do alto do seu pedestal. E qual foi a
reação do Dr. Collins?. Ele mesmo deu a resposta em seu discurso: “Para mim, a
experiência de mapear o genoma humano e descobrir o mais notável dos textos
foi, ao mesmo tempo, uma realização científica excepcionalmente bela e um
momento de veneração”. (A Linguagem de Deus, p. 11). Demonstrou com essas palavras
de emoção, humildade, respeito e
“veneração”, diante do significado que ele e sua equipe desvendaram durante uma
década de pesquisa, vasculhando os arcanos da vida e interpretando o código, o
alfabeto, a “Linguagem” com que Deus se comunica com os homens. Aliás, é
curioso que exatamente os protagonistas das grandes revoluções que marcaram época na história da ciência, foram
homens que acharam perfeitamente natural que a Ciência não ameaça a Religião.
Mais. Não esconderam as suas crenças temendo talvez passarem por estranhos no
ninho dos cientistas que tem fé mas fazem dela um assunto estritamente de foro íntimo.