Duas conclusões
Duas conclusões parecem ser de
importância nessa declaração de Collins. A primeira que a compreensão do homem
na sua totalidade existencial e, porque não a compreensão do universo e da
natureza, situa-se fora e além dos potenciais teóricos e metodológicos da
ciência. Este fato leva à conclusão de que a face fora do alcance da ciência
exige uma abordagem vinda de outra direção munida com as ferramentas capazes de
iluminar a outra vertente de dados indispensáveis para completar a compreensão
objetiva da natureza. Em outras palavras. Para entender a natureza como uma
totalidade, como um dado objetivo, como uma síntese, não basta a aproximação
pela análise e a indução. É preciso associar à investigação a abordagem
sintético-dedutiva, e para dar alma e harmonia ao todo dessa síntese, cabe à
intuição como conhecimento legítimo um papel mais importante do que muitos
gostariam de admitir. Não sem razão o Pe. Balduino Rambo anotou em suas
reflexões sobre o conhecimento.
Entre a Ciência e a Fé (entre as Ciências Naturais, a Filosofia e a
Teologia, as Ciências Humanas, as Letras e Artes, inciso do autor), estende-se
o vasto campo da intuição, que não é outra coisa do que um conhecimento
condensado. Não se trata ali tanto do significado e da expressão imediata da
palavra, como do som subliminar que emite e da ressonância que desperta. A essa
melodia concomitante da linguagem humana até hoje se prestou pouca atenção. Bem
considerada ela não é um som secundário, e sim a nota dominante no concerto
musical do espírito dinâmico do homem, (Rambo, 1994, p. 265)
A intuição teve em Jean Jacques Rouseau a sua habilitação como forma
legitima de conhecimento. A percepção imediata das realidades naturais pelos
sentidos resulta na construção informal e espontânea dos corpos de conhecimento
que subjazem às mais diversas culturas e civilizações. Com sua autoridade
inconteste o grande filósofo da modernidade, deixou claro que o homem busca a matéria prima do
conhecimento no mundo ambiente em que vive e apropria-se dela por meio dos
sentidos. A forma peculiar como essas percepções são elaboradas, depende da
natureza delas, do entorno cultural em que é recebida e da forma única pela
qual é percebida e elaborada pelas mentes individuais. Rousseau contentou-se,
filósofo que era, em apresentar ideias sem propor caminhos para pô-las em
prática. Talvez não intuísse o tamanho do potencial prático embutido nessa forma
peculiar de conceber toda uma face importante do conhecimento. E o valor
prático, inovador e revolucionário
encontra-se exatamente no plano mais sensível e mais decisivo da vida dos
indivíduos e das sociedades por eles formadas: a Educação. E é exatamente pela
educação formal e informal, no ambiente familiar e social e, principalmente de
forma sistemática nos currículos do
nível infantil e fundamental, que os conhecimentos via sensorial e
intuitivamente elaborados transformam-se no “som subliminar que emite e da ressonância que desperta”. É a
melodia concomitante da linguagem humana” (...) “A nota dominante no concerto
musical”, como a classificou o Pe. Rambo na referência acima.
É até certo ponto surpreendente que a proposta de começar a educação
infantil estimulando as crianças a entrar em contato com as realidades naturais
que as rodeiam, encontra em Edward Wilson um dos seus defensores mais
entusiastas e de maior peso. Com um currículo de biólogo construído durante
mais de cinco décadas, tendo a entomologia como foco, impôs seu nome como uma das
maiores autoridades na especialidade, é de esperar que suas sugestões
sobre a educação das crianças tivesse como cenário privilegiado a “História
Natural”. Sim, o velho e, por muitos desprezado e rejeitado conceito de
“História Natural”, que para Wilson confere razão de ser e consistência a
qualquer projeto ou iniciativa na pesquisa científica. Para ele a “Natureza é
uma realidade objetiva”, portanto tem uma história, uma “História Natural”
também objetiva. A História da Natureza, portanto, não é sucessão fortuita de
fatos e acontecimentos sucedendo-se ao acaso ou uma visão momentânea desenhada
a partir dos dados fornecidos pelas pesquisas científicas num determinado
momento histórico. Visto sob este prisma o conhecimento obtido via sensorial e
elaborado pela intuição não pode ser ignorado no momento em que se pretende
propor, esboçar e formular uma síntese da Natureza. Não nos queremos alongar
aqui numa análise mais detalhada da proposta de Edward Wilson, pois será objeto
do capítulo seguinte dessas reflexões.
A necessidade de uma
síntese
Depois dessa digressão voltemos à
proposta de Francis Collins. Pelo que se pode concluir pelas linhas e de modo
especial pelas entrelinhas da “Linguagem de Deus”, ele abandonou o agnosticismo
juvenil e aos 27 anos percebeu que o ateísmo que então professava, não oferecia
respostas satisfatórias para situações vividas no diário dos internados nas
enfermarias do hospital em que cumpria a residência médica e mais tarde ao dar
assistência médica a populações pobres na Nigéria.
Sendo verdadeiros os pressupostos que acabamos de enumerar a compreensão
da natureza como síntese só é possível se na sua concepção forem tomados em
consideração o lugar e a importância que as três grandes fontes parciais do
conhecimento forem devidamente contempladas. Recorrendo a uma metáfora essa
síntese é comparável ao arco de pedra que sustenta um portal. Este é formado por três elementos essenciais: os
dois lados e a pedra de fecho. Um dos lados representa a parte de construção do
arco cuja matéria prima é obtido por meio do método analítico-indutivo privativo
das Ciências Naturais A matéria prima da segunda coluna do arco busca a sua
matéria prima nas conclusões fornecidas
pelo método sintético-dedutivo das Ciências do Espírito. A pedra de fecho sem a
qual nunca formarão um arco, com o formato característico de cunha e com a
função de conferir “a natureza de arco ao arco”, deve ser procurada na percepção sensorial, na intuição e nos
sentidos que sugere para a compreensão da natureza como síntese. Não se trata
de um método científico no sentido que Francis Bacon tinha em mente quando
definiu os dois outros. A percepção sensorial dos fatos oferecidos pela natureza,
atribuindo-lhes sentidos e significados pela intuição é “a melodia
concomitante, a nota predominante”, que perpassa o conhecimento da natureza. Em
outras palavras. A percepção sensorial, fundamento da intuição foi senão a
única, de longe a mais importante responsável pela compreensão da natureza e do
homem até o advento da consolidação das bases das Ciências Naturais. E é
importante que não se esqueça, que mesmo hoje, o desenho da cosmovisão do homem
comum trai muito mais traços buscados na
intuição, na sua compreensão e nas atitudes diante os fenômenos naturais, do que
parece e ou muitos admitem.
Retornemos à concepção da Natureza como Síntese de Francis Collins. Depois
de resumir a essência da concepção ateia e agnóstica, passa a fazer
considerações sobre as várias formas de Criacionismo, umas mais e outras menos
plausíveis. Demora-se depois na teoria do “Design Inteligente” que, nos últimos
20 anos, gozou de uma popularidade fora do comum na solução, melhor talvez,
harmonização, entre os dados científicos em favor da evolução e a questão da
oportunidade ou necessidade de recorrer à intervenção de uma causa externa para resolver o impasse do “como” da origem
do universo, da natureza e do homem, ou do como de alguns passos nevrálgicos da
evolução que a ciência não resolveu satisfatoriamente até o momento, como: a
origem da energia da qual se acredita ter sido moldado o universo; a origem da
vida; e a origem do homem não na sua origem biológica, mas no que tange à sua
inteligência reflexa, a lei moral que lhe é inerente, a busca existencial e universal da realização pessoal e,
sobretudo, a busca de respostas para perguntas como: afinal, como estou aqui, o
que faço aqui e para onde vou ou, qual o
sentido e o destino da minha existência?
A teoria do Design Inteligente, daqui em diante usaremos apenas as iniciais
DI, foi formulada, não por um cientista que acredita na existência de Deus, nem
por um filósofo ou teólogo, mas por um jurista cristão da Universidade da
Califórnia em Berckeley. Na primeira década deste século a teoria do DI assumiu
proporções tais que envolveram até o presidente dos Estados Unidos ao
recomendar que a teoria do DI fosse incluída nos debates sobre a evolução. Aqui
não é o lugar de entrarmos em detalhes
sobre a polêmica que se desencadeou com a popularização da teoria do DI.
Interessa o que pretende oferecer em termos de solução a questões para as quais
a ciência ainda não encontrou reposta.
Para começar existe uma certa dificuldade em definir exatamente o
sentido que se atribui ao conceito do DI. À primeira vista parece sugerir diversas formas de
interpretação de como a “vida veio a acontecer neste planeta e a função que
Deus pode ter tido nesse processo” (A linguagem de Deus, p. 188). Terminou
predominando a compreensão de que se refere a uma série de conclusões sobre
conceito de “complexidade irredutível”. Parte do pressuposto de que na natureza
existem certos sistemas biológicos de complexidade tão alta que sua origem não
pode ser atribuída a processos mais simples e menos complexos como são mutações
espontâneas, ocasionais e vantajosas
perpetuadas pela seleção natural. A complexidade estrutural e funcional desses
sistemas biológicos é de tal ordem que só podem ser explicada pela intervenção de
alguma inteligência. Acontece que a maioria dos cientistas não aceita essa
teoria como válida, principalmente depois que o julgamento “Kitzmiller v. Dover Area Shool Didtrict”, no
seu veredito concluiu pela inconsistência do conceito da “complexidade
irredutível”. O DI, fundamenta-se.
segundo Collins, em três propostas. Primeira: a evolução induz uma visão de
mundo ateísta e, portanto, aqueles que creem em Deus devem-se opor a ela;
segunda: a evolução tem fundamentos falhos, pois não pode justificar a
complexidade da natureza; terceira: se a evolução não pode explicar a
complexidade irredutível, deve, então, ter existido um planejador inteligente, que
de algum modo, entrou em cena para fornecer os componentes necessários durante
o curso da evolução. (mais detalhes em Collins, 2007, p. 190-193).
Sempre segundo o autor da “Linguagem de Deus”, há uma série de objeções
que dificultam, para não dizer impedem a aceitação da teoria do DI, tanto pelo
lado da ciência, quanto pelo lado da teologia. Da perspectiva científica
destaca-se o fato de que muitos cientistas que creem em Deus logicamente
deveriam aceitar a teoria do DI. Acontece que não é o caso. Para eles o DI
resume-se no máximo numa preocupação secundária que merece pouca credibilidade
científica. A razão também não está no fato de muitos cientistas não admitirem
qualquer questionamento às afirmações sobre a evolução nos seus mínimos
detalhes. A razão principal da inconsistência do DI, reside no fato de não
poder ser credenciada como uma teoria científica propriamente dita, porque: uma
teoria científica é estruturada de tal maneira que confere sentido a um conjunto de observações experimentais;
uma teoria científica prevê a possibilidade de outas descobertas e deixa o
caminho aberto para verificações complementares e nisso o DI é falho.
Mas o que de fato compromete o futuro do DI, segundo Collins, é constatação de que muitos complexos que
pareciam irredutíveis na verdade não são. Nos 29 anos desde a popularização da
teoria do DI, as pesquisas científicas avançaram muito. Avançaram especialmente
no detalhamento do genoma de um série de espécies. A armadilha em que caíram os
defensores do DI foi de confundirem “o desconhecido” com ”o desconhecível”.
Aqui não é o lugar para detalhar os exemplos de várias pesquisas que vão na contramão do que o DI sustenta. O
interessado os encontra nas pgs. 194 e 199 do “A linguagem de Deus”.
Se de um lado o Di não consegue oferecer uma sustentação científica consistente assim também não
convence como solução teológica, Parece-se muito mais a um “deus ex machina” do
teatro clássico, um recurso extraordinário e alheio, portanto, chamado para
socorrer na solução de um impasse quando as ferramentas usuais já não dão conta
do recado. Traduzido para a linguagem atual da ciência, o DI, o “deus ex
machina” dos antigos corresponde ao “deus das lacunas. No momento em que a
ciência se defronta com impasse sério na identificação de algum passo ou
fenômeno de importância crucial para a investigação, recorre-se a uma
explicação buscada fora do âmbito das ciências, um “deus ex machina”, uma causa
extraordinária, uma intervenção externa, um ato criador, para preencher “a lacuna”. Sendo assim o DI é
chamado para preencher “as lacunas” que
qualquer ideário em qualquer um dos campos da pesquisa científica vai
encontrando pelo caminho. Em essência não difere da atitude do pastor de
ovelhas e cabras do neolítico observando a coreografia celeste em noites de
vigília solitária, ou o agricultor da pré-história ao observar a trajetória
diária do sol ou os ciclos mensais da lua. Viam nesses fenômenos seres ou forças sobrenaturais em tudo. Há um
outro aspeto no DI que, segundo Collins, colide frontalmente com a onipotência,
a onisciência e a onipresença, especialmente as duas primeiras, atribuições ao Deus da teologia. Levado às últimas
consequências, “o DI retrata o
Todo-poderoso como um Criador atrapalhado, que precisa intervir de tempos em
tempos para consertar as insuficiências do próprio projeto original, do qual se
originou a complexidade da vida”. (Collins, p. 200) Diante desse quadro a lógica leva a
concluir que o DI não se sustenta como uma solução para dirimir o aparente
impasse em que se encontram as Ciências Naturais e as Ciências do Espirito.
Duas questões merecem ainda serem destacadas. Em primeiro lugar, não se
questiona a sinceridade dos adeptos convictos do DI normalmente fiéis
seguidores de denominações confessionais que interpretam as Sagradas Escritura
ao pé da letra e não abrem mão da criação por Deus, e ao mesmo tempo, respeitam
e aceitam os resultados das pesquisas científicas. Nessa polêmica a
avassaladora influência da teoria da evolução de Darwin ocupa um lugar
decisivo. Em segundo lugar, o fundamentalismo científico de muitos seguidores
de Darwin, não do próprio Darwin, com destaque para Ernest Haeckel, pregam que
o evolucionismo é necessariamente ateu. A defesa irredutível de cada uma das
posições em caminhar na própria direção, ignorando a outra, as leva, tanto uma quanto a outra, a
um beco sem saída. Richard Dawkins, cientista e apóstolo do ateísmo citado por
Collins, bem mostra em que terminam posições
excludentes. “o universo que observamos tem, exatamente, as propriedades
que esperaríamos que existissem, na verdade, sem design, sem finalidade, sem mal
e sem bem, nada além de uma indiferença cega e impiedosa?” Collins responde a
Dawkins: “que jamais seja assim! Afirmo tanto ao que crê em Deus quanto ao
cientista que existe uma solução nítida, obrigatória e satisfatória
intelectualmente para essa busca pela verdade”. (Collins, 2007, p. 201-202)
Na “Linguagem de Deus” Collins descreveu o caminho “tortuoso” até
encontrar uma solução “intelectualmente satisfatória para essa busca da
verdade”. Depois de perambular pela química, física e medicina encontrou o caminho que lhe permitiu aliar o amor pela
ciência e a Matemática e o desejo de ajudar as pessoas: A Genética Médica. Em
outro momentos já referimos como o convívio com os pacientes nas enfermarias do
hospital, chamaram a sua atenção sobre o vasto mundo das alegrias e
principalmente dos dramas que fazem parte do quotidiano das pessoas comuns.
Este mundo que não aparece nas provetas, em lâminas de microscópio, em reações
químicas, cálculos estatísticos ou leis físicas. Foi aos poucos chegando à
conclusão de que “Deus era muito mais atraente do que o ateísmo que até então
tinha adotado ...” Collins foi-se convencendo aos poucos de que não havia
nenhuma contradição de fundo entre as verdades científicas e as espirituais.
Entrou para a “American Scientific Affiliation” formada por milhares de
cientistas dos Estados Unidos que creem em Deus. Nos seus encontros, reflexões
e publicações saíram não poucas propostas que fazem sentido, oferecendo saídas
inteligentes para harmonizar a ciência e a fé. Sobre esses encontros de
cientistas crentes, concluiu:
Confesso que durante muitos anos não prestei muita atenção ao potencial
para conflitos entre a ciência e a fé –
não parecia tão importante assim. Não havia muito que descobrir, na pesquisa
científica, sobre a genética humana, e havia bastante a descobrir sobre a natureza de Deus lendo e
discutindo sobre a natureza de Deus e discutindo a fé com outros que
acreditavam nele”.
A necessidade de encontrar a harmonia das minhas visões de mundo veio, definitivamente,
com o estudo dos genomas – o nosso e o do diversos organismos do planeta - . e
começou a decolar, oferecendo-me um ponto de vista incrivelmente rico e detalhado de como ocorreu a evolução
por modificações a partir de um ancestral
comum. Aquilo, para mim, em vez
de algo não resolvido. era uma evidência distinta do parentesco entre todos os
seres vivos, um momento de admiração. Percebi que se tratava de um plano em
detalhes do mesmo Todo-Poderoso que trouxe o universo à existência e estabeleceu
seus parâmetros físicos de forma precisa, a fim de permitir a criação de
estrelas, planetas elementos pesados e a própria vida. Sem saber seu nome na
ocasião, firmei-me confortavelmente numa síntese que em geral é denominada “evolução teísta”, uma posição que acho
muitíssimo satisfatória até hoje. (Collins, 2007, p. 204-205)
A proposta de Francis Collins, o cientista que decifrou as últimas
vírgulas a “linguagem do genoma”, e com isto mergulhou até os arcanos do
funcionamento da própria vida, sinaliza que a natureza, a partir das muitas
perspectivas que pode ser observada e entendida, é uma síntese harmoniosa moldada pelos resultados obtidos pelas
Ciências Naturais, as Ciências do Espírito, as Ciências Humanas, a Letras e as
Artes. Explica em seguida o que se entende por “evolução teísta”. Observa que
nas grandes bibliotecas o espaço reservado para o darwinismo costuma ocupar
prateleiras e mais prateleiras, assim como o criacionismo e o design
inteligente. O conceito de evolução teísta é pouco mencionado mesmo entre os
cientistas que acreditam em Deus. Chama a atenção que entre os biólogos sérios
que acreditam em Deus, entretanto, a
evolução teísta conta com defensores de os nomes reconhecidos nas suas
especialidades. Cita entre outros Asa Gray o maior defensor do darwinismo nos
Estados Unidos e Theodosius Dobzhansky talvez o maior nome do século XX na
genética e do do pensamento
evolucionista. Além desses e outros cientistas a ideia da evolução teísta
encontra-se na base da doutrina do hinduísmo, do islamismo, do sionismo e do cristianismo. É aceita por João Paulo II
e por seu antecessor Pio XII, na famosa encíclica “Humani Generis”, datada de
1950. Consta também no pensamento de filósofos como Maimonides, judeu do século
XII e Santo Agostinho adotaria a
evolução teísta se estivesse a par das conquistas atuais da ciência. Sutilezas
e variações à parte, a evolução teísta fundamenta-se nos seguintes
pressupostos.
1. O universo surgiu do nada, há aproximadamente 14 bilhões de anos; 2.
Apesar das probabilidades incomensuráveis, as propriedades do universo parecem
ter sido ajustadas para a criação da vida; 3. Embora o mecanismo exato da
origem da vida na Terra permaneça desconhecido, uma vez que a vida surgiu, o
processo de evolução e de seleção natural permitiu o desenvolvimento da
diversidade biológica e da complexidade durante espaços de tempo muito vastos;
4. Tão logo a evolução seguiu seu rumo, não foi necessária nenhuma intervenção
natural; 5. Os humanos fazem parte desse processo, partilhando um ancestral
comum com os grandes símios; 6. Entretanto, os humanos são exclusivos em
características que desafiam a explicação evolucionária e indicam nossa
natureza espiritual. Isso inclui a existência da Lei Moral (o conhecimento do
certo e do errado) e a busca de Deus, que caracterizam todas as culturas
humanas. (Collins, 2007, p. 206)
Collins entra um pouco mais a
fundo na questão e destaca que a proposta teísta oferece uma “síntese
perfeitamente aceitável que satisfaz intelectualmente e tem consistência
lógica. Deus não é limitado pelo espaço e o tempo e nessa condição criou o universo
e muniu-o com as leis naturais que o regem e acrescenta:
Para povoar este universo antes estéril com criaturas vivas, Deus
escolheu o mecanismo distinto da evolução para criar micróbios, plantas e
animais de todos os tipos. O mais extraordinário é que ele escolheu,
propositadamente, o mesmo mecanismo para
originar criaturas especiais que teriam inteligência, conhecimento do certo e
errado, livre-arbítrio e desejo de afinidade com Ele. Deus também sabia que
esses seres, ao fim, optariam por desobedecer à Lei Moral. (Collins, 2007, p. 207)