A teoria
antrópica.
Para o “Princípio Antrópico”, isto é, “ o universo
só existe porque nós existimos”, há três respostas possíveis, segundo o Dr.
Collins. A primeira defende a ideia da possibilidade da existência simultânea
de outros universos, quem sabe muitos outros, organizados e funcionando com
valores e constantes físicas outras das do nosso e, quem sabe, com leis físicas diferentes. Os outros
universos situam-se além da nossa capacidade de percebê-los. Estamos
condicionados a viver apenas em um universo no qual todas as propriedades físicas
trabalham coordenadamente em função da possibilidade da vida e da consciência.
Nosso universo não é um milagre, mas o resultado fortuito de tentativas e erros.
É a hipótese do “multiverso”. Pela segunda hipótese, existe apenas um universo
que, nada mais nada menos, oferece todos os requisitos para gerar uma vida
inteligente, caso contrário não estaríamos debatendo a questão. A terceira
hipótese parte do pressuposto de que existe apenas um universo, este em que nos
encontramos. As constantes e as leis físicas calibradas e ajustadas de tal
maneira que a vida inteligente fosse
possível, não vem a ser um fato acidental, mas sinaliza para uma ação criadora
responsável pela existência do universo.
Para Collins qualquer uma das três alternativas de hipótese leva ao terreno
da Teologia. E para reforçar essa
conclusão, cita novamente o físico Stephen Hawking: “Seria difícil explicar por
que o universo teria começado desta exata maneira, a não ser como ato de um
Deus que quisesse criar seres como nós”. (Hawking, op. cit., p. 63). Freeman
Dyson, outro físico de renome, citado por ele, diante da sequência de
“acidentes numéricos” chegou à conclusão
de que “quanto mais examino o universo e os detalhes da sua arquitetura,
mais evidências encontro de que o universo, em certo sentido, devia saber que
estávamos chegando”. (in Barrow, Tipler, op. cit., p. 318).
Na linha da tese que vimos defendendo
desde o primeiro parágrafo dessas reflexões, o “Princípio Antrópico” vem a
reforçar a convicção de que o universo e a natureza são o resultado de
uma síntese global, que expressa uma unidade radical, impulsionada por um
objetivo, uma teleologia. No caso específico os elementos que compõem o
universo e a natureza, assim como os processos químicos e as leis físicas convergiram, melhor talvez,
prepararam o cenário no qual o surgimento do homem fosse possível. Sem
essa “missão” o universo não faria
sentido. Reparos que possam ser feitos ao “Princípio Antrópico” à parte, ele
representa um reforço nada desprezível à
tese de que o universo e a natureza formam uma gigantesca síntese. Para Collins
a demonstração de que o universo e a natureza como um todo formam uma sínteses
global, não constitui o foco de suas
reflexões. Seu objetivo, o Leitmotiv do seu livro “A Linguagem de Deus”,
resume-se em demonstrar que não há argumentos e razões de fundo que impeçam uma
harmonização entre as Ciências Naturais e as Ciências do Espírito. E neste
nível a interrogação pelas causas e suas identificações polarizam todo esforço.
É ofício das Ciências identificar as “causas secundárias”, as leis da física e
os processos químicos tem potencial para explicar o que está ocorrendo no
macro, micro e nano- cosmos e levar o aprofundamento das pesquisas até o limite
do alcance dos seus métodos e equipamentos de investigação. Mas a partir do
momento que o cientista se depara com a pergunta crucial por uma “causa
primária”, isto é, a causa responsável pelo começo de tudo, a matéria prima do
universo, o estofo do universo como
diria Teilhard de Chardin e as leis que comandam os processos evolutivos, as
coisas sem complicam. Frente a essa situação, Collins chama a atenção para a
sinalização de Stephen Hawking apontando uma saída: “Podemos ainda imaginar que
existe um conjunto de leis fundamentais determinando totalmente os eventos para
algum ser sobrenatural, o qual possa observar o atual estado do universo sem
perturbá-lo” (Hawking, op. cit., p. 63). E, o próprio Collins conclui:
Este breve exame sobre a natureza do universo leva a considerar a
admissão da hipótese de Deus de uma maneira mais geral. Recordo-me do Salmo 19
em que Davi escreve: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia
a obra das suas mãos”. É claro que a visão
científica de um mundo não é totalmente
suficiente para responder a todas as questões interessantes acerca da origem do
universo e não há nada essencialmente em conflito entre a ideia de um Deus
criador e o que a ciência revelou. Na verdade, a hipótese de um Deus soluciona
algumas questões de profundidade mais problemáticas sobre o que veio antes do
Big Bang e porque o universo tão exatamente acertado para que estejamos aqui.
Para um teísta, guiado pelo argumento da Lei Moral (como vimos no capítulo 1),
buscar um Deus que não só enxerga o universo em movimento, mas também se
interessa pelos seres humanos, uma síntese como essa pode ser prontamente
alcançada. A argumentação seria algo assim: Se Deus existe, é sobrenatural. Se
Ele é sobrenatural, não é limitado pelas leis naturais. Se não é limitado pelas
leis naturais, não há motivo para que seja limitado pelo tempo. Se não é
limitado pelo tempo ele está no passado, no presente e no futuro. (Collins,
2007, p. 87)
As consequências desse raciocínio, ainda segundo
Collins, seriam as seguintes: Primeiro. Deus pode existir antes do Big Bang e
continuar existindo mesmo que o universo viesse a desaparecer. Segundo, Ele
estria em condições de saber o resultado exato da formação do universo mesmo
antes de este ter começado. Terceiro. Ele saberia de antemão se um planeta
próximo das margens externa da espiral
de uma galáxia poderia ter as características certas para permitir a vida. Quarto.
Ele saberia por antecipação tal, que determinado planeta levaria ao desenvolvimento
de criaturas conscientes, por meio do mecanismo da evolução e pela seleção
natural. Quinto. Ele estaria também em condições de saber, antecipadamente, os
pensamentos e as ações dessas criaturas,
mesmo se estas tivessem livre arbítrio. (cf. Collins, 2007, p. 88)