Deitando Raízes #33

No que se refere aos custos da construção, depois da morte do velho Datsch, Blauth e Colling receberam 35 contos do governo, o que eleva a conta de toda a ponte para 75 contos, incluídos os dois prolongamentos da ponte propriamente dita. Só a pedreira é capaz de fornecer os dados de quantas cargas de pedra foram empregadas na totalidade da obra. O jovem Datsch informou que durante a vida do pai foram retiradas da pedreira da sua propriedade 1.100 cargas de carroça. No que se refere aos salários da primeira fase da construção, encontramos nos dois livros  que foram gentilmente postos à disposição pelo senhor Jacob Datsch, os seguintes detalhes interessantes. Encontramos a seguinte conta relativa à primeira semana de 23 a 29 de agosto de 1859:
Na condição de arquiteto e mestre de obra João Sauter recebeu 3 mil réis por dia; João Hüther e Jacob Hahn, oficiais de pedreiro, dois mil réis por dia: Nicolaus Datsch como servente e cozinheiro, um mil réis: João Jacob Müller, servente, um mil réis. Os outros dados serão acrescentados mais tarde quando a Crônica (127) for publicada em forma de livro, por ex., o número de dias trabalhados, os salários do mestre e dos oficiais, a maneira como trabalharam empreendedores na ponte, como atuaram nela mais engenheiros, entre eles o major Campos e o acima mencionado major Martins.
A primeira travessia da ponte, ainda não pavimentada, coube a Mathias Lauermann, montado no seu bagual branco, o que certamente não foi um mau prenúncio, tato pelo cavaleiro quanto pelo animal. Mais sério foi o boato de que seria instalada uma barreira e cobrada uma taxa de pedágio. Um grande alvoroço tomou conta de toda a região com o argumento contra de que todos tinham contribuído para a construção. Um grupo de homens, entre eles Lauermann e Sänger, foi conversar com Blauth para chamar-lhe a atenção. Mas este saiu-se com a resposta seca: "Não há nada a fazer. Não se deve contestar o governo." Em extremo amargurados com esta comunicação, os acima citados dirigiram-se a Philipp Herzer, para com ele deliberar sobre a situação. Este tinha opinião diferente de Blauth. Era de parecer que obviamente havia o que fazer, contanto que as pessoas o apoiassem. Foi convocada uma reunião para o domingo seguinte na residência de Philipp Herzer para acertar os passos necessários a serem dados.  Unanimemente rejeitaram  o pedágio da ponte e encarregaram Philipp Herzer e Jacob Datsch júnior a tratar da questão junto ao Governador. Sem perder tempo os dois puseram-se a caminho, já que o leilão do pedágio estava marcado para a quarta feira. Datsch levou três cartas de recomendação endereçadas a Karl von Koseritz, mas Herzer preferiu dirigir-se primeiro ao dr. Florêncio. Ao lhe passarem o documento que o capitão Jahn (autor da obre sobre a Colônia de São Leopoldo), redigira, exclamou ao observar as expressões fortes: "Isto não passa. O Presidente escreverá simplesmente: Não dê lugar, isto é, não merece consideração." Datsch revoltado aproximou-se da janela. Repentinamente voltou-se para Herzer e declarou: "Sigamos o nosso caminho." No corredor o velho Herzer meteu as mãos nos cabelos hirsutos e disse: "E agora, o que fazemos?" Datsch respondeu curto e decidido: "Vamos recorrer ao Koseritz." Assim fizeram, mas não o encontraram em casa. O chapeleiro sugeriu que voltassem  às oito horas. Na hora indicada os dois emissários apresentaram-se na casa do sr. von Koseritz, o qual contudo não se encontrava. O sr. Herzer  pôs-se a procurá-lo e não demorou voltou em sua companhia. Von Koseritz recebeu o documento e soube da resposta do dr. Florêncio. Leu o requerimento e observou: "está um pouco forte, mas apesar disto o faremos chegar às mãos do homem." Pediu que às 11 horas estivessem na residência de Ter Brüggen. Os  três subiram até o palácio e foram recebidos e Koseritz explicou brevemente do que se tratava, o que levou alguns minutos. Depois von Koseritz ocupou o lugar em frente ao Presidente e começou uma longa conversa, não sobre o pedágio da ponte mas sobre a emigração norte americana. Concluída a conversa, os emissários recomendaram-se a von Koseitz. Lá fora este lhes disse: "Vão para casa tranqüilos. Tomarei as iniciativas necessárias, a questão está bem encaminhada."
Koseritz encontrou-se mais duas vezes com o Presidente e o leilão nunca aconteceu e  ninguém mais ouviu falar sobre a taxa relativa à ponte que deveria ser arrecadada. Koseritz recebe 35 mil réis pelo seu trabalho. Cada colono colaborara com uma moeda a título de despesas de viagem. O que sobrou Herzer utilizou para aterrar os atoleiros na estrada no Buraco do Diabo. Outras particularidades (128) relativas às circunstâncias em que aconteceu a continuação da obra, vieram de outras testemunhas.
Jacob Datsch, como se sabe, faleceu em 15 de novembro de 1862. Os trabalhos foram interrompidos por mais ou menos um ano. Depois o governo pressionou pela continuação da obra. Os empreendedores foram Blauth, Colling e Kilp de Porto Alegre. Este último era o responsável técnico.
Johann Dapper  da Wallachai desempenhou o papel de pedreiro chefe, na sua ausência substituído por Peter Schnorr, atualmente residente em Estrela. O engenheiro propriamente dito que parava na casa de Philipp Herzer, raras vezes era visto. Só uma vez os trabalhadores perceberam a sua presença, isto é, na ocasião em que inspecionou o pilar e condenou o trabalho, fato que não impressionou nada bem os operários. Como canteiros distinguiram-se Johann Finger, filho do fabriqueiro, Jacob Petri do Bohnenthal e outros mais. No que se refere à pedreira que fornecia o material da ponte, no início foi usada a de propriedade de Jacob Datsch e, mais tarde, aquela que ficava nas terras de Jacob Kehl, nas proximidades do atual estande de tiro. Da primeira saíram as pedras para os quatro pilares, da última o material  para os arcos. Examinemos  a atividade na pedreira um pouco mais de perto, tomando como base a descrição de alguém que dela participou.
As pedras uma vez extraídas eram carregadas por quatro homens: Karl Becker, o "preto Tyrolerhannes", um outro Becker de Petrópolis e Christoph Führ do Bohnenthal. Este último é de momento professor no local. De manhã cedo, antes de o sol nascer, o duplo par já estava a caminho da pedreira e trabalhavam até a entrada da noite. Havia cinco carroças disponíveis, quatro delas pertenciam a Blauth, a quinta a um filho de Johann Nicolaus Datsch. Faziam quatro viagens por dia de maneira que a cada dia 20 cargas chegavam ao local da construção. A vida às vezes era  muito difícil, quando se tratava de blocos grandes. Especialmente uma, a maior, custou muito esforço. Media 14 polegadas de espessura, 28 de largura e 11 pés de comprimento, um verdadeiro gigante, cujo transporte causou muitas dificuldades. Primeiro foram retiradas as rodas dos eixos e a carroça colocada sobre o chão. Depois o colosso foi depositada sobre ela com o auxílio de rolos. Feito isto a carroça foi erguida e as rodas postas nos devidos lugares. Foi a última carga daquela tarde, um fecho digno para a jornada do dia. Quando a carroça chegou na casa do Ruschel, lá no alto, os quatro homens sentaram-se sobre a pedra e, com voz sonora, entoaram um canto.  Jacob Blauth que estava almoçando ouviu o canto, correu até a porta e olhou morro acima. Ao avistar a carroça na estrada gritou:: "Puxa!, estes trazem uma pedra para valer!" É óbvio que uma pedra tão especial merecia um lugar também especial. Depois do almoço a pedra foi colocada em cima do dique com o auxílio de rolos e assentada sobre o pilar. Todos os demais operários tiveram que colaborar. Uma vez no seu lugar em cima do pilar, Blauth dispensou para aquele dia os quatro homens que a tinham trazido, uma compensação que, com certeza, tinham merecido. A tarefa de carregar as pedras era, sem dúvida, muito pesada e, por isso, não é de se admirar que mais tarde as quatro trabalhadores pediram a Blauth, que destacasse um quinto para os ajudar. Blauth prometeu mais um homem, mas quando se foram entregou-lhes apenas uma garrafa de cachaça.
De então para frente os quatro carregadores de pedra recebiam, em vez de uma garrafa de cachaça, duas. Isto, porém, não lhes resolveu o problema. Como homens morigerados não lhes era possível liquidar sozinhos a "água de fogo" que lhes era fornecida. Era fácil encontrar uma saída. O que sobrava os trabalhadores davam para um velho cesteiro, Mentkes de nome que, (129) em companhia de sua mulher,  servia-se com vontade.
Como um serviço prestado chama o outro, cada um dos quatro recebeu a promessa de um cestinho e, daí em diante, as sobras migravam para a casa do cesteiro. Os demais operários, 30 a 40, recebiam diariamente apenas duas garrafas. Para matar o restante da sede dispunham da água ruim do rio. Cada manhã recebiam uma moringa dela no local do trabalho.
As refeições eram servidas em comum e de graça. No fogão funcionavam como cozinheiros o velho Müller Heinrich e a mulher, nascida Weber. A comida era simples mas boa. Em compensação trabalhavam  com vontade, sobressaindo de modo especial o preto Adam Blauth, um escravo de Blauth. Não servia para trabalhos que exigiam inteligência. Em compensação a Providência o dotara de uma força hercúlea. Não lhe era demais levantar três sacos. Por isto Blauth o colocou junto ao muro para preencher com todo tipo de pedras pequenas e grandes os vãos na estrutura, tarefa que não exigia muito da sua inteligência. Mas a experiência não foi de todo inútil para o preto Adam. Mais tarde, a serviço de Grünewald, tornou-se um pedreiro bastante eficiente. A sua incrível força pode ser concluída do  seguinte episódio. Quando os operários se defrontavam com uma pedra que mais homens juntos não conseguiam carregar, o mestre de obras Grünewald limitava-se a chamar: "Adam, meio mil réis." O Adam vinha e a pedra parava no lugar. Por brincadeira e para alcançar mais facilmente as metas, Grünewald prometera meio mil réis ao Adam. Era um negócio à parte e o Adam compreensivelmente estava cada vez mais disposto. Mais tarde Grünewald observaria: "Vou acabar  com estas apostas, caso contrário o Adam me leva todos os meus meio mil réis."
Mais tarde o Adam não ficou com Blauth. Trabalhava por conta em Bom Jardim, São Leopoldo e Dois Irmãos. Recebia três mil réis de salário por dia, dos quais era obrigado a entregar dois  para o seu senhor. Quando  Adam não remeteu mais pontualmente  a soma, Blauth quis vendê-lo para um vapor. Adam se encontrava na ocasião em Estrela, ocupado com um poço junto a um cervejeiro. Veio a ordem de prendê-lo e despachá-lo para o Rio. Quando, apesar de tudo, arriscou-se num domingo ir à igreja, por precaução retirara-se antes do final da missa, derrubado por um relho caiu desacordado no chão na venda de Michel Ruschel. Levantou-se, mas tornou a cair. Foi preso e levado para o Rio. Depois da libertação dos escravos trabalhou ainda por algum tempo no Rio, dirigiu-se depois para Santa Catarina de onde, conforme conta seu irmão, pretendia voltar ao Rio Grande do Sul.


A construção da ponte foi toda concluída e entregue ao tráfego em 1864. Não demorou e apareceram rachaduras nos arcos. Foram acrescentados pilares de apoio e reforços laterais nos pilares. Importou num novo gasto de cinco contos. As obras foram executadas por Peter Cassel e resolveram plenamente o problema, pois, desde então não houve mais nenhum contratempo  com a solidez da obra. Durante trinta anos de cavalos, carroças e pedestres passaram pela ponte, sem que se percebesse um único sinal de fadiga. Prevê-se que continuará por tempo indeterminado sendo uma via de comunicação segura e um ornamento para Bom Jardim.

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