Deitando Raízes #17

Capítulo décimo
O episódio dos Mucker e da varíola
Neste capítulo queremos relatar dois acontecimentos que causaram tristeza e pavor em vez de júbilo e alegria em nossa picada. Primeiro foi o episódio dos Mucker. Não atingiu tão duramente Bom Jardim quanto o outro flagelo. A epidemia da varíola causou um enorme alvoroço e consternação. O fato  de como se originou a assim denominada seita dos Mucker ficou amplamente conhecido pelos jornais de 1874, entre eles o Deutsches Volksblatt. (65) Primeiro foi tratado como uma interpretação errônea  em que incorreram  os colonos, devido a uma aberração na explicação da Bíblia e depois foi terminar numa espécie de delírio religioso. O cenário do movimento foram as colônias localizadas nas proximidades do Ferrabraz. Mais tarde espalhou-se para a vizinhança mais afastada. Não raro defende-se o ponto de vista de que as idéias, de modo especial as religiosas, não tem grande importância ou seriam de todo inofensivas. Parece tratar-se de um grande engano como ficou lamentavelmente provado com os Mucker. A imaginação desvairada de Jacobina em julgar-se a Messias, transpôs, em pouco tempo, o âmbito das idéias, para alastrar-se para o terreno social. Legitimada pela plenitude do próprio poder e pela infalibilidade da sua pessoa, declarou inválidos vários matrimônios legítimos. Seguiram-se desordens, desavenças e inimizades entre as famílias do lugar. As  idéias aparentemente desandaram e mostraram a sua força destrutiva. Não demorariam para florescer e depois espalhar a  semente destruidora por toda a redondeza. Com o aumento do poder, a heresia partiu para a perseguição. Com a finalidade de angariar adeptos lançou mão da violência, incluindo assassinatos, provocando a intervenção das autoridades. A essa altura as idéias aberrantes passaram a constituir-se num perigo para a comunidade. Os hereges revelaram-se abertamente como revolucionários. Perdura ainda hoje na memória do povo a ridícula campanha empreendida pelas tropas imperiais, sob o comando do coronel Genuíno, apoiado por um bando de colonos alemães voluntários. Até artilharia foi levada ao campo, para dobrar o punhado de  rebeldes. Estes sucumbiram finalmente, não pela tática de guerra das tropas regulares, mas pela valentia dos colonos alemães, revoltados contra os atos de violência dos Mucker.
Em Bom Jardim os Mucker não encontraram eco nem sequer entre os protestantes, ordeiros demais para fazer causa comum com essa perturbação da paz. Uma única família associou-se aos assassinos, mas não demorou para mudar-se de Bom Jardim. Não aconteceram incursões de rapinagem  dos Mucker em nossa picada, mas se afirmássemos que não há adeptos, faltaríamos à verdade. Na verdade o medo e o pavor perante esses malfeitores, que assassinavam e incendiavam  em outras picadas, foi muito grande e por vezes muito próximo. Repetidas vezes  correu a notícia de que os Mucker pretendiam formar uma ramificação em Bom Jardim, mas sempre se mostrou infundada. Contudo nunca se deixou de adotar as medidas de segurança que a prudência exigia em tais circunstâncias. Durante a noite montava-se guarda em alguns pontos. O velho Johann Finger se encarregava de um posto destes lá em cima perto da igreja. Na hipótese de uma ameaça de ataque, reuniria a linha toda tocando o sino. Felizmente nunca foi notado algo de suspeito e a paróquia ficou livre de tal provação. Na verdade, porém, o alívio geral veio com a notícia de que os Mucker haviam sido vencidos, mortos ou aprisionados.
Um inimigo muito mais perigoso, a varíola, invadiu a região de Bom Jardim. Nenhuma vigilância contra ela se mostrou eficaz. Ainda hoje, quando se fala no assunto, um suspiro sai do peito daqueles que presenciaram a terrível epidemia. E com razão pois, foram tempos negros e tristes.
Não é possível precisar com exatidão quando a moléstia entrou. Com toda a probabilidade aconteceu assim. Uma das meninas do  professor Schütz, de nome Maria, que fora com o professor brasileiro (sua escola ficava perto da casa paroquial) adoeceu repentinamente. O velho professor não conhecia a doença e não deu muita importância, (66) Uma vez melhor, sentada na cama, recebeu a visita de outras crianças que levaram cana de açúcar. Em seguida adoeceram 12 crianças. Percebeu-se então que não se tratava de erupção inofensiva da pele, mas da letal varíola. Com as crianças o mal entrou em muitas famílias. a escola ficou fechada durante quatro ou cinco meses, mas o mal estava feito. Pelo fato de atribuir-se a culpa ao professor, não demorou que ele se transformasse em bode expiatório. Ninguém o recebia em casa, o que, sem dúvida causou uma grande amargura no bom homem. A varíola assumiu uma proporção assustadora. A feição da pequena cidade, a fileira de casas  lá embaixo  no Buraco do Diabo, perto da ponte em direção à Picada Café, mostrava um quadro de desolação. Todas as casas estavam trancadas, o que dava uma impressão sobremodo triste. Até os caminhos de entrada na picada foram trancados com árvores derrubadas e nenhum estranho, além de algum padre, ousava entrar no território tomado pela epidemia. Os laços familiares e de amizade pareciam rompidos. Os estragos da doença eram de tal ordem que incutiam medo. Muitas famílias perderam vários dos seus membros. O velho Cassel, por ex., perdeu três filhos, dois solteiros e um casado. Contudo, como costuma acontecer em tais situações, de um lado exagerava-se o medo e, do outro, cometia-se a maior insensatez. Ninguém além do Pe. vigário Steinhart pensou numa ação defensiva organizada, recorrendo a meios sensatos. Como pouco tempo antes fora fundada a Associação para Homens, o Pe. Steinhart dirigiu-se ao seu presidente, o sr. Herzer para movê-lo a adotar os meios necessários. Já que este nada fez, o vigário não perdeu tempo e tomou a causa para si. Viajou imediatamente até Porto Alegre para aconselhar-se com médicos experientes e, se fosse o caso, providenciar por medicamentos. O velho Dr.  Heinzelmann mostrou-se extremamente receptivo e insistiu muito que se partisse o mais rapidamente possível para a vacinação dos sãos. Mas quem em Bom Jardim se encarregaria da vacinação? Não havia médico nem outra pessoa  que entendesse da arte. Sem perder tempo o Pe. Steinhart aprendeu a vacinar com o Dr. Heinzelmann e depois ensinou outras pessoas. Como o procedimento não é dos mais difíceis aprendeu-o logo. Depois o Pe. Steinhart voltou à Picada Berghan, feliz por poder prestar um grande serviço a sua paróquia.
No começo só uma minoria quis ouvir falar em vacina. Achavam-na mais perigosa do que a proximidade dos doentes  de varíola. Acontece que antigamente já se aplicara a vacina e, na ocasião, o remédio se mostrara de efeito duvidoso. Evidentemente os procedimentos não foram de acordo com a orientação dos médicos. Injetara-se o pus de doentes adultos sob a pele de pesas sadias, o que resultou em que todos os vacinados contraíssem a varíola. Com a insistência do pároco e em vista dos evidentes resultados positivos ligados à vacinação e, como o contágio se tornou mais raro, veio, finalmente, a reviravolta na atitude doa população. As pessoas  desejosas de serem vacinadas afluíam  em tal número que o padre foi obrigado a pensar em entregar sua função de médico a auxiliares leigos. Entre estes Philipp Becker teve méritos especiais. Na mesma ocasião uma modesta moça  da Picada 48, Anna Maria Horn,  fez-se credora de muitos méritos. Como a varíola afetara sua família com virulência, ela adquirira uma certa familiaridade coma doença e seu tratamento. Além disto, pulsava em seu peito um coração magnânimo tomado de sentimento cristão em relação ao amor ao próximo. Entrava sem medo nas  moradias, onde os doentes de varíola jaziam normalmente sós e abandonados e lhes dava assistência. Com certeza ninguém se admira ao tomar conhecimento de que a moça entrou mais tarde no convento das (67)  franciscanas para dedicar toda a sua vida ao serviço dos doentes e a outras práticas de caridade cristã.
O vigário tomou para si o cuidado dos pobres doentes de varíola. Faz parte da missão do sacerdote católico, portar-se como o bom pastor da comunidade, de modo especial em ocasiões de perigo e necessidade. Não demorou e ele próprio  contraiu a doença, sem no começo dar-lhe muita importância. Finalmente a doença o prostrou e, durante quatro dias, sua vida estava a perigo. Mas não demorou, restabeleceu-se com a ajuda de Deus e ter condições de entregar-se outra vez com destemor à sua nobre missão. A melhor compreensão da sua sublime atuação nos dá o diário da paróquia, do qual destacamos literalmente a respectiva parte. Na sua singeleza produz uma forte impressão no leitor simples, ainda mais porque não foi redigido com a intenção de uma futura publicação:
No dia 15 de junto de 1874 espalhou-se  inesperadamente a notícia que a seita dos Mucker devastara o Leonerhof [1] com fogo e assassinatos. A notícia encheu de grande susto e pavor  a população inteira. As pessoas não quiseram mais  permanecer nas casas durante a noite e de dia andavam armadas.
26 de junho notícias ruins aumentam a consternação.
28 de junho. Poucas pessoas se fizeram presentes na missa. Orações públicas foram feitas  para que Deus afastasse tamanha desgraça. À tarde algumas pessoas vieram para a confissão. 
29 de junho. Hoje é a festa de São Pedro e São Paulo, mas o medo abafou o clima festivo.
Na mesma data lê-se a observação: Já no começo deste mês os fiéis  pediram a Deus para que os sacerdotes não lhes fossem tirados. [2] Os  bispos estavam sendo encarcerados e os sacerdotes hostilizados. Muitos vieram confessar-se e receber a comunhão e nas sextas-feiras organizaram devoções em favor desta causa. Enquanto a maioria dos colonos abandonava as casas, confiando em Deus, julgamos mais sensato permanecer em nossa moradia, sem descuidar das precauções indispensáveis. Johann Finger, nosso vizinho lá acima, caminhava para cá e para lá. na frente da sua casa.
1. de julho. Perdura a mesma situação.
18 de julho. Espalha-se o boato que alguns colonos contraíram varíola. Por não julgar a situação grave, dirigi-me até a Picada dos Portugueses para o meu retiro anual, enquanto o superior da Missão, P. Wilhelm Dörlemann substituía-me no posto.
28 de julho. Quando voltei fui informado de que a varíola irrompera na picada.
29 de julho . Sepultamento de uma criança de escola de nome Gölzer, vítima da varíola. De hoje em diante visito diariamente os doentes de varíola.
2 de agosto. Hoje à tarde (domingo) veio a notícia de que os Mucker foram derrotados e fugiram.
6 de agosto. Viajo até Dois Irmãos e na ida e na volta visito os doentes de varíola.
8 de agosto. Assisto aos doentes ministrando-lhes os santos sacramentos.
8 de agosto. (domingo). À tarde dirijo-me até o Bohnenthal para ministrar os Santos Sacramentos aos enfermos.  Só tarde volto para casa.
10 de agosto. Fico com os enfermos enquanto mando o irmão leigo até a Picada dos Portugueses, com a finalidade de colher conselhos respectivos à epidemia com o P. Blees, um homem muito experimentado.
12 de agosto. Durante a noite eu próprio fui acometido pela doença. Apesar disto atendo o chamamento do Bohnenthal para socorrer o enfermo Jacob Kehl.
De manhã dia 10 coube-me  o sepultamento da esposa de Heinrich Schmitt, nascida Wolfart. Quase não consegui terminar a missa. Depois da Santa Missa chegou o P. Blees e, imediatamente, despachamos um mensageiro a São Leopoldo, para trazer um substituto para mim.
13 de agosto. Apesar de doente vejo-me forçado a realizar um sepultamento. À tarde apresentou-se o P. Joseph Haag, qual anjo mandado do céu.
15 de agosto. Foi Celebrada uma missa em ação de graças pelo término da guerra dos Mucker, mas só poucas pessoas apareceram.
16 de agosto. Encontro-me  novamente em condições  de rezar a Santa Missa. O P. Joseph administra os Santos Sacramentos no Bohnenthal. Quase todos os dias ocorre um enterro.
21 de agosto. Carl Sänger chama-me para o  Bohnenthal. O jovem casal Jacob Link e Carolina Sänger, os dois acometidos pela mesma doença, faleceram no mesmo momento. Depois de atender a mulher, dirigi-me ao homem doente, o qual não parecia correr perigo, mas no mesmo instante ele faleceu.
22 de agosto. Enterro no  Bohnenthal.
23 de agosto. O pavor diante da epidemia é tão grande que as pessoas ficam longe até da igreja e fogem o mais longe possível das casas dos contaminados. Só poucos participam dos enterros.
27 de agosto. À tarde viajo a Porto Alegre para informar-me junto aos médicos sobre remédios contra a doença. Pergunto sobre vacinação e informo-os sobre a resistência dos colonos a ela. Com muita simpatia o Dr. Heinzelmann ensinou-me os procedimentos da vacinação e presenteou-me com alguns livros úteis sobre medicamentos.
29 de agosto. Sepultamento de Johannes Dilly Ur. Depois explico às pessoas a utilidade da vacinação e exorto-os a seguir as determinações dos médicos.
30 de  agosto. Philipp Becker começa com a vacinação partindo da nossa casa. Eu o instruíra bem no assunto.
1. de setembro. Philipp Becker leva adiante a vacinação e aos poucos os preconceitos desaparecem.
Parece ser de grande utilidade para muitos, pois enquanto antes todos contraíam a doença quando um dos membros da família era contaminado, isso agora já não acontecia. Pelo menos os vacinados resistiam por mais tempo à doença e esta já não se mostrava tão virulenta.
2 de setembro. Ontem passou por aqui o  professor Marschall da Holanda para aprender a vacinar. Ocorreu também o enterro de Mathias Kunzler, casado há pouco tempo e para hoje está marcado o do jovem Johannes Sewald.
8 de setembro. Realiza-se uma procissão para implorar  a Divina Misericórdia. Os moradores do Bohnenthal chegaram antes da missa. Depois da missa os bomjardinenses os acompanharam até a ponte  do Buraco do Diabo. A partir deste dia cresceu novamente o número de freqüentadores da igreja.
13 de setembro. Começou um movimento contra o professor Schütz. Algumas pessoas mal intencionadas espalharam o boato de que ele, devido à sua imprudência, era o responsável pela disseminação da varíola. Esclareci tudo no sermão e as pessoas se acalmaram.
19 de setembro. O número de doentes diminui significativamente.
25 de setembro. Sou chamado para atender a uma senhora protestante, para verificar se ela talvez contraíra varíola, porque os médicos diziam que não, mas não se confiava no seu diagnóstico.
26 de setembro. Abaixo de forte chuva sou chamado para assistir a uma moça doente. Só ouvi sua confissão por não julgá-la tão doente. Ela contudo faleceu inesperadamente. Trata-se de Catarina Sewald. Seu enterro será amanhã.
Até aqui o diário com seus registros curtos mas comoventes.
Se os esforços do padre foram grandes no exercício da caridade corporal, o católico deve valorizar ainda mais o que ele realizou em defesa da fé  por ocasião do dogma da infalibilidade e da guerra Mucker. A nuvem de poeira que a questão da infalibilidade do papa levantou na Alemanha, atravessou o  oceano e chegou a baixar sobre a mata virgem, como um denso nevoeiro. Também em Bom Jardim algumas cabeças desorientaram-se, porque imaginavam a infalibilidade como algo perigoso. Mas o vigilante pároco abriu a tempo os olhos dos fiéis de lá. Nos seus sermões voltava sempre de novo ao dogma, explicando-o sob todos os seus aspectos. Mostrou que por meio dele o papa não estava sendo transformado num ser sem pecado ou numa espécie de  deus na terra, mas exatamente como aconteceu com os apóstolos, assistido pelo Espírito Santo, seria preservado de qualquer erro referente à doutrina. No começo as explicações não deram muita clareza e ocasionaram não poucas discussões.
Contaram-me como, de modo especial dois membros da comunidade, Jacob Finger e Johannes Dilly, se encontraram na sombra junto a uma fonte no potreiro do Schneck e, repassaram até altas horas da noite, o que tinham escutado no sermão. Na ocasião um dos teólogos leigos esqueceu o guarda-chuva novo em folha, no local da discussão. Ao procurá-lo logo em seguida ele tinha evaporado. Um outro ficou com a cabeça confusa, provavelmente como conseqüência das muitas  reflexões, um aviso para que os católicos aceitem  docilmente os ensinamentos da fé, em vez de cismar sobre eles. Como se tratava de um homem de excepcional piedade, não nos cabe evidentemente culpá-lo por sua desgraça.
Bom Jardim, como a região da mata virgem inteira, permaneceu fiel à Igreja e sua fé tornou-se mais sólida, como se pode avaliar pela festa do papa que se seguiu. O P. Steinhart portou-se com a mesma vigilância  em relação ao movimento Mucker. Repetia o alerta de manter-se afastado  dos encontros da seita, porque a simples curiosidade nestas coisas pode levar à ruína. Seguido  chamava a atenção para o evangelho de Mateus 24-23 onde se fala dos falsos profetas: "Quando então alguém vos diz: Cristo está aqui ou acolá, não lhe deis crédito. Pois apresentar-se-ão falsos cristos e falsos profetas e operarão grandes feitos e grandes milagres, ao ponto de os escolhidos serem induzidos ao erro, se isto fosse possível. Eu já vos disse antes. Mesmo que vos digam. Reparem ele está no deserto, não ide procurar; reparem ele se encontra dentro de casa, não acrediteis." Nesta passagem os acontecimentos do Ferrabraz estão colocados com surpreendente clareza, porque a pessoa que lá se apresentou como Cristo  de fato apareceu em recintos  domésticos diante dos seus seguidores. Onde se encontra a carniça aí se reúnem as águias. isto é, os gaviões e os abutres. Os católicos foram preservados desta aberração por seu destemido cura de almas. Mesmo entre os de outra confissão, como já foi relatado mais acima, apenas dois atenderam ao aliciamento. (70) Um terceiro que mais observara do que aceitara a doutrina da seita, não demorou em afastar-se. A atitude dos "cristos" acima citados o teriam levado a esta decisão.  A defecção poderia ter-lhe custado caro, pois os sectários o teriam morto se o muckerismo como um todo não se tivesse afogado no próprio sangue, com a intervenção da força pública.
Faz parte do ofício do cronista cristão, a partir dos acontecimentos narrados, elevar de vez em quando os olhos a Deus, a fim de meditar  sobre eles à luz da Fé. Queremos fazê-lo também em relação   ao escândalo dos Mucker e da epidemia da varíola. Perguntamos em primeiro lugar o que nos cabe pensar como católicos sobre o muckerismo. Conforme o apóstolo (1Cor. 11,11) é necessário que ocorram aberrações religiosas, para que os cristãos sejam postos à prova, isto é, é altamente provável que devido à fraqueza, ao orgulho, à inconstância,  à sede de novidades do homem,  ocorram divisões e doutrinas errôneas.
Deus permite tais coisas para confirmar  os fiéis na verdadeira fé e na sua fidelidade à Igreja. E foi o efeito que  aquelas perturbações religiosas produziram sobre os fiéis de Bom Jardim e, assim, de fato do mal resultou o bem.
Como qualquer outra provação a epidemia da varíola teve o efeito de chamar a atenção dos fiéis sobre Deus e a eternidade. As mortes não esperadas e as incertezas da vida, constituem-se num poderoso alerta para afastar-se  do caminho do pecado e praticar o bem. Para a prática do bem são exatamente os tempos de perigo para a vida corporal, que oferecem em abundância, as mais belas ocasiões. Essa prova foi também de grande utilidade para Bom Jardim e, por isso mesmo, é preciso reconhecer com gratidão neste flagelo a mão da providência divina, visando em primeiro lugar a salvação da alma.




[1] Hoje Sapiranga
[2] Referência à Questão Religiosa na qual os bispos de Olinda e Maranhão foram presos e tramitava um projeto de lei na Assembléia Nacional visando a expulsão dos jesuítas do Brasil.

This entry was posted on segunda-feira, 30 de maio de 2016. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.