O método sintético-dedutivo
A
via da caminhada sintético-dedutiva,
começada pelos filósofos gregos mais antigos, foi definitivamente consolidada
por Aristóteles. Sua obra traduzida para o árabe recebeu mais tarde sua versão
latina. Os escritos de Platão não tiveram a mesma sorte. Por isso mesmo não
foram tão conhecidos na Idade Média. De outra parte a obra de Aristóteles ofereceu aos pensadores do Medioevo uma
verdadeira enciclopédia do saber elaborado até aquela altura da história. Nela
o Estagirita discorreu sobre todos os campos do saber, menos a medicina e a matemática. Demorou-se na metafísica, na
física, astronomia, ciências naturais, fisiologia, ética, estética e política.
Explorou sobretudo o potencial da lógica. A lógica funciona para Aristóteles como
eixo polarizador, como “Leitmotiv”, como norteadora transdisciplinar de todo o
seu pensamento. O Pe. Alfonso Borrero resumiu assim a importância de
Aristóteles na Alta Idade Media.
A lógica de Aristóteles funcionava em todo o
momento como “disciplina diagonal”, ou nexo de articulação nos currículos da
Idade Media. Não é então de se admirar
que para a segunda Idade Média, dominada por essa massa de saber coerente e
deslumbrada por uma inteligência fora do comum, que Aristóteles se convertesse
no representante da verdade e ideal de perfeição humana. Encarnava o príncipe
dos que sabem, o poder do saber encarnado, a garantia para os que ensinam.
Aristóteles ensinava e era ensinado; era objeto de discussão e comentários. Era
explicado e seus conceitos eram trabalhados, como aconteceu na obra de Tomas de
Aquino. (ASCUN. Borrero. Nº 20, p. 19)
E
de maneira concisa e clara o Pe. Borrero resumiu em poucas linhas, o que
Aristóteles significou para a construção do conhecimento, em primeiro lugar na
Idade Media e na primeira geração de universidades.
Foi por essa via, pela lógica como
referência, para a construção do conhecimento, que Aristóteles entrou nas
escolas e universidades. O seu saber dirige-se para as mentes sedentas do saber. Na percepção dos medievais
Aristóteles era, antes de mais nada, ciência. Antes mesmo de ser filosofia,
reveste-se de valor próprio como “saber científico”, e não como uma relação ou
parentesco com alguma atitude religiosa que a impõe. Pelo contrário, o
Aristotelismo parece em princípio incompatível com a postura religiosa, tanto
do cristão quanto do maometano. Entre outras doutrinas aquelas que ensinam a
eternidade do mundo, são abertamente contrárias às verdades da religião
revelada, incluindo com isso um Deus Criador. Por essas razões Aristóteles foi
condenado pelas autoridades responsáveis pela ortodoxia religiosa. Os filósofos
da Idade Média trataram então de repensar o Estagirita e torná-lo compatível
com a doutrina cristã e seus dogmas religiosos. Esse esforço alcançou o triunfo
maior com Santo Tomas de Aquino. Ele, por assim dizer, cristianizou Aristóteles
e fez dele a base do ensino ocidental. O aristotelismo converteu-se no
“itinerarium mentis in Deo” – o caminho da investigação que leva a mente até
Deus, objetivo maior da universidade da Idade Média. É o “Deus-Pensamento” de
Aristóteles ao lado do “Deus-Bem” de Platão e o “Deus Uno” de Plotino”. (ASCUN,
20, p.19)
A
universidade medieval fundamentava a consistência da produção do conhecimento
na sabedoria dos antigos, compendiadas nas famosas “Sumas” ou “Sínteses”. A maneira de apresentar as questões seguia o
mesmo padrão e orientava-se pelo mesmo método e guiava-se pela mesma lógica na condição de “trandisciplina”.
No
contexto da presente reflexão sobre a construção do conhecimento, cabe um
aprofundamento maior do “aristotelismo cristianizado” por Tomas de Aquino. O
importante está no fato de que a lógica como “transdisciplina” polarizou todo o
esforço na produção do conhecimento. O fato de o “aristotelismo cristianizado”
polarizar todo o esforço intelectual valendo-se da lógica como
“transdisciplina”, resultou no “Deus-Pensamento”. Chega-se assim à conclusão de
que tanto o “Deus-Pensamento” do aristotelismo cristianizado, quanto o
“Deus-Bem” de Platão e o “Deus Uno” de Plotino, representa o centro das
reflexões dos filósofos, que buscam a raiz do pensamento num fundamento pré-existente. Em outras
palavras. Uma síntese prévia fornece os elementos a partir dos quais se deduz a
natureza e a razão de ser das muitas maneiras de se tornar visível e palpável.
Em outras palavras ainda. Parte-se da unidade para explicar a pluralidade. Ou
ainda. Entende-se o plural pelo uno.