Os jesuítas e a imigração alemã O projeto educacional - O professor comunitário #4

Ao se analisar a história da formação das comunidades coloniais no sul do Brasil, duas foram as lideranças que garantiram de fato que essa empreitada fosse levada a bom termo: os padres, com destaque para os jesuítas e os professores  das escoas comunitárias. Cronologicamente, encontramos o professor  bem antes do padre, regendo as escolas de emergência das duas primeiras décadas, liderando a organização comunal e cuidando, na medida do possível, da formação e prática religiosa. Sua tarefa não se esgotava com o ensinamento das primeiras letras. Sua missão extrapolava as quatro paredes de uma escola. Cabia-lhe a tarefa de assumir as iniciativas da comunidade,  conduzi-las e garantir-lhes o sucesso. Liderava as atividades que diziam respeito à religião, à escola, à educação, às iniciativas de natureza social, cultural e econômica. A presença inconfundível, ímpar, indispensável, marcou indelevelmente o perfil das comunidades teuto-brasileiras até o final da década de 1930. A comunidade podia dispensar perfeitamente a presença permanente de um sacerdote. Batava, a rigor, uma ou outra visita por ano a fim de regularizar a situação sacramental dos fiéis. O professor, entretanto, tinha que estar sempre a postos. Sua presença, seus conselhos, suas opiniões, enfim, sua liderança, eram insubstituíveis. Fazia o papel de mediador e árbitro nas disputas, de conselheiro nas dúvidas, de modelo de virtudes, de orientador e guia. Resumindo, cabia-lhe o papel de referencia para tudo que pudesse ocorrer no dia-dia da comunidade. Sobre o professor, o prof. Lúcio Kreutz escreveu na sua tese de doutorado: “O professor paroquial é personagem típico da zona de colonização teuto-brasileira no sul do Brasil. Ele é frito da iniciativa dos imigrantes alemães e seus descendentes na tentativa de estabelecerem-se econômica e culturalmente nas colônias que lhes eram destinadas.  (...) As funções do  professor paroquial junto à comunidades rurais católicas dos teuto-brasileiros do Rio Grande do Sul, eram muito mais amplas do que as meramente docentes e restritas à escola. Ele foi um elemento de unificação, um agente de síntese e promoção das perceoções do grupo humano no qual se inseria ativamente, seja no campo social, político, religioso e cultural”. (Kreutz, Lucio, 1985, p. 2).
O prof. Rudi Schaefer sintetiza na mesma linha o perfil do professor no já citado Manual Didático-Pedagógico:  “O professor, portanto, como regente da escola é auxiliar da família, da Igreja e do Estado. Daí decorre, logicamente, o ato que o professor cumpra com fidelidade os deveres inerentes à função, para que, quando for hora, esteja em condições de prestar contas, de sua gestão com toda a tranquilidade. O exercício adequado da sua função exige do professor uma considerável preparação corporal, espiritual e moral. O professor necessita de um corpo sadio sobretudo para enfrentar  os esforços exigidos para a suam missão. São principalmente a visão, a audição e o aparelho fonador que precisam corresponder à profissão.     Que o professor esteja de posses dos conhecimentos necessários óbvio. Quem não domina suficientemente os conhecimentos não  estará em condições de transmiti-los. A tudo isso é preciso aliar a capacidade didático-pedagógica, sem a qual de nada adianta o mais rico cabedal de conhecimentos. Em parte trata-se de um dom natural. Pode, contudo, ser adquirido a um nível satisfatório, mediante o esforço e a dedicação.   -   O professor precisa, acima de tudo, ficar atento, que a educação se fundamenta especialmente no exemplo. Por  isso não pode dispensar uma sólida formação moral, não apenas na escola, mas deverá ser um modelo na vida pública e na família.   -   A virtude maior do professor é o amor às crianças que lhe são confiadas. É o sol que fecunda toda uma ação educadora.   -   Para garantir a satisfação do professor em sua atividade repleta de bênção, mas discreta e trabalhosa, são indispensáveis a satisfação e a ausência de ambições exageradas.   -   Não se proíbem ao professor, como a qualquer outra pessoa, as diversões permitidas em sociedade. Quando os encontros sociais se mantém no nível do encontro de pessoas de espírito nobre, promovendo conversas também de nível, só podem trazer bênção. O bom humor e alegria sentem-se aí em casa.   -   A formação profissional, tão importante, requer uma esmerada  formação profissional. Os tempos em que se encarregava do lecionar qualquer desocupado que dominasse alguns conhecimentos, estão superados. Exige-se que o futuro professor adquira um conhecimento aprofundado em todas as disciplinas constantes no currículo da escola. É preciso que saiba mais e com maior profundidade do que aquilo que deve ensinar aos alunos. Quem não souber mais do que vai ensinar aos alunos,  não será capaz de apresentá-lo com profundidade.   -   O professor não pode dispensar de um aperfeiçoamento contínuo, ampliando e aprofundando os conhecimentos. Para tanto o professor deve preocupar-se com o que vai ensinar; ler o maior número possível livros, periódicos e outros tipos de publicação; manter relacionamento com pessoas instruídas e cultas; participar de reuniões e assembleias de professores.(cf. Schaefer, 1924, p. 7-9).

O professor paroquial, prefiro chamá-lo professor comunitário, portanto, incarnava a liderança por excelência da comunidade em que atuava. As demais, como os sacerdotes, os negociantes, as associações, os líderes espontâneos, ocupavam, em relação ao professor, uma posição de segunda instância. Essa posição ímpar, exigia do professor uma habilitaçãoo peculiar e complexa. Será assunto da postagem seguinte.


                                  Nova escola (Século XX)                             Velha escola (Século XIX)






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