Na Sombra do Carvalho


O Pe. Balduino Rambo definiu numa só frase a relação existencial do homem com o chão em que vive: “O homem filho desta terra, que lhe fornece o pão de cada dia e os símbolos da sua vida espiritual, sente um respeito inato perante a fisionomia desta sua mãe e pátria”. Sem tomar em consideração as circunstâncias físicas e geográficas, é impossível entender as histórias dos povos e a gênese das suas identidades étnicas. Na reflexão a que damos o título “Na sombra do Carvalho”, tentamos mostrar como essa afirmação encontra a sua confirmação na tradição cultural vivida pelos imigrantes alemães e seus descendentes do no sul do Brasil. Desde a remota pré-História os povos germânicos dos quais descendem os “alemães” vindos para o Brasil, viveram e consolidaram suas tradições em meio as florestas que cobriam a Europa central e do norte. E pela sua imponência, seus troncos milenares, suas raízes sólidas encravadas no chão, tornou-se o símbolo da história e da solidez do caráter étnico dos povos daquelas paragens, tão admirados por Tácito. Na sombra de carvalhos celebravam-se armistícios, decidiam-se guerras, celebravam-se as efemérides importantes das comunidades germânicas. A derrubada do carvalho sagrado por São Bonifácio convenceu os germanos de que o Deus dos cristãos era mais poderoso do que Thor, e em massa, converteram-se ao cristianismo.
Valendo-nos da metáfora da “Sombra do Carvalho” estendendo-se, primeiro sobre vastas regiões da Europa, acompanhamos seu avanço sobre países em outros continentes, também sobre o Brasil, a partir do sul. Onde quer que a “sombra do Carvalho” se faz pressente, estão presentes também as características do “rebento do carvalho”, transplantado para o Brasil: O amor à natureza e à querência natal – a Heimat; a paixão pela floresta virgem como cenário de múltiplos simbolismos; a família como núcleo da comunidade e esta como base da sociedade mais ampla; o papel da mulher na sociedade germânica; a lealdade aos chefes; o fascínio pelas personalidades fortes; a retidão de caráter; a religiosidade.


A matéria foi publicada como capítulo do livro comemorativo dos 180 anos da Imigração Alemã: “Às Sombras do Carvalho”, organizado pelo prof. Antônio Sidekum. Editora Nova Harmonia, São Leopoldo, 2004.


This entry was posted on quarta-feira, 9 de julho de 2014. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.